Vossas sessões de trabalho, queridos congressistas, mostraram os diferentes aspectos da depressão em sua complexidade.

Isto é, vão desde a enfermidade profunda, mais ou menos duradoura, até o estado passageiro, ligado a acontecimentos difíceis – conflitos conjugais e familiares, graves problemas no trabalho, estados de solidão… –, que comportam uma fissura ou uma ruptura nas relações sociais, profissionais, familiares.

A enfermidade é acompanhada com frequência por uma crise existencial e espiritual, que leva a deixar de perceber o sentido da vida. 

Fragilidades psicológicas do homem de hoje

A difusão dos estados depressivos é preocupante. Manifestam-se fragilidades humanas, psicológicas e espirituais, que ao menos em parte são induzidas pela sociedade.

É importante tomar consciência das repercussões que têm sobre as pessoas as mensagens transmitidas pelos meios de comunicação, ao exaltar o consumismo, a satisfação imediata dos desejos, a corrida rumo a um bem-estar material cada vez maior.

É necessário propor novos caminhos para que cada um possa construir a própria personalidade, cultivando a vida espiritual, fundamento de uma existência madura

A participação entusiasta nas Jornadas Mundiais da Juventude demonstra que as novas gerações buscam Alguém que possa iluminar seu caminho cotidiano, dando-lhes razões de vida e ajudando-as a enfrentar as dificuldades. 

Vós sublinhastes: a depressão é sempre uma prova espiritual.

O papel de quem, sem uma função especificamente terapêutica, atende uma pessoa deprimida consiste, sobretudo, em ajudá-la a recuperar a auto-estima, a confiança em suas capacidades, o interesse pelo futuro, a alegria de viver.

Por isso, é importante cuidar dos enfermos, fazer-lhes perceber a ternura de Deus, integrá-los em uma comunidade de fé e de vida na qual se sintam acolhidos, compreendidos, sustentados, dignos, em uma palavra, de amar e de ser amados.

Para eles, como para qualquer pessoa, contemplar Cristo e deixar-se “guiar” por Ele é a experiência que os abre à esperança e os leva a optar pela vida (cf. Dt 30, 19). 

O grande auxílio da oração

No caminho espiritual, a leitura e a meditação dos Salmos, nos quais o autor sagrado expressa em oração sua alegria e angústia, pode ser de grande ajuda. A oração do Rosário permite encontrar em Maria uma mãe carinhosa que ensina a viver em Cristo.

A participação na Eucaristia é manancial de paz interior, seja pela eficácia da Palavra e do Pão da Vida, seja pela integração na comunidade eclesial.

Se à pessoa deprimida custa um grande esforço algo que aos demais parece ser algo simples e espontâneo, é necessário ajudá-la com paciência e delicadeza, recordando a advertência de Santa Teresa do Menino Jesus: “Os pequenos dão passos pequenos”.

Em seu amor infinito, Deus está sempre próximo dos que sofrem. A enfermidade depressiva pode ser um caminho para descobrir outros aspectos e novas formas de encontro com Deus.

Cristo escuta o grito de quem se encontra em uma barca à mercê da tempestade (cf. Mc 4, 35-41). Está presente junto a eles para ajudá-los na travessia e para guiá-los para o porto da serenidade recuperada. 

O fenômeno da depressão recorda à Igreja e a toda a sociedade a importância de propor às pessoas, especialmente aos jovens, figuras e experiências que lhes ajudem a crescer humana, psicológica, moral e espiritualmente.

A ausência de pontos de referência contribui para criar personalidades mais frágeis, levando a pensar que todos os comportamentos são iguais.

Deste ponto de vista, o papel da família, da escola, dos movimentos juvenis, das associações paroquiais é muito importante por causa da repercussão que tem na formação da pessoa. 

Também é significativo o papel das instituições pú­blicas para assegurar condições de vida dignas, em particular, às pessoas abandonadas, enfermas, anciãs.

São igualmente necessárias as políticas para a juventude, que oferecem às novas gerações motivos de esperança, preservando-as do vazio ou de outros perigos. 

Queridos amigos: alentando-vos a renovar vosso compromisso em um trabalho tão importante junto aos irmãos e irmãs afetados pela depressão, vos confio à intercessão de Maria Santíssima, “Salus infirmorum”.

Que cada pessoa e cada família possam sentir sua materna ajuda nos momentos de dificuldade. A todos vós, a vossos colaboradores e a vossos entes queridos envio de coração a benção apostólica.

 

Excerto de Discurso de 14 de novembro de 2003.