O diretor de almas precisa ser homem de límpidos pensamentos, de modo a não se contaminar com impureza alguma aquele que deve exercer o ofício de purificar os corações dos outros.

A mão usada para remover a sujeira é mister que esteja limpa. Se, pelo contrário, ao tentar tirar a imundice, ela mesma estiver imunda, poluirá tudo quanto tocar. Por isso ordena Deus pela boca do Profeta: “Purificai-vos, vós que levais os vasos do Senhor” (Is 52, 11).

Levam “os cibórios do Senhor” aqueles que receberam a missão de conduzir ao sacrário eterno, à pátria eterna, as almas a eles encomendadas.

Consideremos quão limpos devem ser os seus pensamentos, uma vez que foram incumbidos de levar os cibórios vivos no próprio seio ao Templo da eternidade. […]

O diretor de almas precisa ter perspicácia para discernir o bom do mau, o que mais convém a quem, como e quando; medir bem suas resoluções, não em função de si mesmo, mas considerando como seu mais alto interesse o bem de seus próximos. […]

Para um sacerdote, apresentar diante do Senhor o julgamento dos israelitas (cf. Ex 28, 30) impõe a obrigação de resolver os problemas espirituais dos fiéis seus súditos tendo em vista somente Aquele que é juiz dos corações.

De maneira que nada de humano se mescle nos ­assuntos que ele administra em nome de Deus, e seus ressentimentos pessoais não o levem ao exagero e à aspereza em seu zelo de corrigir.

E ao mostrar-se severo perante os pecados alheios, cumpra estritamente seu dever, não permitindo que invejas dissimuladas ­destruam a serenidade de seu juízo, nem coléricos arrebatamentos o prejudiquem.

Deste modo, sem perder de vista o santo temor de Deus, pelo qual tudo deve ser regulado, saiba infundir em seus súditos uma grande consideração e respeito.

 

Excerto de Regra Pastoral, II-2.