Porto Alegre (Segunda-Feira, 28/10/2013, Gaudium Press) "Ser e agir" é o título do mais recente artigo de dom Dadeus Grings, arcebispo emérito da arquidiocese de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul. Na reflexão, o prelado afirma que a filosofia baseia-se no princípio de que o agir segue o ser. Ele explica que no mundo vegetal se diz que pelos frutos se conhece árvore, no mundo animal o agir é mais diversificado, pois ninguém ficaria satisfeito com a definição de que ovelha gera ovelha, cavalo produz cavalo.
Agora de acordo com o arcebispo emérito, no plano humano o tema se torna ainda mais complicado, pois classificado como pessoa, é descartada a possibilidade de transformar o ser humano em puro meio de produção. "Ser pessoa significa ser fim em si mesmo, como senhor de si e de seus atos. O ser humano autodetermina-se. É, por natureza, livre, único senhor de si", completa.
No entanto, segundo dom Dadeus, isso não significa que ele se reduza à sua individualidade nem que possa agir arbitrariamente. O prelado salienta que diante de sua inteligência está a verdade e a falsidade; diante de sua vontade se apresenta o bem e o mal; diante de sua vida se encontra a unidade e a divisão. Para ele, cabe a cada um decidir, não se esquecendo que vive em sociedade, que convive e que não nasce pronto e, portanto, deve realizar-se não só em estatura, mas em sabedoria e convivência.
"Cada pessoa vive um número limitado de anos. Mas não começa do nada, nem termina no nada. Recebe uma respeitável herança, não só material, concretizado no mundo da técnica e dos meios de produção, mas principalmente num mundo de cultura, que se vai duplicando a cada dois anos. Mas ainda muito menor que o universo que se lhe afigura de proporções cada vez maiores, na medida em que avançam as descobertas, tanto no espaço como no tempo", ressalta.
Outra questão abordada pelo arcebispo emérito é que o ser humano hoje tem consciência de um grande cabedal de conhecimentos, já armazenados, mas também de quanto lhe falta para esgotar as riquezas e conquistas, que ainda estão pela frente. Conforme dom Dadeus, para aprofundar o conhecimento do seu ser, o homem criou a antropologia e para orientar seu agir desenvolveu a ética e a moral, por convenção uma mais de cunho filosófico e outra mais teológica, ou seja, respectivamente, uma considerada a partir da razão e outra a partir da fé.
O prelado enfatiza que aprofundando esta questão percebemos a diferença entre o essencial e o acidental, bem como entre o normal e o anormal. Ele afirma que o normal não é apenas questão estatística nem jurídica, como quem segue a maioria ou quem se conforma às leis e costumes. Para dom Dadeus, em linha de princípio parece fácil distinguir entre uma e outra, pois a definição do ser humano, feita de gênero e diferença, apresenta-o como animal racional.
"Trata-se de um ser vivo, sensitivo, intelectual. A idade e o sexo certamente afetam estas propriedades. Mas também as doenças, os desequilíbrios, as limitações. É quando se sai da normalidade, sem, contudo, deixar de ser humano. O certo é que algo deve ser feito para equilibrar o ser com o agir. Ou se molda o agir de acordo como ser, ou se acaba moldando o ser ao agir", conclui. (FB)