Na semana passada, andando de ônibus pela zona norte de São Paulo, encontrei sobre o assento um caderno escolar. Abri a primeira página e li: Roberto Vigliani — 12 anos — 6a série.

Não estranhei, pois conheço muitos “Robertos” que costumam esquecer seus pertences nos mais diversos lugares. De resto, não havia endereço, telefone, e nem sequer o nome da escola do distraído estudante, o que também é normal.

Folheei as últimas páginas. Havia de tudo: traços desconexos, desenhos não muito artísticos, frases… enfim, algo de comum e corrente: os passatempos de um aluno imaginativo durante as aulas.

Entretanto, algo chamou-me a atenção: três linhas escritas em sentido diagonal, com letra grande:

“Parentes, tenho muitos.

Conhecidos, um montão.

Amigos mesmo, nenhum.”

Pobre Roberto Vigliani! — pensei. Quantos como ele haverá por esse mundo afora, procurando, sem encontrar, uma boa, forte e leal amizade, que os ajude a sustentar os combates da vida, muitas vezes tão duros já nessa jovem idade?

Rezei por ele e, ao fechar o caderno, lembrei-me daquela belíssima passagem da Escritura, citada por São Francisco de Sales em sua famosa “Introdução à vida devota”:

Um amigo fiel é uma poderosa proteção; quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel; o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade. (Eclo 6, 14-15)

Amizade! Esse tesouro que tantos procuram e talvez não achem, os jovens integrantes dos Arautos do Evangelho o descobriram. Alguns deles chegam mesmo a expressar de forma tão enfática a alegria de terem encontrado verdadeiros amigos, que não resisto em transcrever alguns desses testemunhos:

* “Eu pensava que ninguém era capaz de ter verdadeira amizade, até que entrei para os Arautos do Evangelho.” (Renato Fernandes, 16 anos)

* “O que mais me encantou quando encontrei os Arautos foi o convívio, o relacionamento e o amor entre todos.” (Paula C. D. da Silva, 18 anos)

* “Para mim é uma felicidade sentir a dedicação de uns para com os outros, o desejo de ajudarem-se mutuamente, seguindo o mandamento novo de Nosso Senhor: Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado.” (Yasodhara Penacin, 16 anos)

* “Dizer que somos amigos é pouco. A união entre todos nós é mais própria à de verdadeiros irmãos.” (Flávio Fugyama, 15 anos)

Mas de onde vem a solidez dessa boa amizade? Vem do fato de estar baseada em razões de ordem sobrenatural. Une-os a mesma vocação, o mesmo ideal e o mesmo desejo de perfeição.

Quando os amigos se estimam por estes motivos, a coesão entre eles se torna vigorosa, quase indestrutível. Quem o afirma é o próprio São Francisco de Sales:

Se a causa de tua amizade

for a religião, a devoção e o amor de Deus, […] ah! então tua amizade é preciosíssima. É excelente, porque vem de Deus; excelente porque Deus é o laço que a une; excelente, enfim, porque durará eternamente em Deus.

Não falo, pois, aqui simplesmente do amor cristão que devemos a nosso próximo, todo e qualquer que seja, mas aludo à amizade espiritual, pela qual duas, três ou mais pessoas se comunicam entre si as suas devoções, bons desejos e resoluções por amor de Deus, tornando-se um só coração e uma só alma […]

Todas as outras amizades são como a sombra desta e os seus laços são frágeis como o vidro. Porém estes corações felizes, unidos em espírito de devoção, estão presos por uma corrente toda de ouro. [1]

“Um irmão apoiado por outro irmão é como uma cidade fortificada, construída no alto; é firme como um palácio edificado sobre sólidos alicerces”, diz o Livro dos Provérbios (18, 19).

Assim são os Arautos do Evangelho! A caridade entre eles os dispõe a todas as dedicações e todos os sacrifícios. Desejam com ardor cumprir as palavras pronunciadas por nosso Divino Salvador antes de partir para a Paixão: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”. (Jo. 15, 13)

 

 

Notas
[1] Introdução à vida devota, parte III.