Eram os últimos dias das férias escolares.
Numa das casas do Setor Feminino dos Arautos, localizada em São Paulo no histórico bairro do Ipiranga, dezenas de adolescentes participavam de um animado simpósio de formação, no qual não faltavam jogos e entretenimentos próprios à idade.
Não faltou também a presença de um zeloso sacerdote para dar-lhes assistência espiritual.
Muito compreensivo para com os problemas da juventude, atendeu a todas com bondade e… observou tudo com olhos de pastor vigilante. Ao despedir-se, comentou:
— Quanta vitalidade e alegria! Mas, sobretudo, quanta piedade sincera! Como vocês conseguem atrair e formar assim essas mocinhas?
O “segredo” para evangelizar está na prática da virtude
A resposta é muito simples. E julgo que o leitor também gostará de conhecê-la.
Nada proporciona tanta alegria e felicidade quanto a prática da virtude. E essa alegria e felicidade autênticas atraem fortemente outras jovens. Os exemplos arrastam…
Vou escolher um caso, entre dezenas.
No colégio, uma menina narra com entusiasmo a suas colegas como passou o fim de semana num acampamento promovido pelo Setor Feminino dos Arautos do Evangelho.
Relata os jogos de que participou, as peças teatrais encenadas, as orações, as cerimônias emocionantes em honra de Nossa Senhora, cuja imagem a tudo presidia com seu olhar e sorriso maternal…
Ouvindo isso, as outras ficam predispostas a aceitar um convite para participar do próximo acampamento, ou assistir a uma esplendorosa cerimônia na Catedral da Sé, ou, simplesmente, fazer uma visita à casa dos Arautos.
É este um dos modos pelo qual grande número de adolescentes trava conhecimento com os Arautos e começa a tomar parte dos programas de formação realizados especialmente para elas nos fins de semana.
Logo na primeira visita à casa dos Arautos, o que mais as cativa é a benquerença, o convívio ameno. Depois, a animação e variedade de programas.
Todas gostam de jogos entretidos, excursões, acampamentos. Saltar na grama, correr pelos bosques e, inclusive, de vez em quando, voltar com algum pequeno aranhão… são coisas rotineiras nessa idade. E como poderia ser diferente?
Uma das grandes atrações é sempre a “caça ao tesouro”. Divididas em dois grupos, cada um com seu mapa, as meninas partem à procura do tesouro, bem escondido em algum canto de difícil acesso.
No caso, um “velho” baú cheio de bombons e outras guloseimas do gênero. Após longa e empenhada busca, um dos grupos festeja ruidosamente a vitória e… com caridade reparte as “preciosidades” com a equipe derrotada.
Todas, também, apreciam a beleza e a arte, mas cada qual tem sua preferência pessoal.
Assim, enquanto algumas dão os primeiros passos no manejo de um instrumento musical, outras recebem aulas de desenho ou pintura, muitas exercitam-se na arte coral ou cênica, e assim por diante.
E há as que preferem a leitura ou o jogo de xadrez.
Há inteira liberdade de escolha, e atividades para todos os gostos!
Na hora do lanche, acontece de haver mais gente falando do que ouvindo… fenômeno bastante natural nessa idade.
Tudo, porém, num clima de mútua estima e benquerença, que conquista a simpatia e prepara as mentes para ouvirem com interesse pequenas exposições sobre a fé, a importância da oração, passagens do Evangelho, lições da História, contos formativos e assuntos culturais diversos.
Mas engana-se redondamente o leitor, se julga que essas exposições são feitas em tom professoral, com ares de aula de Teologia.
Nem de longe! São temas apresentados de forma viva, atraente, ilustrados com breves encenações teatrais, aplicados aos problemas da vida quotidiana.
“A alma humana é naturalmente cristã”, afirmou com acerto Tertuliano. E a juventude hodierna tem sede de espiritualidade, insiste nosso Papa João Paulo II.
Assim conduzidas com tato e, sobretudo, com afeto, em pouco tempo essas almas juvenis tomam gosto pela oração, pelas cerimônias religiosas, enfim, por uma vida de piedade autêntica.
É este um dos “segredos” do método de formação dos Arautos do Evangelho.
Alguns testemunhos eloquentes
Qual o resultado dessas atividades? O leitor já conhece o comentário do sacerdote, mencionado no início. Veja agora o testemunho pessoal de algumas dessas jovens.
Ingrid Macedo da Silva, 12 anos, é entusiasta das aulas de música:
Antes, música para mim era ouvir o que tocava na rádio e sair cantando a mesma coisa. Aqui aprendi que música não é só isso.
A música é uma arte que pode transmitir muitas coisas, é até uma forma de glorificar a Deus. Por exemplo, o Stille Nacht (“Noite Feliz”) agora é minha canção preferida.
Depois de conhecer a origem deste cântico natalino, ele ficou gravado nos meus ouvidos, não consigo mais esquecê-lo.
