Arautos do Evangelho: Como nasceu no senhor a vocação sacerdotal e o que o levou a usar a música como meio de apostolado, sobretudo com a juventude?
Pe. Antônio Maria: Tudo é dom em nossa vida. Menino ainda, eu cantava muito. Na catequese, era sempre escolhido para cantar nas festas.
Quando, na Congregação Mariana, o pároco perguntou quem de nós queria ser padre, eu respondi: “Deus me livre!” Mas, a partir desse dia, a pergunta não me deixou em paz. Ela vinha sempre: “Por que não ser padre?” Minha resposta: “Não! Eu vou ser cantor!”
Eu tinha 15 anos. Depois de muita luta interior, descobri que meu caminho era mesmo o do sacerdócio. Quando disse “sim”, senti muita paz. Custou deixar a família, mas fui! Não mais pensei em ser cantor. Mas não deixei de cantar. Sempre cantei no seminário.
No dia de minha ordenação, 25 de setembro de 1976, após ter-me revestido das vestes sacerdotais, o Bispo pediu-me para cantar um hino a Nossa Senhora.
Eu não tinha condições nem de falar!… Ele insistiu, eu cantei. Foi meu primeiro ato sacerdotal. Depois concelebrei a Missa com o Bispo e os padres presentes.
Seguindo um conselho do Padre Kentenich, meu fundador, perguntei no meu coração: “Por que, Pai, o Bispo me pediu para cantar?” E Deus me respondeu: “Você fez minha vontade, sendo padre. Eu fiz a sua, fazendo-o cantor. Vamos juntar nossas vontades.”
A partir daquele dia, não parei de cantar, usando o canto como o jeito que Deus me deu de evangelizar. Sou feliz! E tenho sentido nestes anos todos que a música é um instrumento maravilhoso para tocar corações…
AE: Qual o papel de Nossa Senhora em sua vocação sacerdotal?
Pe. Antônio Maria: É outro momento lindo, meu encontro com Maria. Nosso pároco tinha uma estampa da Mãe Rainha Três Vezes Admirável de Schöenstatt.
Num determinado mês de maio, eu devia ter 10 a 11 anos, ele teve a ideia de fazer essa imagem percorrer 30 casas. A Mãe foi à minha casa também. Chegou à noite e ficou todo o outro dia. Ao voltar da escola, deparei-me com Ela na sala, sobre o altarzinho que mamãe preparara com carinho.
A nossa sala parecia uma “catedral”. Ajoelhei-me, sozinho diante dela. Olhei bem nos seus olhos. Que olhos! Aquele olhar tocou-me profundamente.
Senti que a “mãezinha do céu” gostava de mim. Parecia-me que ela sorria. Ela era linda e estava sempre me olhando. Levantei-me. Ela me olhando! Fui a um canto da sala… Ela me olhando! Fui a outro canto… Ela me olhando.
Aquilo marcou minha vida. Mais tarde, ao chegar no seminário dos padres palotinos do Rio Grande do Sul, meu vigário conduziu-me a uma capelinha.
Era o Santuário da Mãe Três Vezes Admirável. Era a mesma mãe. A mesma da sala de minha casa. Ela me acolhia com o mesmo olhar, com o mesmo sorriso me dizendo, através do letreiro sobre seu quadro: “O Servo de Maria jamais perecerá”.
Por isso acredito que, indo a minha casa, ela foi selar a vocação que eu, nem por sonho, imaginava ter. Minha vida sacerdotal é uma entrega a Deus e à Igreja no Instituto dos Padres de Schöenstatt.
AE: Qual o carisma desse Instituto, como ele foi concebido pelo Pe. José Kentenich, seu fundador?
Pe. Antônio Maria: O Instituto dos Padres de Schöenstatt foi o último dos 6 Institutos fundados pelo Pe. José Kentenich. Nosso carisma é viver uma aliança de amor com Maria, como todos que pertencem ao Movimento de Schöenstatt, e deixar-nos educar por Ela, tendo-a como modelo do “homem novo”.
Através dessa aliança, dessa entrega a Ela, queremos chegar mais facilmente a Cristo, no Espírito Santo, e nos deixar guiar ao Coração de Deus Pai para assim, como homens novos, construir uma nova sociedade.
