Padroeiro das Terras de Santa Cruz

Pelo Brasil afora andou o Padre Anchieta.

Ainda quando este país era apenas a faixa litorânea, São José de Anchieta foi atrás de almas que estavam perdidas e feridas pelo paganismo voraz e cruel.

Em suas jornadas, muitos milagres e fenômenos místicos foram relatados pelos seus acompanhantes, que nos legaram seus escritos.

Oração embaixo d’água

Conta-se que o Padre Anchieta pegou um barquinho com intuito de navegar pelo Rio Tietê rumo ao seu interior até então desconhecido.

Alguns poucos se ofereceram para ir com ele, e, tendo acertado todos os detalhes, ele partiu.

No meio da viagem, uma tempestade se abateu e o barco começou a se inclinar perigosamente.

Sem ter aprendido a nadar, São José de Anchieta caiu nas águas do Tietê, enquanto alguns mergulhavam para ir ao seu encontro.

O cronista narra que se passaram pelos menos trinta minutos em buscas incessantes, mas não o encontraram.

Já desesperados pelo sucedido, um dos integrantes voltou a mergulhar, e qual não foi sua surpresa ao encontrar o Padre Anchieta no fundo do rio, com o catecismo aberto, a estudar suas páginas!

Resgatado pelos amigos, quando já estava no barco, foi perguntado porque ele não nadara para encontrar os seus.

“Não sei nadar”, respondeu o padre, “então não perdi tempo: pus-me a estudar, esperando que um de vocês me achasse”.

Domínio sobre os animais

Percebemos o domínio do Padre Anchieta sobre a natureza primitiva, o que lhe valeu a alcunha de “Novo Adão”.

Entre outros fatos, seus contemporâneos falam que São José se dirigia aos animais ferozes e os admoestava a ficar longe das povoações indígenas e não os ferir: eram onças, gatos selvagens e até serpentes.

De outra vez, uma venenosa cobra picou um dos integrantes de suas viagens.

Ele se dirigiu a ela para repreendê-la, dizendo que o picado era um valioso membro para a comitiva da fé e o curou com suas orações.

Para o animal deu um mandato: que nunca mais uma cobra mordesse um missionário que estivesse evangelizando as terras do Brasil!

Padre Anchieta se encontra com o indígena ancião

Em outra ocasião, andava o Padre Anchieta pela selva fechada, seguindo uma trilha que seus companheiros desbravavam, quando, de repente, tendo todos parado perto de um riacho, São José pode ver um índio com os cabelos brancos como a neve, o rosto sem barba e o olhar iluminado pela idade o esperando, numa pingela, no meio do rio.

O Padre Anchieta se dirigiu ao índio e este lhe perguntou:

Ó viajante de preto, a quem espero por décadas, dizei-me onde está a verdade!

E o padre, vendo nessa fala um sinal do Senhor, perguntou ao indígena se este poderia lhe contar a sua história.

O índio, então, narrou-lhes os acontecimentos de sua vida, e de como, ainda pequenino, havia ficado intrigado com o bailar do sol e da lua.

Ele percebia que, dia após dia, ano após ano, este movimento dos astros acontecia regularmente, tanto que seu povo baseava sua vida nisso.

Curioso, perguntou ao pajé de sua tribo quem havia criado o sol e a lua.

Este lhe contou uma história que não o satisfez; continuou a perguntar repetidamente quem havia feito toda a natureza, e, se foram os deuses, como lhe respondiam, perguntava por que eles não criavam mais, ou como eles, que nas histórias eram tão violentos, podiam ter feito coisas tão pacíficas e maravilhosas.

Suas perguntas passaram de uma encantadora insistência para um incômodo constante.

O pajé decidiu que não lhe responderia mais, e o agora jovem índio quis sair em busca da verdade.

Numa noite, contemplando a luz branca da lua, e se perguntando onde estaria o criador dessa beleza, topou com um espírito puro, que não lhe deu medo, mas apenas o fascinou.

Este espírito, dirigindo-se até ele, disse:

— Meu caro, deveis descer até a beira do rio. Ali, um dia, você se encontrará com um homem todo vestido de preto. Ele vos contará toda a verdade.

E o índio havia permanecido ali, postado naquela beira, por toda sua vida, tal seu desejo de encontrar o Criador.

O Padre Anchieta, com lágrimas nos olhos, lhe narrou todo o catecismo, explicando-lhe tudo o que ele perguntava.

Saciado em seu coração, o índio pediu o batismo, que lhe foi dado na mesma hora.

Mal havia terminado o rito, com um sorriso no rosto, contente de ter encontrado o que tanto buscou, o indígena faleceu, indo encontrar o Criador que tanto amara.

(Cf. https://www.consagradosdefatima.org/site/sao-jose-de-anchieta-dedicacao-heroica-aos-indios.)