Os monges cluniacenses dedicavam-se com amor e grande cura à celebração das Horas litúrgicas, ao canto dos Salmos, a procissões tão devotas quão solenes e, sobretudo, à celebração da Santa Missa.

Promoveram a música sacra; quiseram que a arquitetura e a arte contribuíssem para a beleza e a solenidade dos ritos; enriqueceram o calendário litúrgico de celebrações especiais […]; incrementaram o culto da Virgem Maria. 

Foi reservada muita importância à Liturgia, porque os monges de Cluny estavam convictos de que ela fosse participação na Liturgia do Céu. […] 

Delineia-se uma Europa do espírito

Não admira que muito depressa o mosteiro de Cluny ganhasse fama de santidade, e que muitas outras comunidades monásticas decidissem seguir os seus costumes.

Muitos príncipes e Papas pediram aos abades de Cluny para difundir a sua reforma, de modo que em pouco tempo se propagou uma densa rede de mosteiros ligados a Cluny ou com verdadeiros vínculos jurídicos ou com uma espécie de afiliação carismática.

Ia-se assim delineando uma Europa do espírito nas várias regiões da França, na Itália, na Espanha, na Alemanha, na Hungria. […]

Os abades de Cluny com a sua respeitabilidade espiritual, os monges cluniacenses que se tornaram Bispos, alguns deles até Papas, foram protagonistas desta imponente ação de renovação espiritual.

E os frutos não faltaram: o celibato dos sacerdotes voltou a ser estimado e vivido, e na posse dos cargos eclesiásticos foram introduzidos procedimentos mais transparentes.

Promoção da caridade, da cultura e da paz

Significativos foram também os benefícios dados à sociedade pelos mosteiros inspirados na reforma cluniacense.

Numa época na qual só as instituições eclesiásticas se ocupavam dos indigentes foi praticada com empenho a caridade.

Em todas as casas, o esmoler tinha o dever de hospedar os viandantes e os peregrinos necessitados, os sacerdotes e os religiosos em viagem, e sobretudo os pobres que pediam alimento e hospedagem por alguns dias. 

Não menos importantes foram outras duas instituições, típicas da civilização medieval, promovidas por Cluny: as chamadas “tréguas de Deus” e a “paz de Deus”.

Numa época muito marcada pela violência e pelo espírito de vingança, com as “tréguas de Deus” eram garantidas longas temporadas de não beligerância, por ocasião de determinadas festas religiosas e de alguns dias da semana.

Com a “paz de Deus” pedia-se, sob a pena de uma censura canônica, para respeitar as pessoas inermes e os lugares sagrados. […]

Além disso, como acontecia com as outras fundações monásticas, os mosteiros cluniacenses dispunham de amplas propriedades que, postas diligentemente a frutificar, contribuíram para o desenvolvimento da economia.

Paralelamente ao trabalho manual, não faltaram também típicas atividades culturais do monaquismo medieval como as escolas para as crianças, a preparação de bibliotecas, os scriptoria para a transcrição dos livros.

 

Excerto da Audiência Geral, de 11/11/2009.