Historicamente, o que é o Carnaval?
Considerando essa celebração dentro do contexto do fim do antigo Império Romano, sabemos que sua origem vem de tradições católicas.
A etimologia da palavra Carnaval vem do termo em latim "carnis levare", que ao pé da letra se pode traduzir por "retirar a carne".
Sabemos que a Quarta-Feira de Cinzas ocorre quarenta e seis dias antes da Páscoa, marcando a abertura de um tempo de preparação e penitência: a Quaresma.
Esses quarenta dias, que simbolizam os quarenta anos do povo eleito peregrino pelo deserto, culminam na Páscoa da Ressurreição, festa máxima de nossa religião.
Porém, um dia antes da celebração da Quarta-feira de Cinzas deveria ocorre a comemoração de que falamos. Hoje ela é meramente civil, abrange profundamente a nação brasileira e adulterou o seu significado inicial, tornando-se uma "festa da carne".
Surge uma importante questão para o católico: é pecado participar do carnaval, como o conhecemos hoje?
O que é o pecado?
O pecado é uma transgressão voluntária à Lei de Deus.
Esta transgressão é uma ofensa, uma "bofetada" dada na Sagrada Face do Senhor.
Quando atentamos deliberadamente contra um de seus Mandamentos, entregues a Moisés sob a forma de tábuas de pedra, nossa falta acarreta a perda da graça divina, a expulsão da Santíssima Trindade do nosso coração e, com Ela, todas as virtudes e dons.
Quando ouvimos falar sobre a condição em que cai um pecador quando cede à tentação, pode parecer que a Lei do Senhor é uma prisão que nos mantém encarcerados.
Entretanto, esta Sagrada Lei está profundamente vinculada ao próprio ser do homem, de modo que somente quando o ser humano a pratica é que se desenvolve e progride física, intelectual e espiritualmente.
Portanto, de um lado da balança está a Lei de Deus, trazendo tudo o que é bom, como a disciplina, a constância, a esperança, a autoimagem adequada; em suma, a felicidade.
Do outro lado da balança está o pecado, com tudo o que é mal: a frustração, a preguiça, a decepção consigo mesmo e, no fim, a eterna tristeza.
Quando enxergamos assim, fica fácil decidir por qual lado optar.
O inimigo é astuto
Considerando que o pecado não tem nada de verdadeiramente bom a oferecer, é preciso que o demônio, ao nos tentar, maquie os frutos do pecado e os torne apresentáveis a nós.
Foi o que fez a Adão e Eva no Paraíso:
“Se comerdes este fruto, sereis como deuses...”.
De fato, a única coisa que faltava aos nossos primeiros pais na condição em que se encontravam, era serem como o Deus que os criara.
Assim, através do orgulho, o demônio ofereceu o pecado como um bem, escondendo as verdadeiras consequências.
O que Adão e Eva ganharam com seu pecado?
Foram expulsos do Paraíso Terrestre, perderam seus dons e começaram uma saga que se estende até nós: o sofrimento.
Não há ninguém que seja imune à dor!
Todos sabemos que, em algum momento, seremos tocados pelos dedos frios da morte, e assim, a própria existência começa a ser um peso e uma fadiga.
Conosco, o demônio usa da mesma tática: apresenta-nos uma ocasião de pecado prometendo a felicidade, a alegria, o êxtase; depois que pecamos, ele tira tudo o que prometeu e só nos resta a tristeza, o desapontamento e a falta de motivação.
O processo revolucionário
Depois de muitos anos de História, o "pai da mentira" pôs em curso um plano para perder ainda mais almas.
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira nos explica que, na Idade Média, o demônio foi subvertendo o conceito de heroísmo celeste, que havia na cavalaria cristã, para um heroísmo terreno, amoroso e romântico.
Esta tendência afetou o modo como os homens enxergam a realidade e se converteu numa ideia: dos romances nasceu a Renascença, o antropocentrismo.
Dr. Plinio chama este processo de "Revolução".
O principal objetivo da Revolução foi turvar e confundir as noções de bem e mal.
Assim, a partir deste início, onde a clave do pensamento humano tinha voltado aos tempos pagãos, foi apenas uma questão de tempo para que os costumes e hábitos também se paganizassem.
No começo, ainda havia as boas maneiras; mas esvaziadas do sentido da caridade cristã, se transformaram em manias e caprichos, que suscitaram uma nova revolta: a Revolução Francesa.
Em seguida, a classe burguesa, também paganizada, foi alvo da Revolução Comunista, como uma manifestação do pecador de não suportar nenhuma superioridade, nem mesmo financeira.
Por último, o que havia restado como uma casca vazia e sem sentido, a disciplina e a ordem cristãs, também caíram, com a Revolução Hippie.
A Revolução, como processo, conseguiu estender ao mundo o seu reinado de desordem: são as infinitas crises que vemos hoje.
O que o carnaval tem a ver com a Revolução?
A festa do carnaval tem uma origem cristã.
Numa época em que não era possível conservar a carne durante os quarenta dias do jejum quaresmal, era feito um banquete com as carnes mais diversas.
Já naquela época, alguns viam esta situação como uma “despedida de solteiro”.
Uma forma de se embebedar e se empanturrar, já que no dia seguinte fariam penitência e se redimiriam.
Entretanto, o carnaval não era uma festa de pecado.
E hoje?
Podemos dizer que o carnaval é uma festa onde existem pecadores, mas que não é pecado?
Infelizmente, o carnaval, como é celebrado hoje, é uma festa de pecado em sua essência.
Pois, como forma de celebração, é permitido o nudismo, a falta de decoro, a imprecação, as orgias libidinosas, tudo isso somado ao grotesco das fantasias, que maqueiam a maldade de suas verdadeiras intenções.
É a festa da mentira por excelência.
Este é o convite: “Venha, se esqueça do amanhã, se esqueça da ordem e da saúde; tornem-se seus desejos mais sujos, ninguém irá te julgar por se libertar!”
E o demônio, como sempre faz, tira justamente o que promete.
No final há o vazio, a frustração, a vergonha e a tristeza.
O cristão pode celebrar o carnaval?
Isto dito, ainda permanece uma pergunta: é pecado participar do carnaval?
Sim, se for o carnaval como o mundo o concebe: a festa da orgia, da bebedeira, da impureza, da violência e do paganismo.
Para estes, cedo ou tarde, o pecado irá lhes cobrar o preço.
O pecador não é feliz em suas escolhas.
Agora, se se aproveita o feriado do carnaval para uma honesta descontração, o convívio com os parentes e amigos ou para o descanso, ou seja, um carnaval longe do pecado, o católico pode celebrá-lo.
Dr. Plinio, ainda mocinho, celebrava o carnaval; sua própria mãe lhe costurava as fantasias.
Na década de 20, sem que o carnaval houvesse sido tomado pelo sentido de pecado que tem hoje, era uma festa do maravilhoso.
Ainda era uma festa com pecadores, mas não uma festa de pecados.
Ou, se quiserem, ainda não era uma festa revolucionária.
Que Nossa Senhora conceda a todos um carnaval marcado pela virtude, pelo descanso e pela santidade.