“O olhar da Igreja volta-se continuamente para o seu Senhor, presente no Sacramento do Altar, onde descobre a plena manifestação do seu imenso amor”.1 Estas palavras do Servo de Deus João Paulo II indicam com clareza o quanto a Eucaristia é o centro da vida cristã. 

“A Igreja vive da Eucaristia”.2 Como afirma o Concílio Vaticano II, “sempre que no altar se celebra o Sacrifício da Cruz, no qual ‘Cristo, nossa Páscoa, foi imolado’ (1Cor 5, 7), realiza-se também a obra da nossa redenção”.3

Desde os primórdios, a Igreja não recebeu a Eucaristia como um dom, mas sim como o dom por excelência, reconhecendo ser o Santíssimo Sacramento seu maior tesouro.

O testemunho dos mártires de Abitínia, do jovem São Tarcísio e de tantos outros atesta essa verdade. Por isso, “a Igreja não temeu ‘desperdiçar’, investindo o melhor dos seus recursos para exprimir seu enlevo e adoração diante do dom incomensurável da Eucaristia”.4

E se a Missa tem um valor infinito, o culto prestado à Eucaristia fora dela é também “de um valor inestimável na vida da Igreja”.5

Com o passar dos tempos, a fé dos fiéis na Presença Real de Cristo nas Espécies Eucarísticas sentiu necessidade de expressar-se mediante uma série de atos exteriores que refletissem a atitude interior de adoração.

Nasceram assim as iniciativas de culto ao Sacramento do Altar, especialmente as exposições do Santíssimo e as adorações eucarísticas, estimuladas e apoiadas pelos Romanos Pontífices ao longo dos séculos.

Entre esses diversos atos exteriores de adoração destacaram-se, a partir de fins do século XIX, os Congressos Eucarísticos internacionais.

Origem dos Congressos Eucarísticos internacionais

Sob a inspiração de São Pedro Julião Eymard, o “Apóstolo da Eucaristia”, uma piedosa senhora, Emilie Tamiser, organizou na cidade de Lille (França) o 1º Congresso Eucarístico Internacional, em junho de 1881.

Diversos leigos, sacerdotes e, sobretudo, o conhecido apologista Mons. Louis-Gaston de Ségur apoiaram com força tão oportuna iniciativa, que foi abençoada pelo Papa Leão XIII.

O 1º Congresso não contou com a participação de multidões, como os outros que lhe seguiram, mas a notícia de sua realização correu a Europa e o mundo. Era época de grandes mudanças culturais e conflituosas alterações sociais.

Os pastores viram naquela pública renovação de fé na Eucaristia um remédio eficaz contra a ignorância e a indiferença religiosa. Por isso, Roma decidiu incentivar a realização de Congressos Eucarísticos, a nível mundial.

A força e o alcance desses grandes eventos religiosos logo se fizeram notar.

Por exemplo, no Congresso de Metz, em 1907, o governador militar da Lorena (França) viu-se obrigado, diante do insistente apelo popular, a suspender a lei de 1870, que proibia as manifestações religiosas públicas, para poder realizar-se a procissão do Santíssimo Sacramento. 

Sob o pontificado de Pio XI, os Congressos Eucarísticos internacionais passaram a ser celebrados rotativamente em todos os Continentes, adquirindo uma dimensão missionária e de “re-evangelização”, expressão já usada na preparação do Congresso de Manila (Filipinas), em 1937.

Posteriormente, a Santa Igreja – por meio da Constituição Sacrosanctum Concilium (1963), da Instrução da Sagrada Congregação dos Ritos Eucharisticum mysterium (1967) e, sobretudo, do Ritual Romano De sacra comunione e de Cultu mysterii eucaristici extra Missam (1973) – configurou o perfil dos Congressos Eucarísticos, por nós hoje conhecidos, e indicou o seu modo de preparação e celebração.

O que é um Congresso Eucarístico?

Como afirmou o Papa Bento XVI, o Congresso Eucarístico

constitui uma resposta unânime do Povo de Deus ao amor do Senhor, sumamente manifestado no Mistério eucarístico.

Os Congressos Eucarísticos, que se realizam cada vez em diferentes lugares e continentes, são sempre um manancial de renovação espiritual, ocasião para fazer conhecer melhor a Santíssima Eucaristia, o tesouro mais precioso que nos foi legado por Jesus.

Eles constituem também um encorajamento para a Igreja difundir e testemunhar em todos os âmbitos da sociedade, sem hesitação, o amor de Cristo.6

De acordo com o Ritual Romano, um Congresso Eucarístico deve ser considerado como “uma estação à qual uma Igreja local convida as outras Igrejas da mesma região ou da mesma nação, ou do mundo inteiro”.7

O termo estação tornou-se corrente a partir do 37° Congresso, celebrado em Munique, em 1960.

Atendendo à proposição do conhecido liturgista austríaco Josef Andreas Jungmann, SJ, passou-se a utilizar desde então a expressão Statio Orbis para designar esses Congressos. 

Por terem sido inspirados pela viva fé na Presença Real de Cristo na Eucaristia, os primeiros congressos primavam pela adoração solene e pelas grandiosas procissões.

Promoviam também a comunhão frequente dos adultos e a Primeira Comunhão das crianças.

A partir do Congresso de Munique, acentuou-se a importância da Celebração Eucarística enquanto centro e ápice das várias manifestações e formas de devoção eucarística.

A fórmula Statio Orbis passou a designar a Missa de encerramento, presidida pelo Papa ou seu legado, exprimindo assim a congregação de diversas igrejas particulares em torno da Eucaristia e do Sucessor de Pedro.