Graciele Arakaki, 13 anos, comenta:
Eu gosto muito dos teatros que são apresentados. Em certas televisões se assiste a cenas de violência. Pelo contrário, aqui as peças só transmitem coisas boas, como milagres, exemplos de virtude ou vida de santos. Isso sim, é que é teatro para mim!
Está bem – poderia alguém objetar – elas são meninas e por isso apreciam os jogos, os passeios, os teatros, e atividades do gênero. Mas, e as ações mais sérias?
Ouça os depoimentos de duas delas.
Amanda Guimarães, de 12 anos, clara: “Eu gosto muito das reuniões, dos teatros… Mas o que mais me agrada é ficar na capela. Gosto de ficar lá rezando, sinto muita paz”.
Nayara Cursino, 13 anos, acrescenta:
Quando fazemos adoração ao Santíssimo Sacramento, é uma maravilha! Não sinto o tempo passar na capela, ou melhor, passa rapidinho. Sinto vontade de rezar. Sei que é Deus que está ali, pronto para atender meus pedidos.
— Ah… e o que você pede a Jesus? – perguntou-lhe, indiscretamente, uma colega.
— Peço muito para ser santa – confidenciou ela – e muitas outras coisas, para minha mãe e para tantas outras pessoas de quem gosto.
Os bons resultados de todo esse trabalho
Assim, no correr dos anos, passam semanalmente pelas casas do Setor Feminino dos Arautos do Evangelho centenas e centenas de moças.
Muitas vão apenas uma, duas ou três vezes. Outras beneficiam-se de longos períodos de convívio e formação, depois seguem seu curso na vida.
O que resta, então, deste trabalho de evangelização? Mais do que se pensaria a primeira vista!
Umas mais, outras menos, todas recebem – e dão – exemplos de amor a Deus, de dedicação à Igreja e ao próximo, incentivo à prática da virtude.
Todas aprimoram seus dotes e aptidões naturais, no campo das artes e dos estudos, e, portanto, ficam melhor aparelhadas para desempenhar a missão à qual Deus as chama.
Em sua grande maioria, serão esposas e mães, talvez professoras, advogadas, médicas, etc. Excelente!
Algumas receberão uma vocação mais alcandorada e se tornarão freiras em algum mosteiro de vida contemplativa ou em alguma congregação religiosa dedicada ao ensino, às missões ou a qualquer outra atividade beneficente. Isso nos rejubila enormemente!
Não faltarão, enfim, aquelas que sentiram em seu coração um convite de Jesus para juntar-se aos Arautos do Evangelho, a serviço do Papa na Nova Evangelização. São elas muito bem-vindas!
Onde está a verdadeira felicidade?
Encerro contando o caso de uma dessas moças.
Morava ela numa bela cidade de Santa Catarina. Na flor da juventude, tinha muitas colegas com as quais se divertia, sem outra preocupação que a do esforço para cumprir o currículo escolar.
Certa noite, retornando de uma festa, entrou ela em casa melancólica e pensativa. Estranhada, perguntava-se a si própria: “A festa não tinha sido boa? Sim, bastante. Então, de onde vinha esse sentimento de frustração, de vazio?”
Enquanto ainda ruminava em seu espírito essa sensação paradoxal, vê entrar seu irmão caçula, com uma fisionomia transbordante de alegria e felicidade.
— De onde vem você? – perguntou-lhe intrigada.
— Ah! você nem imagina!
E de um só jato contou-lhe o irmãozinho que estava chegando da casa dos Arautos do Evangelho.
Ali assistira a uma peça teatral, ouvira uma conferência sobre o heroísmo e a santidade, encontrara autênticos amigos, rezara um terço do Rosário, etc. E concluiu eufórico:
— Olhe, hoje aprendi a mais importante lição da minha vida: só a prática da virtude dá verdadeira felicidade. Nunca vou me esquecer disso!
Ajudada por uma inestimável graça de Nossa Senhora, a moça raciocinou: “Então, eu me diverti o quanto quis e estou assim triste e frustrada, enquanto ele passou a noite ouvindo conferência e rezando, sente-se tão feliz! Amanhã mesmo vou tirar isto a limpo!”
De fato, no dia seguinte pediu mais informações ao seu pequeno irmão, foi visitar a casa dos Arautos na cidade, gostou muito, voltou várias vezes.
Pouco tempo depois, viajou a São Paulo, para conhecer a Casa-Mãe da Associação, ficou encantada com tudo, especialmente com a capela.
Lá viu pela primeira vez alguém com o Hábito dos Arautos: justamente nosso Presidente Geral, com o qual conversou largamente.
Mudou de vida, engajou-se nas atividades de apostolado nos lares e nas paróquias, desejosa de transmitir aos outros a felicidade que transbordava de sua alma. Por fim, realizou seu maior sonho: em solene cerimônia na Igreja de São Gabriel fez sua consagração a Nossa Senhora e recebeu o formoso hábito dos Arautos.
Como se chama ela? – Solange.
Onde se encontra presentemente? – No México, em Missão dos Arautos, formando um bom número de apostolandas.