A quem queira mergulhar a fundo na piedade católica, temos uma sugestão a dar: peregrinar por terras hispânicas para contemplar as magníficas fisionomias de Cristo e da Virgem Maria esculpidas ao longo dos séculos pelo fervor dos artistas espanhóis.

Há, porém, uma séria dificuldade a enfrentar: são tantas as belas imagens que não é fácil definir quais as que mais nos falam à alma. Vamos, então, visitar apenas uma cidade: Málaga, situada na ensolarada Andaluzia.

A viagem a essa cidade litorânea em pleno verão não nos dá ideia dos tesouros espirituais que encerra, pois suas ruas estão repletas de turistas, que normalmente pouco cogitam em algo de espiritual.

No entanto, se chegarmos por ocasião da Quaresma ou Semana Santa, encontraremos um ambiente muito diferente. Como em toda a Andaluzia, os malaguenhos se reúnem em confrarias religiosas que têm a seu cargo o culto de uma ou mais imagens.

Em geral são de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Não imaginemos, entretanto, imagens comuns. Além de sua qualidade artística excelente, são adornadas com vestidos riquíssimos, bordados em ouro e prata, cobertos de pedrarias.

Muitas vezes constituem as peças centrais de um conjunto de várias imagens que representam algum episódio da vida de Jesus, permanecendo durante todo o ano em uma das muitas igrejas de Málaga para a veneração dos confrades e do público em geral. 

As confrarias têm origem multissecular e cada qual possui seus estatutos, seus hábitos, suas penitências. O que delas vemos hoje não é senão uma imagem esmaecida da irradiação e da força que tiveram no passado.

Com efeito, a vida cultural e econômica das cidades se desenvolveu em parte graças a essas confrarias.

A indústria de bordados artísticos, por exemplo, a especialização em arranjos florais, a indústria de velas (usadas em grande quantidade nas procissões), a música, a ourivesaria, o artesanato em prata, hoje são citados pelos órgãos oficiais como pontos de atração turística.

Mas o que nos interessa ressaltar é a devoção mariana que essas tradições trazem até nós.

Por exemplo, o leitor já ouviu falar da imagem de Nossa Senhora da Consolação e Lágrimas? Ou de Nossa Senhora do Grande Perdão? Ou, ainda, de Nossa Senhora da Fé e Consolo? Não é verdade que a simples leitura dessas invocações de Maria nos sugere uma pequena meditação?

Ao escutar o título Consolação e Lágrimas, logo pensamos nas inú­meras consolações que Ela teve durante os 30 anos da vida privada de Jesus e, depois, nas amargas lágrimas que derramou quando O viu semelhante a “um verme e não mais um homem” (Sl. 21, 7).

Fé e Consolo: foi pela fé na Ressurreição de Jesus que Maria encontrou consolo, e pô­de, assim, suportar todo o sofrimento do Sábado Santo e ser a única luz de fé íntegra naqueles dias.

Diante da imagem de Nossa Senhora da Escravidão Amorosa, o espírito se compraz em recordar a perfeita devoção a Maria ensinada por São Luís Grignion de Montfort.

E ainda vamos encontrar Nossa Senhora da Maior Dor em sua Solidão, Nossa Senhora das Lágrimas e Favores, Nossa Senhora da Solidão do Sepulcro, e tantas outras…

Nossa Senhora das Penas, a das Amarguras, a das Angústias, a do Amparo, a do Patrocínio, a das Dores em seu Amparo e Misericórdia, a das Dores de São João, a da Graça e Esperança…

Analisando com a luz da fé estes títulos tão significativos, saímos enriquecidos e com os horizontes da alma ampliados para contemplar melhor as inúmeras virtudes de Maria Santíssima, e incentivados a imitá-las.