Nossa missão específica é servir a todo o Movimento de Schöenstatt como pais sacerdotais, e assim servir à Igreja.
Ao fundar nosso Instituto, o Pe. Kentenich queria que houvesse uma comunidade sacerdotal à disposição da grande obra que ele fundara, servindo, animando.
AE: Pode contar-nos alguns traços de sua figura venerável?
Pe. Antônio Maria: Posso salientar alguns traços dessa figura maravilhosa que foi o Servo de Deus Pe. José Kentenich.
Ele foi um sacerdote mariano. Ele mesmo dizia que amava tanto Maria que era como se Ela fosse uma segunda natureza dele. Ele gostava de dizer: “Como Paulo definiu sua vocação como ‘anunciar o mistério de Cristo’, eu defino a minha: anunciar o mistério de Maria”.
Pe. Kentenich foi um homem forte… corajoso.
Enfrentou com a resistência de uma rocha a prisão nazista, 4 anos de campo de concentração em Dachau… 14 anos de exílio nos Estados Unidos, por incompreensões de representantes da Igreja que ele tanto amava. Foi sempre capaz de enfrentar as tempestades mais terríveis.
Ao mesmo tempo, foi um pai amoroso. Ele era a paternidade viva… um reflexo maravilhoso do bom Deus.
AE: Qual a marca que a personalidade do fundador deixou impressa em sua vida sacerdotal?
Pe. Antônio Maria: A marca da paternidade. Dois dias antes de ser ordenado, compus uma canção inspirada nele: “Padre, quer dizer Pai”. Não sou esse padre que deveria ser, como filho de tal pai, mas é o que mais quero ser… um sacerdote pai.
AE: Qual a organização do Movimento de Schöenstatt em seus vários ramos?
Pe. Antônio Maria: O Movimento começou a existir em 18 de outubro de 1914, dia da fundação do Santuário da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável, lá em Schöenstatt (Belo Lugar).
Aos poucos a obra foi se estruturando, como uma árvore que vai crescendo e fazendo brotar novos ramos.
Atualmente, ele comporta seis Institutos Seculares: Irmãs de Maria de Schöenstatt, Irmãs de Maria, Instituto dos Sacerdotes Diocesanos de Schöenstatt, Instituto dos Casais de Schöenstatt e Instituto dos Padres de Schöenstatt.
Há o ramo das Uniões. Há ramo das Ligas. Há o Movimento Popular e de Peregrinos. O característico da Obra é que as diversas comunidades não dependem juridicamente uma da outra.
O que as une e vincula é a Aliança de Amor com a Mãe Três Vezes Admirável, o mesmo fundador, a espiritualidade comum. A tudo isso chamamos “Família de Schöenstatt”.
Schöenstatt é um movimento em marcha. Nossa fonte de vida é a Aliança de Amor com Maria no seu Santuário. Nossa força propulsora é a fé prática na Divina Providência, e o que nos impulsiona, nos motiva e desperta vida é nossa consciência de missão.
AE: E que realizações e progressos alcançou até nossos dias?
Pe. Antônio Maria: Schöenstatt se espalhou pelo mundo. Está em todos os continentes. Hoje já são 19 Santuários no mundo. Em outubro, inaugura-se o 20º em Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul. E já está sendo construído o de Garanhuns, Pernambuco.
A devoção à Mãe e Rainha cresce dia a dia, através das visitas de sua imagem peregrina às famílias. No Brasil já são mais ou menos 120 mil imagens. Cada uma visita uma vez por mês 30 lares.
São, portanto, três milhões e seiscentas mil famílias que entram em contato com a Mãe de Deus, que quer ir ao encontro de seus filhos…
Esse trabalho com as imagens peregrinas teve início em 1950, em Santa Maria, pelo Servo de Deus, João Luiz Pazzobon, membro do Movimento de Schöenstatt, leigo, pai de família, depois ordenado diácono permanente.
Hoje esse apostolado, uma maravilhosa pastoral familiar, já está espalhado por 91 países.
