Confesso que, devido à exiguidade de tempo, não me foi possível redigir um texto para a homilia desta solene Celebração Eucarística.
E pedi ao Espírito Santo para, neste momento, me iluminar e inspirar palavras que, por d’Ele provir, certamente contribuirão para edificar esta numerosa assembleia que louva, se enche de júbilo e, hoje mais do que nunca, sente-se intimamente ligada a toda a Igreja e especialmente vinculada a quem a conduz, fazendo as vezes de Pedro: o Papa Bento XVI.
Não é preciso dizer quanto admiramos, veneramos e respeitamos o Sucessor de Pedro.
E com ele, evidentemente, todos quantos participam dessa tão bela missão: os Bispos, os presbíteros, os diáconos e, de algum modo, todo o povo de Deus que se deixa conduzir pelo Bom Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se apresenta visivelmente a nós na figura do Papa, com os Bispos, nos causando alegria e nos proporcionando muita segurança.
Firmeza e convicção de Pedro
Essa segurança podemos já notá-la em Pedro no trecho dos Atos dos Apóstolos, cuja leitura acabamos de ouvir (At 4, 1-14).
Nele, o autor do discurso deixa transparecer sua clareza, firmeza e convicção ao falar de Jesus Ressuscitado:
Ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré, o qual vós crucificastes, mas Deus ressuscitou dos mortos, que este homem está curado diante de vós.
O Pai ressuscitara Aquele que o Sinédrio fizera morrer, e a presença do ex-paralítico inteiramente curado, ao lado de Pedro e João era prova de que Deus agia por meio do Nazareno.
Perante a eloquência de Pedro, e diante do fato inconteste, os saduceus, mestres e doutores só podiam tomar uma atitude: ficarem admirados e calarem.
Com efeito, o que acabara de acontecer era obra do Ressuscitado, do qual Pedro e João, desde há muito, eram servidores. Servidores e também discípulos, que aprenderam o Evangelho vivo na escola de Jesus, Palavra viva do Pai.
Somos chamados a dar o testemunho dos Apóstolos
Meus irmãos, minhas irmãs, olhamos hoje para a Igreja de Jesus, nascida do seu Coração, instituída por Ele, e como membros desta Igreja – cada qual segundo a sua condição, cada qual segundo o serviço a ele confiado pelo Espírito – somos chamados a dar o mesmo testemunho de Pedro e de João para todos quantos tenham contato conosco.
E o nosso testemunho precisa ser dado, talvez, ainda com maior firmeza e convicção do que em outros tempos, porque hoje chegamos ao ponto de não ser reconhecida a presença de Deus, sua ação e o projeto de vida e salvação que Ele tem para toda a humanidade.
E é precisamente esta a preocupação de Pedro – hoje Bento XVI. E é exatamente isso que o levou a convocar o próximo Sínodo dos Bispos, a realizar-se em Roma no mês de outubro, com representantes de toda a Igreja.
Ele deseja ouvir, acolher e relembrar ao mundo com esta assembleia a importância de viver e construir sob a égide da Palavra de Deus.
É o Papa, sucessor de Pedro, rezando e se perguntando sobre como repropor o amor de Deus, a sua palavra, a sua misericórdia, a sua presença, a sua bondade para os homens do nosso tempo.
Convicção e ardor no sucessor de Pedro
Ouvimos na segunda leitura (II Tim 4, 1-5) que haveria um tempo no qual muitos homens e mulheres não suportariam a sã doutrina. E ficariam atordoados, inquietos, ao ouvir ensinamentos que, após atiçarem os seus ouvidos, desviariam seus corações.
Como apresentar, então, a proposta amorosa de Deus para uma humanidade que, na sua grande maioria, vai se organizando e vivendo como se Ele não existisse?
Evangelizar, anunciar Jesus Cristo como vimos fazer a Pedro e João na leitura dos Atos dos Apóstolos de hoje, eis o grande desafio para a nossa Igreja.
Por isso, queremos olhar com carinho para o Papa Bento XVI e pedir as luzes do Espírito Santo para ele ter a mesma firmeza, docilidade, convicção e ardor manifestados por Pedro na primeira leitura, em tempos tão diferentes.
