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Eucaristia


Somar e não excluir
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 30/07/2019
 
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Divina em sua instituição e constantemente assistida pelo Espírito Santo, a Igreja atravessa os séculos gozando de imortalidade. Em um mundo secularizado e materialista, ela não permanece ou “sobrevive”, não; se desenvolve, cresce, amparada com a segurança de que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt. 16, 18).

Ela vive da Eucaristia e é através deste santo memorial que se cumpre à cabalidade a promessa do Senhor: “E eis que estarei convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt. 28, 20).

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Já nos Atos dos Apóstolos se diz que a primeira comunidade cristã “se reunia assiduamente para escutar o ensinamento dos Apóstolos e participar na vida comum, na fração do pão e nas orações” (Atos 2, 42). E uma piedosa intuição cheia de sentido, imagina os momentos imediatamente prévios ao fim do mundo, no qual o Divino Juiz espera o término de uma última Missa hipotética que estaria sendo celebrada na terra, para fechar a história e julgar os vivos e mortos. De fato, a Eucaristia abarca e enche a história humana, seja como prefigura no Antigo Testamento, seja como sacramento no Novo.

Ao longo dos tempos, sempre houve a propósito dela controvérsias que afinal resultaram saudáveis para a Fé, pois serviram para esclarecer e definir a verdade e instruir aos fiéis.

Simplificando um tanto, se pode dizer que no primeiro milênio da era cristã, a Eucaristia era cultuada somente durante a celebração da Missa, sem dar especial atenção às Sagradas Espécies que se reservavam sobretudo para dar a comunhão aos enfermos e aos ausentes.

Já no segundo milênio, se impulsionou o culto eucarístico fora da Missa com adorações diante do sacrário, exposições, vigílias, procissões, Quintas Eucarísticas, etc; e isso, como resposta a erros que foram surgindo contra a presença real por parte dos maus cristãos e/ou de hereges confessos.

Mas o certo é que também nos primeiros séculos, não se deixava de adorar nem de recorrer ao Santíssimo fora da celebração, como vemos em um interessantíssimo e encantador testemunho de São Gregório Nazianzeno (século IV) que vale a pena citar. Este Doutor da Igreja que foi Arcebispo de Constantinopla, tinha uma irmã, Gorgonia, que padecia uma grave enfermidade. Diz o santo:

“Deposta toda esperança nas ajudas terrenas, recorreu ela ao médico de todos os mortais. No profundo da noite, em um momento em que a enfermidade mais a atormentava, se jogou cheia de Fé aos pés do altar e, no ímpeto de uma piedosa e confiada confidência, começou a invocar Aquele que é honrado sobre o altar (…) Quis depois imitar a mulher que tinha sido curada ao tocar as bordas do manto de Cristo; O que fazer então? Aproximou sua cabeça do altar com o mesmo clamor e abundantes lágrimas que aquela que antigamente havia banhado os pés de Cristo (…) Depois que mesclou suas lágrimas com as espécies do precioso Corpo e Sangue, se sentiu subitamente livre do mal, renovada de corpo, de alma e de espírito, tendo obtido, como resposta a sua firme Fé, a cura”. Sermão 8, 18. (Guillermo Pons, “La Eucaristía en los Padres de la Iglesia”, Ciudad Nueva, Madrid, 2010, pag. 64).

Gravemente enferma, Gorgonia acudiu durante a noite ao Médico Divino oculto sob o véu do sacramento, e foi curada.

Dando agora um salto maratônico, passemos do século IV ao século XX.

Em certos teólogos e correntes litúrgicas que propiciaram a reunião do Concílio Vaticano II e que se serviram posteriormente dele, interpretando-o segundo suas opções, se pretendeu “voltar às origens” dando à Eucaristia seu suposto sentido original que seria exclusivo: o de ser comida em uma assembleia de fiéis. A adoração individual ou pública, fora da celebração, iria na contramão do culto eucarístico.

Mas, porque simplificar sem matizes, optando pela comunhão e excluindo a adoração? A complementariedade de ambas coisas -sempre privilegiando, claro, a comunhão do Pão da vida- acaso não seria uma riqueza?

Na aurora do terceiro milênio, Bento XVI se referiu a esse erro ao dirigir umas palavras aos Cardeais, Arcebispos, Bispos e Prelados da Cúria Romana no dia 22 de dezembro de 2005.

Para mim é comovedor ver como em toda parte na Igreja está se despertando a alegria da adoração eucarística e se manifestam seus frutos. No período da reforma litúrgica, aos poucos a missa e a adoração fora dela se viram como opostas entre si; segundo uma objeção então difundida, o Pão eucarístico não nos teria sido dado para ser contemplado, mas para ser comido. Na experiência de oração da Igreja já se manifestou a falta do sentido dessa contraposição. Já Santo Agostinho havia dito: “Ninguém come esta carne sem antes adorá-la; … pecaríamos se não a adorássemos”.

Conclusão: adorar sempre; antes, durante e depois da celebração. Porque a adorabilidade da Eucaristia é a consequência prática da permanência do Senhor nela. Subestimar a adoração é fazer com que a crença na presença real de Cristo seja uma mera declamação sem efeitos.

É que não se trata de excluir ou de tirar, mas de somar!

Por Padre Rafael Ibarguren, EP

(Publicado originalmente em https://www.opera-eucharistica.org/)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

 
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