AE: O senhor é um dos principais propagadores dos Oratórios da Mãe Três Vezes Admirável…
Pe. Antônio Maria: Eu faço o que posso. Considero-me o jumentinho que levou Maria, às pressas, pelas montanhas da Judeia. Ela é que faz maravilhas.
AE: Poderia falar-nos da importância desse grande e benéfico apostolado?
Pe. Antônio Maria: É realmente admirável o bem que esta pastoral tem realizado nas famílias.
Com a visita de Maria, a família é chamada a conscientizar-se de que precisa ser igreja doméstica, casa de oração, de amor, de solidariedade, de diálogo, de perdão. São muitos os testemunhos de conversões, de mudança de vida.
Aproveito para enfatizar a importância de se receber em casa a imagem de Maria, a qual, mesmo sendo só uma imagem, é sinal visível de uma realidade invisível.
As graças do Santuário são canalizadas por este veículo, que é a imagem, e irrigam o solo, às vezes tão árido, da família, a fecunda e faz brotar nova vida.
Num tempo como este em que vivemos, no qual milhares de imagens negativas, feias e violentas invadem nossa casa, pelos meios de comunicação, vale a pena deixar entrar a “bendita entre as mulheres” para que o “menino” que está dentro de cada um de nós possa saltar de alegria…
E quem sabe deixemos de ser mudos, como Zacarias, falando bem alto, pela vida, as coisas que o mundo precisa ouvir.
AE: Nós católicos temos de unir forças para realizar a Nova Evangelização. Esta é uma das razões que levaram os Arautos do Evangelho a promover o Apostolado do Oratório do Imaculado Coração de Maria. Que mensagem o senhor daria para afervorar as famílias que recebem em seus lares a imagem da Mãe Três Vezes Admirável e o oratório do Imaculado Coração de Maria?
Pe. Antônio Maria: Gostaria em primeiro lugar de parabenizar o trabalho que os Arautos do Evangelho fazem, também esse trabalho específico de levar aos lares os oratórios do Coração Imaculado de Maria.
A Mãe do Céu tem o dom, próprio das mães, de fazer voltar ao lar os filhos dispersos.
Não faz muito tempo, um sacerdote que propaga a devoção a Nossa Senhora de Guadalupe, levando também aos lares uma capelinha com sua imagem, me dizia, um tanto quanto preocupado: “Pe. Antônio Maria, não gostaria que o senhor visse nesse meu trabalho uma concorrência…”
Minha resposta foi: “Meu irmão, se Nossa Senhora estivesse preocupada com concorrências, não teria aparecido em Lourdes, em Fátima, em La Salette, em Guadalupe!!!”
Temos mesmo que unir forças, enriquecendo-nos com nossos carismas, puro dom de Deus, dado de graça, a fim de que a Igreja seja mais rica e o Reino do Céu se torne na realidade o tesouro achado no campo…
Eu diria às famílias que recebem a Mãe: Recebam-na como Isabel. Recebam-na como a Mãe do Senhor, a Portadora de Cristo, que traz o Espírito Santo e vem encher a família de seus dons.
Cuidem bem d’Ela e façam tudo para que Ela leve a outros lares as graças de seu filho Jesus. Esse trabalho faz muito bem aos filhos de Deus e a recompensa virá.
Jesus disse: “Quem der, ainda que seja um copo de água fresca a um desses pequeninos, terá sua recompensa”. Esse apostolado nas famílias é mais do que um copo de água… é um rio de água viva. Coragem! Avante!
AE: Os Arautos têm muita sintonia com o senhor, um evangelizador e músico de longa experiência. Qual a mensagem que o senhor teria para nossos leitores e admiradores seus?
Pe. Antônio Maria: Agradeço o carinho que tenho recebido dos Arautos do Evangelho. Deus os abençoe muito. Aos leitores, gostaria de deixar como mensagem uma palavra do Pe. Kentenich:
Deus quer que sejamos todos um só coração e uma só alma, e que, como instrumentos nas mãos de Nossa Senhora, a ajudemos a chegar vitoriosamente a novas praias.
Concentremo-nos e preparemo-nos para ajudar com todas as forças, de modo que a missão pós-conciliar da Igreja seja fomentada por nós, em todos os âmbitos.