Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Arautos


Artigos


Evangelho do 6º Domingo da Páscoa
 
AUTOR: MONS. JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
1
0
 
Fácil é relembrar, mas nem sempre o é cumprir, o mandato evangélico de amar ao próximo como a si mesmo. Pouco antes de sua Paixão, Nosso Senhor traçou os vastos limites da caridade que devemos ter uns pelos outros.
Mons. João Clá Dias

Mons. João S. Clá Dias

O amor de Deus por nós é que nos converte

O Evangelho deste 6º Domingo da Páscoa nos dá o verdadeiro sentido da palavra amor, numa perspectiva completamente diferente.

Se tivéssemos uma noção do amor que o Criador tem por cada um de nós, talvez fôssemos capazes de avaliar com exatidão a medida com que devemos amá-Lo.

Mas, sendo Deus a Humildade em substância, Ele frequentemente não mostra a mão quando intervém nos acontecimentos, para nos converter ou nos sustentar na fé. Deste modo, corremos o risco de formar uma ideia muito irreal da solicitude divina em relação a nós.

Somos, por exemplo, católicos apostólicos romanos, e pensamos ter sido nós mesmos os que escolhemos a Deus, quando, por nossas próprias forças, jamais seríamos capazes nem sequer de praticar de maneira estável os Dez Mandamentos.

No referente à nossa conversão, é sempre o Criador quem toma a iniciativa. Foi Ele que nos criou, Ele que nos escolheu para fazermos parte da Igreja, e é Ele quem nos dá as graças indispensáveis para segui-Lo.

A reciprocidade de nosso amor para com Deus

Nosso Senhor no Evangelho exorta os discípulos: “Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4). Depois Ele faz esta afirmação, simples à primeira vista: “Como meu Pai Me amou, assim também vos amei”.

Ora, este amor é de uma grandeza absolutamente inacessível para nossa humana inteligência. E, no entanto, é o que Cristo tem por cada um de nós, conforme indicam com tanta clareza as expressões “como” e “assim também”, as quais significam: guardadas as proporções, com a mesma intensidade e da mesma maneira.

Ninguém jamais nos amou nem nos amará como Cristo”. Como seremos, então, capazes de retribuir- Lhe?

Nosso Senhor completa a impressionante afirmação acima citada — “assim também Eu vos amei” — com uma não menos comovedora exortação: “Permanecei no meu amor”. É como se nos dissesse: “Aproveitem esta minha benquerença e façam tudo para não desmerecê-la. Fiquem ao alcance do meu afeto e deixem que ele se desdobre por cada um”.

Quem ama deseja ser amado e encontra nesta reciprocidade sua alegria. Um mestre espera dos seus alunos correspondência ao afeto que ele lhes tem, e um comandante que preza o seu exército fica contente de ver que seus soldados também o estimam. Guardadas as proporções, o mesmo acontece com Deus.

Não pôr obstáculos ao amor de Deus por nós

É preciso, pois, que atuemos com a mesma correspondência em relação ao substancioso amor que Jesus nos dá, tornando- nos dignos de ser queridos por Ele. E para isso, basta não pormos obstáculos ao afeto que Ele tem por cada um. Se assim procedermos, não será preciso esforço para sermos santos, mas sim para não sê-lo. Não é outro o sentido da expressão “Si tú Le dejas… — Se tu O deixas…”, repetida com frequência por Santa Maravilhas de Jesus a suas filhas espirituais.

O amor se prova com as obras

O modo de permanecer no amor recíproco iniciado por Deus está — diz-nos Jesus no Evangelho — em observar os seus Mandamentos, porque o amor se prova com as obras. Da mesma forma que demonstramos estima por um superior terreno seguindo as determinações que ele nos dá, para permanecermos no amor de Deus é preciso que guardemos sua Lei. Entretanto, jamais conseguiremos cumprir os preceitos divinos sem amar o Legislador.

Explica o padre Garrigou-Lagrange: “Devemos amá-Lo como ao grande amigo que primeiro nos amou e é infinitamente melhor, em Si mesmo, do que todos os seus benefícios somados. Dizer que devemos amá-Lo assim é afirmar que precisamos querer o cumprimento de sua santa vontade, com eficácia, expressa por seus preceitos; ou seja, devemos desejar que Ele reine de fato no mais profundo de nossas almas, e seja glorificado por toda a eternidade”.[1]

O exemplo supremo de como devemos amar a Deus

Exemplo arquetípico e supremo desta reversibilidade é o próprio Jesus. A prova da integridade do seu amor pelo Pai estava nas virtudes e atos por Ele praticados.

Pois o enlevo por um superior, afirma Plinio Corrêa de Oliveira,[2] não se desdobra apenas em veneração e ternura, mas deve trazer como fruto o serviço, a obediência e o holocausto.

Nosso Senhor permaneceu no Pai e o Pai permaneceu n’Ele porque Cristo jamais deixou de cumprir nem uma vírgula da Lei. Pelo contrário, submeteu-Se de maneira perfeitíssima aos desígnios do Pai, até a morte, e morte de Cruz.

O verdadeiro sentido da palavra “amor”

O Evangelho deste 6º Domingo da Páscoa, tão rica em ensinamentos, convidando-nos para o mais elevado relacionamento que seja possível alcançar nesta Terra: a amizade com Jesus.

Peçamos, pois, neste domingo, a graça de reger nosso amor a Deus e ao próximo segundo a medida infinita da benquerença divina. E tenhamos bem presente em nossos corações o alerta que em sua Encíclica Caritas in veritate o Papa Bento XVI nos fez: “Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente”.[3]

1) GARRIGOU-LAGRANGE, op. cit., p.167-168.
2) Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo, 8 abr. 1967
3) BENTO XVI. Caritas in veritate, n.3.

Acompanhe também o

Evangelho Diário

 

FacebookTwitterInstagram
 
Comentários