Que carinho de Deus para com o homem! Criando-o à sua imagem e semelhança, cumulou-o de felicidades.
No Paraíso Terrestre, a inocência reinava em seu coração, ele agia assistido pelo dom de integridade e pairava sobre seu ser a promessa da imortalidade.
Que palácio deste mundo poderia se comparar ao jardim que o Senhor lhe havia dado por morada?
Contemplando uma natureza em perfeita ordem e em completa consonância com a harmonia de sua alma, Adão e Eva percebiam em tudo que os cercava um reflexo imaculado do Criador.
Ora, pálida era a alegria encontrada pelo homem em tudo isso se comparada ao gáudio supremo e insuperável experimentado no convívio com o próprio Deus, que condescendia em vir todos os dias, à brisa da tarde, conversar com Adão.
Não seria demasiado imaginar como toda a natureza se vestia de gala para receber a visita divina: de que cores se tingiam os céus, com que esplendores o sol se esforçava em brilhar, que melodias entoavam os pássaros!
Mas, mas, mas… Adão pecou, a ordem da criação foi afetada e a História seguiu o triste curso do homem decaído.
Porém, o Pai Celeste, em seus desígnios de misericórdia, continua a convidar a humanidade de diversos modos para a intimidade de seu convívio. E, muitas vezes, é também por meio da natureza que Ele transmite seus recados.
Quem mora em Asunción, no Paraguai, encontra, não muito distante da capital, o belo e majestoso Lago de Ypacaraí.
De acordo com certa tradição guarani, ali havia antigamente apenas uma pequena mina d’água que os indígenas chamavam de Tapaikuá. Mas, por causa de algum pecado, ela começou a transbordar até cobrir as aldeias vizinhas.
Ante tal desventura, recorreram ao Frei Luis de Bolaños, religioso franciscano em missão por aquelas paragens.
Ele foi até lá, impôs as mãos sobre as águas e lhes ordenou, em nome de Deus, que se acalmassem. A partir de então, o local passou a chamar-se “Ypacaraí”, que significa “água abençoada”.
Embora sempre ornado de singular formosura, é no entardecer que o lago reveste-se de todo o seu esplendor. Identificando-se com os fulgores celestes, as águas e o firmamento se fazem um.
Ora predominam tonalidades douradas, ora sobressai um intenso laranja-rubro, ou ainda um discreto e afável lilás, fazendo com que as águas se assemelhem a pedras preciosas liquefeitas.
Quem sabe se esse espetáculo não é pintado pelo Anjo da nação, deixando entrever, na feérica harmonia de cores, a sublimidade do Paraíso? De fato, transportados de encanto ao contemplar tal beleza, temos a impressão de que a terra foi elevada ao Céu!
Não é este um exemplo da solicitude divina em atrair a Si os seus filhos no exílio?
Como outrora no Éden, Deus parece descer à brisa da tarde e, no íntimo de cada coração, fazer um suave convite: “Meu filho, Eu desejaria que sua alma fosse como esse lago, e pudesse refletir todas as maravilhas do Céu! Você quer?”