O tema que me foi proposto é de particular interesse teológico e cultural: Papel das instituições culturais católicas face ao relativismo e ao esoterismo presentes nas religiões e espiritualidades não-convencionais. Realmente, a presença e a difusão dessas correntes no mundo constituem para a Igreja um verdadeiro desafio pastoral que nos convida a uma reflexão crítica não adiável. (...)
A fragilidade da fé abre espaço para as seitas
A expressão "religiões e espiritualidades não-convencionais" inclui também os fenômenos conhecidos como New Age, esoterismo, magia, ocultismo, satanismo, comunicações com o além, e todas as experiências, antigas ou recentes, que têm afinidades com as convicções genericamente religiosas ou espirituais das pessoas.
Tais realidades - distintas das religiões denominadas "grandes", antigas, históricas, tradicionais - têm agora uma presença e uma incidência não-negligenciáveis, não só no campo social, mas também no eclesial, em nível mundial. Trata-se, sem dúvida, de fenômenos da cultura global emergente, cujas perspectivas de caráter claramente relativista e, talvez, oculta, são conformes às correntes de pensamento pós-moderno que influenciam grande parte da cultura contemporânea com tendências fortemente individualistas. Por vezes, alguns desses "agrupamentos" sobem ao palco dos noticiários exatamente por comportamentos extremos, graves, manifestações de fortes transtornos pessoais e sociais. As religiões e espiritualidades não-convencionais apresentam-se como formas de gnose que incorporam instituições espirituais e métodos ecleticamente tomados das religiões tradicionais e das antigas práticas esotéricas. Combinam esses elementos com métodos científicos ou pseudocientíficos de cura, de busca do bem-estar físico ou mental, e procuram uma positiva transformação da consciência através de determinadas técnicas. Elas obtêm sucesso fundamentalmente porque encontram um terreno bem preparado pelo desenvolvimento e pela difusão do relativismo e da indiferença em relação à fé cristã, aos quais se unem as inextinguíveis aspirações do espírito humano à transcendência e o senso religioso, que é não apenas um fenômeno cultural contemporâneo, mas também uma característica constante na história do homem. De fato, quando é débil o conhecimento do conteúdo da fé cristã, deixa- se espaço para a convicção de que a religião cristã não é suficiente para inspirar uma profunda espiritualidade, e as pessoas sentem-se tentadas a procurar em outro lugar. Freqüentemente, as seitas progridem graças às suas pretensas respostas às necessidades das pessoas em busca de cura, de filhos, de sucesso econômico. A mesma argumentação vale para as religiões esotéricas, cujo êxito se afirma graças à fragilidade e à ingenuidade de cristãos pouco ou mal preparados. (...)Lutar contra a ditadura do relativismo
Qual é a missão da Igreja e das Instituições Católicas para responder a muitas expectativas e ajudar tantas pessoas a encontrar ou reencontrar em Cristo o caminho para a Verdade que é Vida? (...) A tarefa que temos hoje diante de nós é viver, pensar e exprimir o Cristianismo em um enxerto vital e crítico na cultura de nosso tempo, marcada pela descrença e pela indiferença religiosa, pelo esoterismo e pelo relativismo das religiões e espiritualidades não-convencionais. Uma dinâmica missionária eficaz tinha já sido posta em foco por João Paulo II. Em síntese: da catequese à homilia, do mais alto magistério da Igreja à pastoral, do ensino acadêmico ao mais simples testemunho de fé, um só é o objetivo que nos move, como tantas vezes tem repetido o Papa Bento XVI: ter a coragem de lutar contra o relativismo, ou seja, o deixar-se levar para cá ou acolá por qualquer vento de doutrina, tal qual nos é sugerido pela cultura dominante como única atitude à altura dos tempos hodiernos. Cultivar uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, isto não é fundamentalismo mas inteligência e até sabedoria, para não ceder à ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que aceita como última medida apenas o próprio "eu" e a própria vontade. Relativismo, esoterismo e... agnosticismo são os mais desleais "inimigos" da verdade e do bem. (Trechos do discurso na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, 18/5/2006) (Revista Arautos do Evangelho, Jul/2006, n. 55, p. 40)