Uma imagem de nosso Salvador carregando a Cruz, venerada sob a invocação de Nuestro Padre Jesús El Rico, é levada em procissão na noite de Quarta-Feira Santa pelas ruas de Málaga, Espanha.

Na Plaza del Obispo, o cortejo se detém e os carregadores depositam no solo o pesado andor. Ali está, ansioso, à espera da imagem, um recluso do Centro Penitenciário de Alhaurín de la Torre.

Acionado por um engenhoso mecanismo, o braço de El Rico se ergue e traça no ar uma cruz, pela qual concede ao condenado o perdão da pena que lhe restava cumprir. E o feliz indultado une-se à procissão.

Qual a origem deste privilégio?

Ele remonta ao ano de 1759, quando uma terrível peste assolou a cidade de Málaga. Asilos e hospitais estavam abarrotados, tornando difíceis as tradicionais celebrações de Semana Santa.

No cárcere da cidade, onde ainda não grassara a doença, os presidiários pediram autorização para carregar em procissão a imagem de Jesus Nazareno venerada no vizinho Convento de San Luis el Real.

Por temor a uma fuga, a permissão foi-lhes negada. Entretanto, os detentos se amotinaram, apoderaram-se da imagem de Jesús El Rico e a carregaram em triunfo pelas ruas da cidade.

Devolveram-na depois ao convento e retornaram todos ao cárcere. Nenhum aproveitou a ocasião para fugir.

Comovido pela generosa ação desses presidiários, o rei Carlos III concedeu ao Doce Jesus o privilégio de libertar um preso toda Quarta-Feira Santa. E o costume até hoje se mantém.