Ao folhearmos as Escrituras encontramos Jesus sendo comparado com o bom pastor, com a galinha que reúne os pintainhos sob suas asas, com um forte leão, com um cordeiro imaculado e obediente até a morte …

Visa assim o autor sagrado servir-se de exemplos muito ao nosso alcance para espelhar as inefáveis perfeições divinas.

Nessa esteira de imagens terrenas que nos reportam às realidades sobrenaturais, nos deparamos com um simpático animalzinho que reflete aquelas almas chamadas a procurar a Deus com entusiasmo e alegria: o cervo.

Olhando um conjunto de cervos enquanto se alimentam da ramagem tenra das árvores, ou passeiam num viçoso gramado, sente-se pairar sobre eles uma inocência cheia de perspicácia.

Aparentemente despreocupados, basta um notar alguma ameaça para, levantando o rabinho com gesto característico e dando um breve bramido, fazer com que todos fujam saltitantes.

O cervo não pula de modo descompassado como o cabrito, mas parece acompanhar nobremente o ritmo de uma música grandiosa.

Seu salto transborda distinção e elegância, convidando quem o contempla a se desapegar da terra em busca de panoramas mais elevados.

Por isso, é deste nobre animal que a casta esposa do Cântico dos Cânticos se serve para nos descrever seus anseios: “É a voz do meu amado! Eis que ele vem saltando pelos montes, pulando sobre as colinas. O meu amado parece uma gazela, ou um cervo ainda novo!” (2, 8-9).

“Vem saltando pelos montes, pulando sobre as colinas”… O que será que ele procura?

A resposta, a encontramos nas palavras do salmista: “Sicut cervus desiderat ad fontes aquarum, ita desiderat anima mea ad te, Deus”1 (Sl 41, 2).

O cervo é, no reino animal, a imagem do desejo que a alma tem de Deus, única Fonte da água viva capaz de saciar nossa sede.

Embora irracionais, eles parecem viver em pós daquela fonte que Nosso Senhor ofereceu à samaritana, da qual jorra água para a vida eterna (cf. Jo 4, 14).

Há um designío do Altíssimo para todos os seres. À semelhança desses encantadores animaizinhos, certas almas são chamadas a fazer reluzir em si a alegria própria ao Espírito Santo, inocente, humilde, vigilante, séria, transbordante de entusiasmo…

A essas almas compete possuir, de modo todo especial, a sede de Deus e do sobrenatural, e isso as torna cheias de contentamento, dispostas a carregar o sagrado e suave fardo da virtude com ufania, e a trilhar com saltitante regozijo o caminho que leva à bem-aventurança.

Quantas coisas podem nos ensinar as criaturas quando consideradas como reflexo das realidades celestes. Aprendamos a nos alegrar no Espírito Santo, tendo esse desejo entusiasmado do Reino dos Céus!

Fêmea na floresta de Cannock Chase (Inglaterra)
Jovem cervo bebendo em Haute Touche (França)

 

Manada repousando em Arne (Inglaterra)

1 “Como o cervo anseia pelas fontes das águas, assim minha alma anseia por Vós, ó meu Deus”.