Quando a filosofia do Evangelho governava os Estados
Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil.
Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados.
Então o sacerdócio e o império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.
(Excerto de: LEÃO XIII. Immortale Dei, 1º/11/1885)
Surge um misterioso inimigo da Civilização Cristã
Ele se encontra em todo lugar e no meio de todos; sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral e social da unidade no organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem a fé, a liberdade sem a autoridade, às vezes a autoridade sem a liberdade.
É um “inimigo” que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulos que ainda surpreende: Cristo sim, Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito ímpio: Deus está morto e, até, Deus jamais existiu.
E eis, agora, a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em apontar como as principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um direito sem Deus, uma política sem Deus.
(Excerto de: PIO XII. Discurso, 12/10/1952)
Do protestantismo à Revolução Francesa
“A Civilização Cristã deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória, artifício algum dos adversários poderá obscurecer”.
Esse pernicioso e deplorável gosto de novidades que o século XVI viu nascer, depois de primeiro haver transtornado a Religião cristã, em breve, por um declive natural, passou à filosofia, e da filosofia a todos os graus da sociedade civil.
É a essa fonte que cumpre fazer remontar esses princípios modernos de liberdade desenfreada sonhados e promulgados por entre as grandes perturbações do século último, como os princípios e fundamentos de um “direito novo”, até então desconhecidos e sobre mais de um ponto em desacordo não somente com o direito cristão, mas com o direito natural.
(Excerto de: LEÃO XIII. Immortale Dei, 1º/11/1885)
Da revolução burguesa à proletária
Depois da revolução burguesa de 1789, tinha chegado a hora para uma nova revolução: a proletária. O progresso não podia limitar-se a avançar de forma linear e com pequenos passos. Urgia o salto revolucionário.
Karl Marx recolheu este apelo do momento e, com vigor de linguagem e de pensamento, procurou iniciar este novo passo grande e, como supunha, definitivo da História rumo à salvação, rumo àquilo que Kant tinha qualificado como o “reino de Deus”. […]
Com pontual precisão, embora de forma unilateralmente parcial, Marx descreveu a situação do seu tempo e ilustrou, com grande capacidade analítica, as vias para a revolução. E não só teoricamente, pois com o partido comunista, nascido do manifesto comunista de 1848, também a iniciou concretamente.
A sua promessa, graças à agudeza das análises e à clara indicação dos instrumentos para a mudança radical, fascinou e não cessa de fascinar ainda hoje. E a revolução deu-se, depois, na forma mais radical na Rússia. Com a sua vitória, porém, tornou-se evidente também o erro fundamental de Marx.
(Excertos de: BENTO XVI. Spe salvi, 30/11/2007)
Do comunismo à libertinagem: “não” a Deus, “não” à moral, “não” às leis
Em algumas correntes do pensamento moderno, chegou-se a exaltar a liberdade até ao ponto de se tornar um absoluto, que seria a fonte dos valores. Nesta direção, movem-se as doutrinas que perderam o sentido da transcendência ou as que são explicitamente ateias.
“Não obstante as forças que contra ela conspiram, a Igreja continua a estender sua ação no mundo, pois o demônio foi expulso por Cristo”.
Atribuíram-se à consciência individual as prerrogativas de instância suprema do juízo moral, que decide categórica e infalivelmente o bem e o mal. À afirmação do dever de seguir a própria consciência foi indevidamente acrescentada aquela outra de que o juízo moral é verdadeiro pelo próprio fato de provir da consciência.
Deste modo, porém, a imprescindível exigência de verdade desapareceu em prol de um critério de sinceridade, de autenticidade, de “acordo consigo próprio”, a ponto de se ter chegado a uma concepção radicalmente subjetivista do juízo moral.
(Excerto de: SÃO JOÃO PAULO II. Veritatis splendor, 6/8/1993)
No fim do processo, o triunfo de Nossa Senhora e da Igreja
Essa perseguição, [a Igreja] a conhece, pois a sofreu em todos os tempos e lugares. Muitos séculos passados por ela no derramamento de sangue dão-lhe, assim, o direito de proclamar com santa ufania que não a teme, e saberá enfrentá-la sempre que for necessário.
(Excerto de: SÃO PIO X. Une fois encore, 6/1/1907)
Não queremos que o quadro da dolorosa condição presente venha abalar no ânimo dos fiéis a fé no auxílio divino; pois Deus proverá, a seu tempo e por vias misteriosas, a vitória final. […] Não obstante as forças que contra ela conspiram, continua a Igreja, destituída de todo auxílio e apoio humano, a estender sua ação aos mais diversos ambientes. Não, o antigo príncipe deste mundo não mais poderá dominar como antes, pois foi expulso por Jesus Cristo, e as tentativas de Satã, embora causem muitos males, jamais conseguirão o triunfo supremo.
(Excertos de: LEÃO XIII. Parvenu, 19/3/1902)