Imaginemos uma montanha coberta de árvores, dentre as quais despontam algumas cerejeiras em flor.
Embora suave e delicada, a tão característica cor rósea de suas pétalas marca a paisagem, infundindo discretamente na alma de quem as contempla serenidade e paz, virtudes tão necessárias para os nossos dias e, entretanto, tão difíceis de ser adquiridas.
No mundo em que estamos imersos reina o caos e a agitação. Habitar nele sem partilhar desse espírito é uma das nossas principais obrigações enquanto católicos.
Por esse motivo, algumas pessoas pensam que só é possível alcançar a santidade aceitando humildemente todos os sofrimentos, sem nada reclamar.
E para não se deixar arrastar pela agitação do século, consideram indispensável isolar-se do convívio humano e passar longas horas em oração.
Em alguns casos extraordinários, isso pode ser verdadeiro, mas não corresponde ao que a Providência pede para o comum dos homens.
Nas palavras do justo Jó, “a vida do homem sobre a terra é uma luta” (Jó 7, 1), e assim será até o fim do mundo. É preciso convivermos com os outros e isso nos exige tomar uma atitude militante; às vezes, até desafiadora.
Ao longo de nossa existência, devemos lutar constantemente contra o demônio, o mundo e nossos próprios defeitos.
Contudo, como coadunar a serenidade com a combatividade propugnada pelo Santo Jó? À maneira de analogia, vemos estas duas virtudes aparentemente opostas harmonizadas nas cerejeiras.
O cor-de-rosa, outrora próprio ao gênero masculino, espelha a combatividade. Mistura do vermelho com o branco, simboliza que a luta só é autêntica quando sustentada pela pureza, representada no branco.
Mas o branco é também a síntese de todas as cores, de todas as luzes, de todas as belezas, indicando que quem possui a virtude angélica possui todas as demais. Sua alma está em paz com Deus.
Enganam-se muitos ao pensar que quem vive nesta impostação sobrenatural não é capaz de grandes atos de heroísmo, quando na realidade dá-se exatamente o contrário: é na serenidade que se adquire a força de alma necessária para enfrentar as piores situações com entusiasmo e ousadia!
“Os grandes contrastes fazem os grandes homens”, dizia Plinio Corrêa de Oliveira.
Jesus, o Homem-Deus, atraía a Si as crianças, abraçando-as com ternura contra o seu Sagrado Coração, e com essas mesmas mãos era capaz de tecer um chicote para expulsar os vendilhões do Templo.
Sua Mãe, Maria Santíssima, enquanto sumo modelo de bondade, intercede misericordiosamente por aqueles que recorrem a Ela, mas é ao mesmo tempo “terrível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6, 10), e pisa a cabeça da serpente com seu imaculado calcanhar (cf. Gn 3, 15).
A nós cabe, seguindo tão augustos exemplos, sermos dóceis cordeiros no relacionamento com nossos irmãos, mas leões intrépidos no combate contra o mal.
Nas Escrituras há duas frases que exprimem bem este contraste harmônico: “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra” (Mt 5, 5) e “O Reino dos Céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12).
São os extremos da combatividade e da serenidade que formam, à maneira de um arco gótico, a alma de um Santo. Na vida há dificuldades, há tribulações, mas só quem se abandona serenamente nos braços de Maria Santíssima como uma criança, obtém a vitória na luta.
Lembremos, entretanto, que este triunfo não consiste apenas em atingir a santidade pessoal.
Devemos batalhar para que esse estado de espírito se estenda por toda a face da terra, como as cerejeiras se espalham pela ladeira de um monte.
E para isto é indispensável combater sem trégua contra o mal que grassa em nossa época, até que o Reino de Maria, por Ela prometido em Fátima, seja instaurado nos corações e no mundo inteiro.
