Ao criar o Universo, Deus quis dar ao homem a faculdade de completar muitos aspectos de sua obra divina. Criou Ele um mundo de seres que, para alcançar a plenitude de sua beleza, deveriam ser manipulados pela arte humana.

É isso o que se dá com as pedras preciosas, por exemplo. Em seu estado natural, onde estão como Deus as criou, não apresentam, nem de longe, a beleza que têm quando lapidadas e polidas. Então, sim, dão de si tudo quanto podem dar.

Segundo a expressão de Dante, todas essas criaturas que o homem aperfeiçoa podem ser chamadas “netas de Deus”, pois constituem uma como que segunda geração, nascida da matéria que saiu diretamente das mãos de Deus.

Uma esplêndida obra de arte, “neta portuguesa de Deus”, é a Torre de Belém.

Proporções equilibradas, harmonia, beleza de concepção. Predicados que fazem da Torre de Belém o sonho de qualquer arquiteto. 

Muitas vezes, ao contemplá-la, somos levados a esquecer que se trata de uma fortaleza, pois a leveza de seus ângulos e o rendilhado de seus detalhes, dir-se-ia serem mais próprios a um palácio.

Forte e recolhida, a Torre considera com natural superioridade tudo quanto está a seus pés, sumamente cônscia de sua própria dignidade.

Porém, como boa lusitana, não lhe poderiam faltar a doçura, o mimo e a bondade. Ela parece atrair aqueles que a contemplam, sem excluir ninguém, e os convida a admirar sua beleza.

Há também na Torre um curioso efeito cromático: o branco das pedras com que foi construída é de uma tal alvura que a faz parecer feita de nuvens ou de flocos de neve, e não de pedras. Esse efeito irreal dá à Torre algo de conto de fadas.

A Torre de Belém parece elevar a Deus uma prece, na qual agradece o passado e pede pelo futuro. Pede luz para o porvir de seus filhos lusitanos e também – por que não? – de seus “netos” brasileiros.