Ninguém duvida ou fica indiferente, nem na Igreja nem fora dela, diante do que diz o sábio e santo Bento XVI. Com efeito, o Papa tem sabedoria e santidade.
Sabe manter-se sereno e tranquilo e tem uma espiritualidade invejável. Ele é um homem ao qual nunca falta uma palavra certa e oportuna para edificar não só a Igreja Católica, mas o mundo inteiro.
A porta por onde devem entrar todas as ovelhas
Como Pedro, João, e os demais Apóstolos e discípulos ao longo da História da Igreja, hoje também o Papa, os Bispos, os sacerdotes e os líderes das comunidades encontram dificuldades e rejeições.
Onde buscar a força para enfrentá-las? Onde procurar uma referência inabalável? Como fazer esse caminho com a mesma intensidade e alegria, em meio aos mesmos desafios daqueles que vieram antes de nós?
A resposta está no Evangelho de hoje (Jo 21, 15-17): “Simão, filho de João, tu me amas?”.
Esta pergunta não foi repetida três vezes por acaso. Não queremos aqui apenas dizer que as três afirmações de Pedro – “Sim, Senhor, Tu sabes que eu Te amo” – visavam compensar suas três negações. Não.
Ao perguntar-lhe três vezes se O amava, Jesus queria saber de Pedro, com certeza, para além de toda reflexão, se ele O amava incondicionalmente e estava disposto, como Ele, a entregar a sua vida.
Na continuação do trecho do Evangelho desta Missa, diz o Mestre ao seu Apóstolo: “Quando eras mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres” (Jo 21, 18).
E nós sabemos qual foi o fim de Pedro. Foi a cruz. Mas, respondendo pela terceira vez, ele reafirma: “Senhor, Tu sabes tudo; sabes que eu Te amo”.
Este é o segredo: “Eu O amo. O senhor sabe que eu O amo. Conhece minhas fraquezas, conhece meus limites, conhece meu temperamento colérico, já conhece os meus rompantes – para usar uma linguagem comum –, mas o Senhor sabe, eu O amo”.
E Jesus também reafirma: “Apascenta as minhas ovelhas!”. Quer dizer, “então você vai ser para o povo, com o povo, junto do povo, minhas ovelhas, aquilo que Eu fui: pastor e porta. Por você todas deverão entrar; e ao entrar deverão sentir alegria, deverão sentir segurança, deverão sentir proteção”.
Hoje, como sempre, a Igreja enfrenta perseguições
É isso que Pedro tem feito ao longo de quase dois mil anos. É isso que, nós, os Bispos, os presbíteros, as lideranças da Igreja temos procurado fazer.
Na nossa fragilidade ou na nossa grandeza, com nossas possibilidades e limites, mas sempre auxiliados pela graça, temos procurado ser a presença desse Pastor, a porta pela qual todos devem entrar e, ao mesmo tempo, os guias, junto com Ele, da humanidade inteira.
E devemos, penso eu, nos envolvermos nesse dinamismo sempre mais.
A Igreja enfrenta perseguições. Ela enfrenta uma campanha subliminar, muitos querem calar sua voz. Basta ver os meios de comunicação.
A Igreja enfrenta oposições porque, felizmente, ainda está incomodando certas pessoas. Isso significa que ela está fazendo justamente aquilo que Jesus, Pedro e os Apóstolos fizeram, e que hoje procuramos imitar.
Não por iniciativa ou mérito pessoal nosso, mas pela graça de Deus e pela ação do seu Espírito.
Queremos trabalhar para a Igreja, servi-la e sermos cristãos convictos. Precisamos ser cristãos convictos porque o mundo está sedento do nosso testemunho, de uma palavra que edifica e permanece, que toca e transforma os corações.
Uma palavra, em suma, que provenha de Deus e da sua Igreja, e não da última moda ou do último noticiário.
Que beleza a nossa Igreja! A Igreja mesma de Jesus. Por isso, não tenhamos medo. Vamos anunciar com palavras e com o nosso testemunho o Evangelho. Quem vai trabalhar o coração das pessoas para ele abrir-se a este anúncio é o Espírito Santo.
