Numa bela manhã de verão, passadas as fortes chuvas da primavera, o senhor Francisco começava mais um dia da sua rotineira vida de lavrador, no reino do Vale das Águas Claras.

Com seus trajes rústicos, caminhava ele apressadamente em direção à sua lavoura, para dar início à colheita daquele ano. Dentro de poucos dias começaria a grande feira, onde ele pretendia levar seus melhores frutos.

O modesto camponês, apesar de sua idade avançada, ainda se mantinha bem disposto, e percorria alegre e decidido todos os canteiros e arvoredos de seu imenso “campo expressivo” – assim costumava chamar sua plantação, devido a multiplicidade de cores –, colhendo os frutos das árvores, várias delas já bem antigas, e das quais ele cuidava com especial esmero.

Naquele dia, decidiu examinar algumas macieiras que ficavam num lugar de difícil acesso.

Lá chegando, teve uma agradável surpresa: aquelas árvores haviam produzido maçãs de incomparável cor e beleza. Na verdade, em tantos anos de trabalho, nunca vira nada igual.

Maduras e reluzentes, eram de coloração quase escarlate e exalavam um delicado aroma. Ao vê-las, pensou: 

São dignas de um rei!

Então se recordou de seu soberano, que há tempos lhe dera aquele grande campo, e resolveu entregar-lhe as magníficas maçãs como presente.

Apanhou as melhores com suas mãos calejadas, e usou uma modesta flanela para limpá-las. Em seguida, colocou-as em um saquinho, acomodando-as sobre um pouco de capim que servia de forro à cesta.

De volta à sua casa, armazenou o restante da colheita que havia feito com vistas à próxima feira e, após ajeitar-se como pôde, pôs-se à caminho do palácio real, levando em seu ombro um rude saquinho com as maçãs para o rei.

Ao chegar às portas da fortaleza, deparou com os dois altos e espadaúdos soldados que guardavam o grande portão principal. Voltando-se para um deles, disse:

Com licença, eu gostaria de falar com o rei!

Vendo o lastimoso estado daquele pobre camponês, respondeu-lhe o guarda em tom de desdém:

O que queres com o rei? Marca tua audiência. E… vem vestido de forma mais digna!

— Poderia, então, falar com o ministro?

Quem pensas que és?! O que queres afinal?

Eu queria entregar um presente ao rei.

Ah! É isso? disse com desprezo o outro guarda – Deixa aí na porta… Depois o cocheiro pega.

O camponês hesitou e se afastou desapontado.

De súbito, apareceu sobre as ameias, um terceiro guarda, e deu um belo toque de clarim. Lentamente, foi baixada a pesada ponte levadiça, enquanto uma elegante carruagem se aproximava. Era a rainha que chegava!

Quando estava já próxima ao portão do palácio, o velho camponês teve uma ideia. Aproveitando a distração dos guardas, lançou-se em frente do coche e fez um gesto meio tosco para saudar a soberana. Ela deu ordem de parar e perguntou delicadamente ao pobre homem:

Meu filho, desejas algo? 

Maravilhado com o afeto da rainha, senhor Francisco não sabia nem como dirigir-lhe a palavra. Ao ver os trajes da soberana, ficou extasiado com tão belos e coloridos ornatos. Perto deles, a coloração de suas maçãs até lhe parecia meio opaca! Mas, animado pela bondade da rainha, levantou seu pobre saquinho, e disse:

Eu queria… dar essas maçãs para o rei. São as melhores de minha colheita!

Pois não, fica sossegado. Eu mesma as entregarei.

Então, o camponês sacudiu um pouco seu saquinho, para tirar a poeira da estrada, e o entregou à rainha, que perguntou:

Diga-me, qual é o teu nome?

— Ah, sim. Sou Francisco e moro no Campo Novo, quase vizinho ao palácio.

A rainha fez um discreto aceno para que uma das camareiras tomasse nota, e disse:

Olha, entregarei tuas maçãs com muito gosto. E saiba que fico muito agradecida por tua generosidade.

A carruagem entrou e o camponês se retirou, voltando ao seu trabalho. Estava contente, pois conseguira encaminhar suas maçãs da melhor maneira possível.  Feito isso, passou a ocupar-se da feira, que em breve começaria.

Já no palácio, a rainha tocou a sineta e disse a uma dama da corte:

Acabam de trazer essas maçãs, e eu vou entregá-las para o rei. Tu deves apresentá-las de forma ideal. É bom lavar e polir essas frutas, para que fiquem bem brilhantes. Depois, pega uma bandeja de vermeil, as põe bem no centro e, ao redor, enfeita com umas cerejas. Assim as entregarei ao rei.

Pouco depois, voltou a dama com as maçãs já prontas e as entregou à rainha. Após tomar consigo a bandeja, ela a levou ao rei, que se encontrava na sala de jantar, já ao fim da refeição e aguardando a sobremesa.

O rei, vendo-a entrar, disse:

Senhora, o que fazes com essa bandeja nas mãos?

É o presente de um camponês, cuja propriedade fica bem próxima ao palácio. 

Que belas maçãs! Que maravilha!

O rei as degustou com verdadeiro prazer, enquanto a rainha assistia contente à cena. E mandou que fosse entregue ao camponês uma boa porção de cerejas do palácio, dispostas também numa bela bandeja.

Alguns dias depois, em meio às fainas do trabalho, senhor Francisco viu ao longe uma carruagem. Debruçou-se sobre sua pá, observou bem e… percebeu que vinha em sua direção!

Quem seria? Sacudiu a poeira de sua roupa e esperou. A carruagem parou e dela desceu um lacaio que, voltando-se para o camponês, lhe disse:

— O rei lhe envia estas cerejas, em retribuição pelas maçãs que o senhor ofertou.

O humilde lavrador ficou surpreso e, boquiaberto, demorou um pouco para responder. 

— Nossa, que frutas lindas! Aguarde que já as pego e lhe devolvo a bandeja!

Ah… não. A bandeja de prata também é presente real… Bom trabalho!

A carruagem retirou-se e o camponês começou a chorar de emoção. Nunca esperar a em sua vida ganhar tal presente de seu rei!

Para nós, a rainha dessa história é Nossa Senhora, que leva todas as nossas ofertas, por mais simples que sejam, a Jesus, o Rei dos reis. Por uma modesta “maçã”, Ela nos obtém maravilhas! 

É o que diz o grande santo mariano São Luís Grignion de Montfort:

Coloquemos nas mãos de Maria as nossas boas ações, as quais apesar de parecerem boas são no fundo manchadas e indignas de Deus, e Ela, havendo recebido nosso pobre presente, o purificará, santificará e embelezará de tal maneira, que se torne digno de Deus.

Tudo façamos por meio dessa Mãe tão dadivosa e cheia de compaixão para conosco. N’Ela encontramos o meio mais rápido, fácil e eficaz de chegarmos até Deus.