Entre os homens, nada há que faça alguém pertencer mais a outrem do que a escravidão; e entre os cristãos, nada nos faz pertencer mais absolutamente a Jesus e à sua Santa Mãe do que a escravidão voluntária.

Disto nos deram exemplo o próprio Cristo, que por amor a nós tomou a forma de escravo: “formam servi accipiens”, e a Santíssima Virgem, que Se proclamou serva e escrava do Senhor.

O Apóstolo se ufana de chamar-se “servus Christi – servo de Cristo”. Nas Sagradas Escrituras, os cristãos são várias vezes denominados “servi Christi – servos de Cristo”.

Segundo observação feita por um grande homem, o vocábulo latino servus designava outrora exclusivamente o escravo, pois não havia ainda criados ou empregados domésticos como os de hoje.

Para não deixar dúvida alguma de que somos escravos de Cristo Jesus, o Catecismo do Concílio de Trento utiliza-se de um vocábulo inequívoco, chamando-nos de “mancipia Christi – escravos de Cristo”.

Temos o dever, portanto, de pertencer a Jesus Cristo e servi-Lo, não apenas como serviçais remunerados, mas como escravos amorosos que, movidos por grande amor, dão-se a Ele e O servem na qualidade de escravos, unicamente pela honra de Lhe pertencer.

Antes do Batismo éramos escravos do demônio e, pelo Batismo, nos tornamos escravos de Jesus Cristo; se não forem escravos de Jesus Cristo, os cristãos serão escravos do demônio.

O que digo de Jesus Cristo de modo absoluto, digo-o de modo relativo da Virgem Santíssima, que Ele escolheu por companheira inseparável de sua vida, de sua morte, de sua glória e de seu poder no Céu e na Terra.

E à qual, também, deu pela graça, relativamente à sua Majestade, todos os direitos e privilégios que Ele possui por natureza: “Quidquid Deo convenit per naturam, Mariæ convenit per gratiam – Tudo quanto convém a Deus por natureza convém a Maria pela graça”, dizem os Santos.

Desta forma, tendo Jesus e Maria a mesma vontade e o mesmo poder, têm ambos os mesmos súditos, servidores e escravos.

Portanto, segundo a opinião dos Santos e de numerosos varões ilustres, qualquer cristão pode dizer-se e fazer-se escravo de amor da Santíssima Virgem Maria para, por este meio, ser mais perfeitamente escravo de Jesus Cristo.

 

Excertos do Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort.