Como todos os grandes movimentos religiosos surgidos no seio da Santa Igreja Católica, o Apostolado da Oração nasceu de uma poderosa graça dada por Deus a algumas almas fervorosas.
Corria o ano de 1844. No seminário jesuíta de Vals (França), alguns estudantes de filosofia e teologia manifestavam um desejo ardente de irem para as missões. Mas ainda não eram sacerdotes, tinham vários anos de estudos pela frente… era preciso esperar.
Como conciliar a sofreguidão apostólica com a necessidade de completar antes a formação?
O Pe. Francisco Xavier Gautrelet, SJ, orientador espiritual desses jovens, deu-lhes a solução.
Por enquanto, explicou ele, o dever de vocês é estudar. Não podem, portanto, sair para fazer pregações e outras obras de apostolado direto.
Mas, se quiserem, poderão dar um preciosíssimo auxílio aos sacerdotes que trabalham já na Seara do Senhor, nas paróquias e nos países de missões.
Como assim?! – perguntaram.
Muito simples: ofereçam a Deus diariamente seus atos de piedade, estudos, sacrifícios, trabalhos, enfim, todas as atividades, pela salvação e santificação das almas. Sejam missionários pela oração e pelo oferecimento da vida cotidiana.
Esta boa semente caiu em terra fértil. As ideias propostas pelo Pe. Gautrelet foram imediatamente postas em prática naquele seminário.
Alguns sacerdotes as divulgaram nas regiões vizinhas, de onde se espalharam por toda a França e não tardaram a estender-se às outras nações.
“Assim nasceu o Apostolado da Oração”, afirma o conhecido Pe. Roque Schneider, atual Diretor Geral da organização no Brasil.
Em entrevista a Arautos do Evangelho, o Pe. Roque fornece outros interessantes dados sobre essa benéfica Instituição tão amada pelos papas, desde o Bem-Aventurado Pio IX até nosso Papa João Paulo II.
Arautos do Evangelho: Qual a atividade missionária do Apostolado da Oração?
Pe. Roque Schneider: Eu sempre falo para nosso pessoal: “Ser da Igreja é mais importante do que ser membro do Apostolado da Oração”. Nossa raiz missionária é muito forte.
Posso afirmar que nossa Instituição nasceu com um carisma missionário muito claro, baseado na seguinte certeza: qualquer um pode ser missionário sem abandonar suas ocupações diárias.
Por exemplo, como Santa Teresinha. Sem deixar a família, sem prejudicar seus estudos, a jovem Teresa Martin ingressou no Apostolado da Oração quando tinha 14 anos.
Temos os documentos, em francês, você pode ver a publicação na revista “Mensageiro do Coração de Jesus”, número de abril.
Santa Teresinha foi missionária, por suas orações e sacrifícios, sem nunca ter saído de seu convento. E tão autêntica que foi proclamada copadroeira das missões.
Então, neste sentido, todos podem ser missionários: donas de casa, médicos, professores, pais, motoristas, lavradores.
O fogão, o volante, o arado, a mesa do intelectual, tudo pode transformar-se num altar, se a pessoa realiza o trabalho com espírito missionário.
Então, eu digo: “Reze a liturgia nas 24 horas do dia. Trabalhar é importante, mas rezar é mais”.
AE: Uma boa orientação…
PRS: É. A fé deve ser provada com obras. Fé e justiça não são separadas, precisam caminhar juntas. Portanto, não é só rezar.
Alguns queridos irmãos nossos começaram a dizer: “Rezar é alienação. Precisamos é ir lá para as favelas. Mas, rezar… para quê?” Ora, não se pode separar uma coisa da outra.
Todo cristão deve ter, ao mesmo tempo, as mãos operosas de Marta e o coração orante de Maria. Esta é a orientação que procuramos passar para o pessoal. O Apostolado da Oração tem uma tendência mais para ser orante do que militante na justiça.
Ele age mais na oração, talvez compensando outros que não são tão orantes. O Apostolado da Oração é mais Maria rezando do que Marta agindo.
AE: Donde se poderia dizer que seu carisma é…
PRS: O carisma do Apostolado da Oração se fundamenta em três devoções básicas para qualquer cristão: a devoção ao Coração de Jesus, ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Virgem.
Nossa Senhora é a madrinha do Apostolado. Madrinha ótima! Outro ponto importante é o oferecimento diário de tudo: alegria, saúde, doença, trabalhos. Por assim dizer, “rezar” tudo isso.
Por exemplo, não apenas fazer o trabalho diário, mas “rezá-lo”. E nós sempre rezamos em profunda sintonia com o Papa, com a Igreja.
Fazemos o oferecimento espiritual em união com o Cristo na Eucaristia, juntamente com Nossa Senhora, em união com o Santo Padre.
AE: O Papa tem insistido muito na necessidade da oração.
PRS: No dia 4 de abril de 1984, quando estávamos reunidos em Roma, João Paulo II nos disse: “O Apostolado da Oração é o grande tesouro do coração do Papa e do Coração de Cristo”. Ele tem dito coisas maravilhosas sobre o Apostolado, prestigia-o muito, me conhece pessoalmente.
A grande maioria dos Bispos fala também que o Apostolado da Oração é uma presença muito boa, forte. Muitos padres dizem: “Vocês são o braço direito da nossa paróquia”. Então, realmente, são pessoas de perseverança e de espírito de sacrifício, dispostas a também trabalhar quando é preciso.
AE: Tem-se difundido muito o Movimento no Brasil?
PRS: Atualmente, em nosso país, uma força de apostolado representada por um milhão de mensageiros. Uma revista com 200 mil assinantes. Nos meios de imprensa, calcula-se que uma revista é lida, em média, por cinco pessoas. Então, “O Mensageiro do Coração de Jesus” conta com um milhão de leitores.
Além disto, há núcleos do Apostolado da Oração em cerca de nove mil paróquias. Então, temos aproximadamente, sem exagerar, entre nove e dez milhões de membros no Brasil.
AE: Que conselho o senhor daria para fortalecer o espírito de oração na família?
PRS: Muitas famílias já desmoronaram porque falta oração. Em numerosos lares, a televisão ocupa um espaço tão grande que não há mais lugar para Deus, para a oração.
Em 1980, o Papa João Paulo II afirmou que o futuro do Brasil passa pela família. Ora, uma família sem oração é uma família pela metade. Se temos famílias em crise, realmente é porque elas desestruturaram-se na parte espiritual.
Gosto muito deste pensamento de um poeta português: “Um pássaro de asa quebrada não voa. Um homem sem oração rasteja”. É isto. Sem a dimensão espiritual, sem a oração, o ser humano se esvazia e rasteja, ele não sai da mediocridade.