A nós cabe proclamar o Ressuscitado com fé, sabedoria e alegria, procurando convencer os nossos ouvintes daquilo que falamos.
Convencendo-os de que Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. Ele jamais passará, e esta mesma vida que hoje temos n’Ele, será vida eterna com Ele.
A Santíssima Virgem Maria cuida de nós
Chego ao final desta homilia lembrando que a Virgem Maria – a querida, bendita e santa Mãe de Deus – nos acompanha hoje como ontem acompanhou a Igreja nascente.
Lá de Belém, onde era discípula primeira e modelar, Ela foi com Jesus até Jerusalém, e mais tarde recebeu com os Apóstolos o Espírito Santo no Cenáculo. Narra o Evangelho que, enquanto seu Divino Filho morria, Ela estava de pé junto à Cruz.
Ali, Ela nos foi dada por Mãe, e por isso Ela está aqui no meio de nós. E nem é preciso lembrar o amor, o carinho do povo para com a Mãe de Jesus.
Ainda hoje de manhã eu ouvia a voz de um artista que teve a alegria de cantar para o Papa, quando ele esteve no Brasil, aquele bonito hino que encantou o Brasil e o mundo: “Nossa Senhora, me dê a mão, cuida do meu coração, da minha vida…”.
Pois é, Nossa Senhora está aqui. Ela cuida dos Apóstolos, cuida da Igreja como a mãe cuida da casa e da família.
Nossa Senhora vela para não nos desviarmos do caminho do seu Filho, porque Ela só tem um desejo: que atendamos os pedidos que Jesus faz a cada um.
Um lugar onde se sinta a presença d’Ele e d’Ela
E agora – por uma concessão de Pedro, hoje Bento – esta magnífica igreja que hoje nos abriga, na sua beleza arquitetônica, na sua arte e na sua história, passa a ser Basílica Menor. Isto significa que temos, a partir de agora, uma responsabilidade maior.
O Papa Bento concedeu-nos este dom. Nós o agradecemos e sentimo-nos na obrigação de valorizá-lo exaltando ainda mais a Mãe de Deus e fazendo com que este magnífico templo seja um lugar onde, de modo muito particular, se sinta a presença d’Ela e d’Ele.
Porque não podemos compreender a Mãe de Jesus sem seu Filho Divino, nem Jesus sem sua Mãe, que Ele nos deu por Mãe nossa.
O Concílio Vaticano II, no capítulo oitavo da Constituição Apostólica Lumen gentium, deixa bem claro como a Igreja entende a presença e a mediação da Virgem Maria.
Pelo breve apostólico que foi lido no início da Missa, já estamos dentro de uma Basílica. Que beleza!
Tendo sido o pedido do Bispo aceito pelo Papa nós estamos aqui, dentro de um templo ainda mais intimamente vinculado com o Sucessor de Pedro, para a maior glória de Deus.
As orações e pedidos de todos quantos vierem aqui participar da Eucaristia, ou fazer a experiência da misericórdia divina através do Sacramento da Confissão, elevar-se-ão ainda com maior ardor, intensidade, alegria e gratidão, por subirem ao Céu de dentro de uma Basílica.
Sejamos, pois, cristãos convictos como Pedro, João e Timóteo, que aparece na segunda leitura.
Unidos com os pastores da Igreja de ontem, hoje e sempre, procuremos representar por meio de nossa vida e testemunho, a mensagem amorosa, santificadora e libertadora do nosso Deus.
Não há com certeza – e isso já deixou muitas vezes bem claro o Papa Bento XVI desde o início do seu ministério – outro modo de a humanidade salvar-se, viver a sua vocação, ser mais justa, fraterna, e mais conforme o projeto de Deus, se não for a partir d’Ele, que é amor.
Este amor que, levado às últimas consequências em Jesus Crucificado e Ressuscitado, permanece para sempre no Espírito Santo com a Virgem Maria, abrindo para nós caminhos para podermos igualmente testemunhar. Amém.