Em 15 de junho de 1931, com apenas 12 anos de idade, Albertina foi agarrada no meio de uma mata por um homem que julgava poder abusar da debilidade dela. Não imaginava ele que a fé e o amor à virtude davam à jovenzinha uma força insuspeitada.
Enfurecido pela heroica resistência encontrada, desferiu nela um profundo golpe de faca na garganta, logo seguido de outros, até prostrá-la ao solo, ensanguentada e morta… mas virgem e pura!
O autor do livro: Castidade Heroica: A Serva de Deus Albertina Berkenbrock, diácono permanente da Arquidiocese de São Paulo, retrata a breve existência da menina que vem sendo chamada de “Santa Maria Goretti brasileira”.
Arautos do Evangelho: Já antes de seu martírio, Albertina era uma menina virtuosa?
Diácono Aury Brunetti: Desde muito criança. Sua família era piedosa, e com firmes raízes católicas, que vinham do tempo de seus antepassados alemães. E os pais de Albertina lhe deram uma boa formação moral e espiritual.
Ela sempre foi discreta, gostava de ficar recolhida e era assídua nas orações. Tomava muito a sério a vida de piedade. Era também caridosa e de um trato afável.
No curso de catecismo foi excelente aluna. Seus caderninhos de anotações demonstram como vivia e se movia em função da fé.
Aliás, o seu professor na escolinha testemunhou que ela revelava uma situação religiosa e moral superior às crianças da sua idade. E sua virtude da fortaleza ficou demonstrada no seu martírio.
AE: As circunstâncias de sua morte foram esclarecidas?
DAB: Sim, em todos os pormenores, que foram narrados pelo próprio assassino no depoimento do processo criminal. Condenado a 30 anos de prisão, faleceu quando tinha cumprido apenas 18.
AE: E a reação popular foi imediata, no sentido de reconhecer o heroísmo dela?
DAB: Desde o começo. Não demorou muito para se espalhar a fama de santidade de Albertina, a pequena mártir da castidade, e as peregrinações ao seu túmulo aumentaram a cada dia.
AE: Há relatos de graças recebidas por intercessão dela?
DAB: Muitos! Junto ao túmulo, os ex-votos começam a surgir. A sobrinha dela, Norma Berkenbrock, está escrevendo um livrinho para falar disso tudo. Na boca do povo, Albertina é chamada de “santa”. É muito importante dar conhecimento dessas graças, inclusive para acelerar o processo de beatificação.
Aliás, a perseverança do povo numa devoção, o constante afluxo de fiéis à sepultura de alguém que praticou verdadeiramente a virtude, embora não seja um dado decisivo, é um dos indícios da santidade daquela pessoa, que a Igreja leva em conta para beatificar e canonizar. Vox populi, vox Dei, como se diz, que no fim se torna vox Ecclesiae, vox Dei.
AE: Sobre a situação do processo de beatificação de Albertina, em Roma, como está ele hoje?
DAB: Até 1952, quando o processo dela começou em Florianópolis, as iniciativas haviam sido muito morosas. Em 1960, quando estive em Tubarão pela primeira vez, fiquei sabendo que a causa continuava demorada.
Mas Dom Hilário Moser, o atual Bispo de Tubarão (diocese na qual fica hoje a terra de Albertina), retomou a causa da beatificação, e está trabalhando com o novo postulador, frei Paulo Lombardo, franciscano residente em Roma.
Parece que agora a causa está colocada entre as prioritárias. No momento essas causas prioritárias são três mil! número até consolador… Mas como Albertina é proposta como mártir, seu processo deve ser mais rápido, mais sumário, pois ela já deu a prova maior de heroicidade.
AE: Relatando esse heroísmo de uma pessoa tão jovem, seu livro é um valioso apoio para a evangelização, no sentido de resgatar a juventude para a Igreja.
DAB: Com toda a certeza! O tema é atual e de uma importância fundamental. Na recente Jornada Mundial da Juventude, no Canadá, o próprio Papa insistiu com os jovens sobre a necessidade da pureza.
Isto porque a esperança da sociedade e da Igreja está nos jovens. O Papa quer uma juventude casta, uma juventude pura.
E a Igreja é a portadora da palavra capaz de iluminar a mente dos jovens, persuadindo-os a respeito do paraíso que é a castidade. O próprio Homem-Deus foi quem apontou para os efeitos benéficos da castidade: “Os puros verão a Deus”.
Aliás, você já terá observado que, em vários países, muita gente conceituada está propondo o retorno à prática da castidade, inclusive como antídoto contra a epidemia da AIDS, que vem matando milhões de seres humanos.
Nós, católicos, adotamos a prática da castidade – cada qual segundo seu estado de vida – acima de tudo por motivo de fé, por amor a Deus.
E por causa daquela bem-aventurança proclamada por Jesus: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”. Mas nós não somos os únicos beneficiados. Dessa prática decorrem também bons frutos para a saúde da grande família que é a humanidade.
AE: Seu livro tem o sentido de uma conclamação?
DAB: Exatamente. Sempre digo que este meu livro quer ser um chamado, um convite à juventude para a restauração, para a reabilitação da castidade.
A prática da castidade encontra hoje muita dificuldade, em razão da banalização do sexo e de tudo quanto é oferecido pela atual sociedade, muito relativista e hedonista.
Os meios de comunicação deturpam, desqualificam muito a grande e sublime temática do Amor, com “A” maiúsculo.
Acho que divulgar o martírio dessa jovem brasileira é colaborar com o apelo do Papa em seu zelo de pastor, conclamando a juventude à virtude da castidade, hoje em dia tão ironizada e combatida pela publicidade escrita, visual, etc.
AE: O livro tem encontrado alguma oposição?
DAB: No âmbito católico não recebeu diretamente nenhuma contradição. Até aí, nada de novo, pois se trata de um livro escrito dentro da Igreja, publicado por uma editora católica, a Ave-Maria.
Quanto aos agentes da publicidade, esses, naturalmente, não estarão muito afinados conosco… Pode ser até que eles zombem.
Mas é curioso notar o seguinte: no fundo, eles têm recebido esse livro com um certo respeito, até com uma certa nostalgia. Na verdade, há um reconhecimento. O livro desperta manifestações de admiração que nos deixam surpreendidos!
AE: Uma mensagem para terminarmos…
DAB: Agradecendo essa oportunidade de falar aos leitores da revista Arautos do Evangelho sobre um tema tão bonito e importante como é o da castidade, gostaria de manifestar uma palavra de admiração pelo trabalho que vocês fazem.
No fundo, é a graça de Deus que está trabalhando, permitindo a vocês reunirem esses jovens todos, conseguir deles essa disciplina, essa vivência religiosa.
E digo isto como professor que fui. E gostaria de estimular esses jovens a manterem uma vida de oração fervorosa, a procurar incessantemente a santidade.
Mas também a se firmarem nos três pilares da espiritualidade dos Arautos do Evangelho, que, aliás, coincidem com aqueles três grandes amores de Santo Antônio Maria Claret (sou ex-aluno claretiano, e continuo sendo claretiano de coração): amor à Eucaristia, a Maria e ao Papa.