Aquela aldeia era tão pequenina que parecia perdida no meio dos Alpes. Isolada entre altas montanhas, longe da agitação das vilas e cidades, a tranquilidade reinava nos pitorescos chalezinhos que a compunham.

Seus habitantes eram, ademais, profundamente religiosos, e graças à força de sua fé passavam por dificuldades, cansaços e labores árduos da vida diária com os olhos postos em Deus, sem jamais perder a calma.

O senhor Carlos, honesto lenhador, ali morava com a esposa, dona Isabel, e os cinco filhos: Maria Luísa, Henrique, Joana, Bernardo e Clara. Todos os dias saía para o trabalho ao raiar da aurora, regressando ao pôr do Sol.

Certa manhã, como estava um pouco atrasada com seus afazeres e precisava levar a comida ao marido, dona Isabel chamou a filha mais velha e disse:

Maria Luísa, hoje preciso que tu leves o almoço a teu pai. Queres?

Sim, senhora. Vejo-a muito ocupada com as tarefas da casa e eu já terminei os deveres da escola.

Ele está trabalhando no Vale dos Patos, junto ao Grande Bosque. Cuidado, presta atenção para não te perderes. Quando chegares ao Outeiro dos Cedros, chama-o e ele virá.

Maria Luísa, contente por auxiliar a mãe, pôs seu pequeno avental azul, o chapeuzinho e saiu a toda pressa. Vendo-a correr, dona Isabel não pôde conter um suspiro: a pequena contava tão somente dez anos e era a primeira vez que saía desacompanhada…

Na medida do possível, a menina andava a passos largos, pois queria entregar o almoço ainda quente. Percorrendo encruzilhadas e montes, ela chegou ao Outeiro dos Cedros, ofegante e cansada.

Papai! – chamou.

Nada…

Senhor Carlos?!…

O vento e o chilrear dos pássaros foram a sua resposta.

Devo estar ainda longe – disse de si para consigo.

Caminhou adiante, mais, mais e mais. Entretanto, forçosamente parou: à sua frente erguia-se majestoso e temível o Grande Bosque, indicando-lhe o fim do trajeto.

“Talvez papai tenha preferido almoçar à sombra”, pensou ela, entrando entre as árvores. Com todas as forças de seus pequenos pulmões, elevando as mãozinhas à boca, gritou de novo. E outra vez ficou sem resposta…

Começando a sentir-se aflita, rezou em voz alta:

Ó Santíssima Virgem, eu vos prometo um Rosário inteiro se encontrar o meu pai.

E seguia avançando. Todavia, o tempo se passara com uma rapidez espantosa e Maria Luísa, em sua preocupação, nem percebia que grossas nuvens cobriam o céu, prenunciando uma tempestade.

Mais uma hora de caminhada, a chuva se foi e, sempre adentrando no emaranhado bosque, a menina sentiu-se esgotada, sentando-se sob uma árvore. O Sol já se punha e Maria Luísa estava sozinha… Que animais ferozes fariam companhia à pequena, nesta noite que teria que passar no Grande Bosque?…

Enquanto isso, o Sr. Carlos chegava de volta a casa, bem tranquilo. Da. Isabel o recebeu, contente.

Ah, que bom que chegaste! E Maria Luísa?

— Maria Luísa? – pergunta ele – Eu não a vi.

— Tu não a viste?! Ela foi levar-te o almoço há muito tempo…

Olha, não vi nem almoço nem Maria Luísa. Aliás, estou com muita fome!

O rosto da mãe se contraiu de susto e seu coração apertou, juntamente com o do pai. O Sr. Carlos saiu de imediato à procura da menina, esquecendo-se de sua fome, e Da. Isabel, aflita, rezava a Nossa Senhora:

— Minha Mãe, vós que também passastes pela angústia de perder vosso Filho no Templo, ajudai-nos! Se encontrarmos Maria Luísa, amanhã encomendaremos uma Missa em vossa honra…

As horas pareciam eternas… Soavam as badaladas da meia-noite no relógio da torre da matriz quando o pai regressou, abatido e só! Buscara com cuidado em toda a redondeza do Outeiro, mas em vão: de Maria Luísa não encontrara o menor vestígio!

No dia seguinte, antes do amanhecer, Da. Isabel e seus filhos foram à igreja rezar pela menina, pois uma noite naquele bosque cheio de ursos e lobos fazia temer seriamente por ela…

Os vizinhos, penalizados, uniram-se às orações da família, enquanto o pai partia a toda pressa, mais uma vez, para o Outeiro dos Cedros.

Lá chegando, o Sr. Carlos pôde escutar ao longe uma vozinha doce que cantava… Vinha do meio das árvores do Grande Bosque.

Seguindo-a, ele se deparou com um conhecido aventalzinho azul e um rosto radiante que, escutando o ruído, corria em sua direção com os bracinhos estendidos.

Maria Luísa! – exclamou o lenhador aflito, abraçando a filha.

— Papai!

Passaste esta noite no bosque? O que aconteceu? Não tiveste medo por estar só? – perguntou perplexo.

Ah, não a passei sozinha! No começo, sim, tive muito medo. Vi-me envolta nas trevas e perdida. Mas peguei meu terço e comecei a rezar. Em pouco tempo, tudo ao meu redor se tornou claro e uma Senhora reluzente veio me fazer companhia.

— Falaste com Ela?

— Sim, e contou-me muitas coisas. Disse-me ser Maria Santíssima e que ama muito quem n’Ela confia, pois a todos quer salvar e conduzir ao bom caminho, e nunca deixa de ouvir as orações pedindo sua intercessão; contudo, desagrada-Se sobremaneira quando ofendem a seu Filho, Jesus.

E a menina, encantada, relatava:

— Como a noite estava avançada, embora quisesse conversar, me mandou dormir um pouco. Deitei-me em seu colo e Nossa Senhora me cobriu com seu lindo e perfumado manto.

E quando acordaste, ainda estavas em seus braços?

Claro! E Ela me olhava sorrindo. Disse ter que ir, mas que eu fosse sempre boa e piedosa, e nunca me esquecesse deste encontro. Papai, esta foi a melhor noite da minha vida!

Maria Luísa e seu pai voltaram, então, para casa, onde a família os recebeu com enorme alegria. A pequena cresceu, porém nunca se esqueceu do olhar sorridente da Santíssima Virgem. De fato, aquela tinha sido a melhor noite de sua vida!