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Apresentação do módulo 2 - A música na Idade Média

Surge uma aurora tímida, um sussurro que vai além do simples soprar dos ventos históricos. São harmonias que desafiam o modo como os séculos passados viam a música, uma melodia que recomeça o pulsar da vida e da fé.

Vamos conhecer a origem da grande sinfonia das escolas que surgiram após o ano 1.000 d.C., guiadas por mãos que inovam, como Guido da Arezzo e, sobretudo, por uma voz singular: a de Santa Hildegarda de Bingen, que, ao revelar os mistérios da música, abre uma janela para o transcendente. Contudo, essas novas formas de cantar e tocar também foram aplicadas por mãos levianas, para dar uma visão meramente mundana na razão da existência do homem nesta terra.

Nesse tempo, quando a humanidade, como um enfermo desenganado, escuta o diagnóstico de cura – um convite a esperar, a acreditar, a elevar-se neste vale de lágrimas – a música não é apenas som; é graça, é mistério, é um convite para o convívio com os Anjos. Essa esperança atravessa os séculos e se eleva nas vozes profanas e sagradas, marcando duas nítidas formas de ver o mundo.

 

Aulas do módulo 2

2. Trovadores: o Joio no Meio do Trigo

32min
No coração da Idade Média, uma melodia ressoa acordes diferentes, carregada de trepidantes encantos e mundanos segredos: são os trovadores, aqueles poetas do amor terreno. Eles aparecem do sul da França trazendo às cortes suas canções enredadas de paixões proibidas, traições imorais e desejos inconteníveis, que desconstruíram o equilíbrio medieval.  Eles são a antítese da pureza do amor divino exaltado por Santa Hildegarda, são um lamento langoroso por uma humanidade que, por ouvi-los e deleitar-se neles, corrompeu-se em seus anseios mundanos e desejos carnais. Essa voz profana embala uma época marcada por cruzadas, e converte palácios em cenários onde a vida e a moral se entrelaçam em complexas tramas cada vez mais decompostas, onde o guerreiro luta por uma dama, não mais pela Santa Igreja e pela fé no Ressuscitado. Mas toda sombra só existe onde há luz. Ao lado da sedução surgiu uma resposta poderosa: as confrarias, os hinos de São Bernardo, a devoção ardente a Nossa Senhora e o corajoso combate dos Santos.  O contraste é um espetáculo que revela o pulsar da alma, esse campo de batalha onde se disputa constantemente, sempre em luta entre a graça e o pecado, entre o atrativo dos sentidos e o chamado do espírito, entre o bem e o mal.  Ao desvelar este drama musical e espiritual, você está convidado a aprender sobre uma história de música, fé e transformação, em que ecoam os cânticos que desafiaram o eterno e as vozes que clamaram pela plenitude da Redenção.  

3. A Polifonia Sacra

39min
O séc. XV é um tempo de mudanças e de inquietação. As antigas estruturas medievais se estilhaçavam, dando lugar à era do Renascimento. Mas a música não se curvava à fúria das revoluções. Ela seguia o seu curso, carregando consigo a tradição e a fé que a moldaram. Surge então a escola franco-flamenga, um farol. Nascida em terras da Flandres e do norte da França, essa escola não era um local físico, mas uma constelação de músicos brilhantes que, como estrelas, irradiavam uma nova luz sobre o mundo. Esses homens, sacerdotes e religiosos, buscavam, através da música, a glória de Deus. Eles não buscavam a ruptura, mas a continuidade. A polifonia, a técnica de múltiplas vozes que se entrelaçavam, não era um grito de liberdade, mas um coro de louvor, um canto atemporal de fé que desafiou as mudanças. Em seus motetos, em suas Missas, reinava a primazia do sentido textual sobre a melodia, ou seja, transmitir a Palavra de Deus em cada nota, sem se voltar ao que é meramente humano e banal. Era ainda um desejo medieval que ecoava através dos séculos, um desejo de que a música servisse à Liturgia, à oração, à vida da Igreja, à santificação dos fiéis. A escola franco-flamenga, em sua grandeza e beleza, foi um farol que iluminou não apenas a música, mas também a própria fé. Em tempos de transição, ela se ergueu como um baluarte de tradição, um testemunho da força da fé e da beleza da música sagrada. E, assim, como um canto de esperança, ela nos conduz ao próximo passo, onde desvendaremos os nomes e as obras que a tornaram tão grandiosa e tão eterna.  

Referências Bibliográficas

BÍBLIA SAGRADA. Tradução dos originais hebraico e grego feita pelos Monges de Maredsous. São Paulo: Ave-Maria, 2001.

CARPEAUX, Otto Maria. A história da música. Da Idade Média ao século XX. Barueri: Faro Editorial, [s.d.].

CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 9.ed. São Paulo: Ipsis, 2024.

DIAS, Rosa Maria. A música no pensamento de Aristóteles. In: Ensaios Filosóficos. Rio de Janeiro, 2014, v.10, n.2 (dez. 2014); p.92-100. Disponível em: https://www.ensaiosfilosoficos.com.br

GROUT, Donald Jay; PALISCA, Claude V. Historia de la música occidental. 7.ed. Madrid: Alianza, 2008.

ROCHA JÚNIOR, Roosevelt Araújo da. Música e Filosofia em Platão e Aristóteles. In: DISCURSO. REVISTA DO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DA USP. São Paulo, 2007, n.37 (8 dez. 2007); p.29-54. Disponível em: https://filosofia.fflch.usp.br/publicacoes/discurso

SANTO AGOSTINHO. Sobre a música. Campinas: Ecclesiae, 2019.

SUBIRÁ, José. Historia de la música. 2.ed. Barcelona: Salvat, 1951, 4v


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