No próximo domingo, celebraremos a solenidade de Cristo Rei.

É o último domingo do Tempo Comum, que termina o ano litúrgico e abre um novo ano com o Primeiro Domingo do Advento, a preparação cristã para o Santo Natal.

Portanto, para representar esta virada litúrgica, a festa de Nosso Senhor Rei do universo evoca os acontecimentos últimos da História da humanidade, narrados simbólica e piedosamente no Apocalipse, quando Cristo virá em sua glória e majestade.

Entretanto, entre sua primeira descida à Terra, como Menino, e sua segunda, como um General vitorioso, temos ainda uma vinda intermediária que acontece durante a nossa vida.

Com esta terceira, portanto, Cristo deve ser Rei três vezes.

Primeira vinda e primeiro reinado: “Nasceu-nos um Menino” (Is 9, 6)

No Santíssimo Natal, celebramos a pequenina e frágil Criança que nasceu do ventre puríssimo de Nossa Senhora.

Vindo a “um vaso de barro”, como se refere São Paulo quando fala de nossa carne, Jesus assumiu a nossa natureza, aceitando o sofrimento para comprar a nossa Redenção.

É por isto que, nessa vinda, Ele assume um reinado por conquista, pois, de dentro de nossa carne, enfrenta as potestades do mundo e do inferno, sofre a Crucifixão e ressuscita vitorioso.

O que isso quer dizer? Que, em primeiro lugar, apenas por nascermos, já pertencemos a Cristo; nossa vida é d’Ele, pois foi Jesus quem deu o primeiro passo em nossa direção.

Segunda vinda e segundo reinado: “Virá para julgar as nações” (Jr 3, 12)

Nesta segunda vinda, que acontecerá no fim do mundo, temos a comprovação patente de seu segundo reinado. Comprovação, pois o direito de reinar já é de Cristo por ser Ele nosso Deus Criador, responsável por nos manter e nos providenciar tudo que temos.

Portanto, o seu segundo reinado é cronologicamente o primeiro, já que é Rei por direito.

Quando um artesão constrói uma obra, ele é dono desta, inclusive podendo entrar com uma ação no tribunal quando esta é copiada sem autorização. Pois é seu criador, e possui o direito sobre ela.

Assim também Deus: sua criação deve reverenciá-Lo como Rei. Isso significa, mais uma vez, que ao nascer, nossa atitude para com Deus deve ser de submissão.

Criados e redimidos, duas ações divinas que nos fazem pertencer a Ele. O Natal e a vinda no final dos tempos representam o direito do duplo reinado de Cristo.

Vinda intermediária: “Todo aquele que quer Me seguir, tome sua cruz” (Lc 14, 27)

Mas Deus não é o Senhor dos escravos, e sim dos homens livres.

Pelo que dissemos acima, Jesus poderia Se apresentar perfeitamente a nós e exigir o direito que tem de ser Rei e ser servido. Entretanto, não o faz. Pelo contrário, Ele Se dirige a nós com uma vinda intermediária: não tão frágil quanto a primeira e não tão gloriosa quanto será a segunda.

Através da graça, Ele desce a nós todos os dias. É companheiro, é amigo, é pai, é conselheiro.

Quando acordamos, ali está Ele, sorrindo por nos ter dado mais uma chance de nos aproximar d’Ele. Ao irmos para o trabalho, Ele nos olha e suplica a nós com amor: “Hoje você será mais meu?”

Quando nos providencia um dia ótimo, quer de nós um ato de gratidão; quando permite um dia mal, está conosco para ser amparo e força.

Essa é a vinda intermediária que Ele faz em nossa história, e nesta também Cristo deve ser Rei.

É por ela que seremos especialmente julgados. E que responderemos ao doce Juiz?

Quantas vezes prestamos atenção aos apelos de Jesus? Ele, que Se disfarça muitas vezes em nossa rotina, comunica-Se conosco.

Estou respondendo ou estou ignorando Jesus? Tenho rezado e conversado com Ele? Hoje, quantas vezes parei e me coloquei em sua presença?

Nossa resposta: Cristo deve ser Rei três vezes

Cristo não precisaria de uma terceira vinda. Tudo o que nos comunicou em sua primeira, no Natal, através do Evangelho, bastaria para sermos santos.

Além disso, possibilitou que contemplássemos, com vislumbres, o final dos tempos predito por São João, para que ficasse claro seu direito de reinar.

Mas Ele quer vir todo dia a nós e nos perguntar: “Aceita, meu filho, minha filha, que Eu seja o Rei de sua vida?”

E este é o seu terceiro reinado: o reinado por aceitação. Não por conquista ou direito, mas por permissão, por opção nossa.

Só quando Cristo for Rei três vezes no mundo todo é que as coisas vão se consertar, pois aceitá-Lo como nosso Rei significa amá-Lo acima de tudo, praticar seus preceitos como um filho amoroso e aperfeiçoar-se cada dia mais.

E sua Lei, como sabemos, tem dois preceitos principais: amar a Deus e ao próximo como a si mesmo.

Quem mais pode nos ensinar a ser novos Cristos que Maria Santíssima?

Ela O criou, Ela O viu crescer e Se desenvolver como ser humano. Ela pode nos ensinar os passos d’Ele com a atenção de uma Mãe.

Que hoje, nesta última semana do Tempo Comum, próxima à Solenidade de Cristo Rei, possamos ir com humildade a Nossa Senhora e pedir a Ela: “Minha Mãe, fazei-me aceitar Cristo como Rei de meu coração. E, neste processo, transformai-me, curai-me, fazei-me um filho semelhante a vosso Divino Filho”.