Paulo VI foi o primeiro Papa  a presidir pessoalmente a um Congresso Eucarístico. Para isto viajou a Bombaim, Índia, em dezembro de 1964, entre a terceira e a quarta sessão do Concílio Vaticano II.  

Os Congressos Eucarísticos nacionais, diocesanos e paroquiais nasceram como consequência dos Congressos internacionais visando, muitas vezes, colaborar em sua preparação.

Eles podem ser organizados pelas respectivas autoridades eclesiásticas, enquanto um Congresso Eucarístico internacional somente pode ser convocado pelo Papa. 

O Pontifício Comitê 

Desde o início, a Santa Sé esteve atenta para haver uma uniformidade de critérios na organização dos Congressos Eucarísticos.

Assim, já o Papa Leão XIII instituiu um comitê permanente para a preparação do primeiro, realizado em 1881. E o Servo de Deus João Paulo II deu-lhe o seu título atual: Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais. 

As finalidades do Pontifício Comitê, de acordo com seu Estatuto, são: “fazer conhecer, amar e servir sempre melhor Nosso Senhor Jesus Cristo no seu Mistério Eucarístico, centro da vida da Igreja e da sua missão para a salvação do mundo”.8

Para esse efeito, promove a celebração periódica dos Congressos Eucarísticos internacionais e favorece e privilegia as iniciativas que visam incrementar a devoção ao Mistério Eucarístico em todos os seus aspectos, desde a celebração da Eucaristia até o culto extra missam.9

Compete ao Pontifício Comitê, atualmente presidido pelo Arcebispo Piero Marini, analisar e apresentar ao Santo Padre as propostas acerca da cidade a ser escolhida para a realização do Congresso.

E, uma vez escolhida a cidade, incumbe-lhe também examinar e submeter à aprovação do Papa o tema e o programa do Congresso. 

Além desses encargos, o Pontifício Comitê promove a devoção eucarística em diversos âmbitos, como o acadêmico.

Sob sua orientação foi realizado na Universidade Católica San Antonio de Murcia (Espanha) o 1º Congresso Eucarístico Internacional Universitário, em novembro de 2005.

Desse evento, presidido pelo Cardeal Josef Tomko, como Enviado Especial de Bento XVI, participaram onze cardeais, numerosos Arcebispos e Bispos e mais de 150.000 fiéis.

A celebração de um Congresso 

A celebração de um Congresso Eucarístico pode durar vários dias, até uma semana, conforme as circunstâncias e os recursos pastorais.

O Ritual Romano prescreve que “a Celebração Eucarística seja verdadeiramente o centro e o ápice de todas as várias manifestações e formas de piedade”.

E recomenda que “as celebrações da Palavra de Deus, as sessões de catequese e as reuniões plenárias sejam todas ordenadas por um aprofundamento do tema proposto”.

Durante o Congresso deve haver “reuniões de oração e adoração prolongadas à frente do Santíssimo exposto, em igrejas determinadas, particularmente apropriadas a esses exercícios de piedade”.10

O Ritual recomenda ainda que se realizem testemunhos públicos de fé eucarística, manifestados em procissões e iniciativas caritativas. 

A Eucaristia, dom de Deus para a vida do mundo

A Eucaristia, dom de Deus para a vida do mundo – este é o tema aprovado pelo Papa Bento XVI para o 49º Congresso Eucarístico Internacional, a realizar-se em Quebec (Canadá), de 15 a 22 deste mês.

Sobre ele, o Presidente do Comitê de Organização – Cardeal Marc Ouellet, Arcebispo de Quebec e Primaz do Canadá – afirma:

Nos começos do terceiro milênio do Cristianismo, a Igreja Católica, consciente do fenômeno da globalização, interessa-se por tudo quanto possa promover uma civilização do amor e da paz.

Busca na fonte da Santa Eucaristia a inspiração e a energia que estimule o compromisso de todos na construção de um mundo mais justo.

Daqui nasce o tema escolhido para este Congresso: “A Eucaristia, dom de Deus para a vida do mundo”.11

Sublinhando a importância do evento, o Papa Bento XVI recebeu, durante os trabalhos de preparação do Congresso, os membros da Assembleia Plenária do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais. Nessa ocasião, afirmou Sua Santidade: 

Não só quantos têm a possibilidade de participar pessoalmente, mas também as várias comunidades cristãs que são convidadas a unir-se em espírito, poderão se beneficiar das graças especiais que o Senhor dispensará no Congresso Eucarístico Internacional.

Naqueles dias, o mundo católico terá os olhos fixos no sumo mistério da Eucaristia para dele receber renovado impulso apostólico e missionário. […]

Confio-o desde agora à Virgem Maria, primeira e incomparável adoradora de Cristo eucarístico.

Nossa Senhora proteja e acompanhe cada um de vós e as vossas comunidades, tornando fecundo o trabalho que estais a realizar em vista deste importante acontecimento eclesial de Quebec.

Quanto a mim, asseguro-vos a minha lembrança na oração e vos abençôo de coração.12

 


1 Encíclica Ecclesia de Eucharistia, nº 1.
2 Idem, idem.
3 Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 3.
4 Idem, nº 48.
5 Idem, nº 25.
6 Bento XVI, Discurso à Assembleia Plenária em vista do 49º Congresso Eucarístico Internacional, 9/11/2006.
7 Ritual Romano De comunione et de cultu mysterii eucaristici extra missam n. 109.
8 Estatuto, art. 2.
9 Idem, art. 3.
10 Cf. Art. 112.
11 Apresentação do Documento Teológico de Base CEI 2008.
12 Bento XVI, Discurso à Assembleia Plenária em vista do 49º Congresso Eucarístico Internacional, 9/11/2006.