Em primeiro lugar – ensina o Santo Padre – não hesito em dizer que o horizonte para o qual deve tender todo caminho pastoral é a santidade.
Não era esse também o objetivo último da indulgência jubilar, enquanto graça especial oferecida por Cristo para que a vida de cada batizado pudesse purificar-se e renovar-se profundamente? […]
Terminado o Jubileu, volta-se ao caminho ordinário, mas apontar a santidade permanece de forma mais evidente uma urgência da pastoral.
Um dom que gera um dever: o da santificação
Assim, é preciso redescobrir, em todo o seu valor programático, o capítulo V da Constituição Dogmática Lumen Gentium, intitulado “Vocação Universal à Santidade”.
Se os padres conciliares deram tanto relevo a esta temática, não foi para conferir um toque de espiritualidade à eclesiologia, mas para fazer sobressair a sua dinâmica intrínseca e qualificativa.
A redescoberta da Igreja como “mistério”, ou seja, como “um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, não podia deixar de implicar um reencontro com a sua “santidade”.
Santidade entendida no seu sentido fundamental de pertença Àquele que é o Santo por antonomásia, o “três vezes Santo”. Professar a Igreja como santa significa apontar o seu rosto de Esposa de Cristo, que a amou entregando-Se por ela precisamente para a santificar.
Este dom de santidade, por assim dizer, objetiva é oferecido a cada batizado.
Mas o dom gera, por sua vez, um dever, que há de moldar a existência cristã inteira: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Tes 4,3).
É um compromisso que diz respeito não apenas a alguns, mas “os cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”.
Nenhum batizado pode contentar-se com uma religiosidade superficial
A recordação desta verdade elementar, para fazer dela o fundamento da programação pastoral que nos ocupa no início do novo milênio, poderia parecer, à primeira vista, algo de pouco operativo.
Pode-se, porventura, “programar” a santidade? Que pode significar esta realidade na lógica dum plano pastoral?
Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências.
Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial.
Perguntar a um catecúmeno: “Queres receber o Batismo?” significa ao mesmo tempo indagar-lhe: “Queres fazer-te santo?”
Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: “Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste” (Mt 5,48).
Como explicou o Concílio, este ideal de perfeição não deve ser objeto de equívoco vendo nele um caminho extraordinário, percorrível apenas por algum “gênio” da santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um.
Agradeço ao Senhor por me ter concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida.
É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta “medida alta” da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção.