A vossa presença me faz pensar na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que convoquei para Aparecida, Brasil, e que terei o prazer de inaugurar. […]
Esta Conferência, em continuidade com as quatro anteriores, está chamada a dar um impulso renovado à Evangelização nessa vasta região do mundo eminentemente católica, na qual vive grande parte da comunidade dos crentes.
É preciso proclamar integralmente a Mensagem da Salvação, para que impregne as raízes da cultura e se encarne no atual momento histórico latino-americano, para responder melhor às suas necessidades e aspirações legítimas. […]
Necessidade urgente de uma nova Evangelização
A Igreja na América Latina enfrenta enormes desafios: a mudança cultural originada por uma comunicação social que incide sobre os modos de pensar e os costumes de milhões de pessoas; os fluxos migratórios, com tantas repercussões na vida familiar e na prática religiosa nos novos ambientes.
Também o surgimento de novos questionamentos sobre como os povos devem assumir a sua memória histórica e o seu futuro democrático; a globalização, o secularismo, a pobreza crescente e a deterioração ecológica, sobretudo nas grandes cidades, assim como a violência e o narcotráfico.
Diante de tudo isso, vê-se a urgente necessidade de uma nova Evangelização, que nos estimule a aprofundar os valores da nossa fé, para que sejam linfa e configurem a identidade desses amados povos que um dia receberam a luz do Evangelho.
Por isso, o tema escolhido como guia para as reflexões da mencionada Conferência é oportuno: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que os nossos povos n’Ele tenham a vida”.
Com efeito, a V Conferência deve incentivar todos os cristãos a converterem-se em verdadeiros discípulos de Jesus Cristo.
Enviados por Cristo como apóstolos, conforme dizia o Papa João Paulo II, “não de reevangelização, mas de uma nova evangelização. Nova no seu ardor, nos seus métodos, na sua expressão”, a fim de que a Boa Nova se enraíze na vida e na consciência de todos os homens e mulheres da América Latina.[1]
É preciso alimentar a fé
Queridos Irmãos, os homens e mulheres da América têm grande sede de Deus.
Quando na vida das comunidades se produz um sentimento de orfandade em relação a Deus Pai, é vital o trabalho dos Bispos, dos sacerdotes e dos demais agentes de pastoral, que dêem testemunho, como Cristo, de que o Pai é sempre Amor providente que Se revelou em seu Filho.
Quando a fé não se alimenta da oração e da meditação da Palavra divina, quando a vida sacramental se debilita, prosperam as seitas e os novos grupos pseudo-religiosos, provocando o afastamento da Igreja de muitos católicos.
Não recebendo essas respostas às suas aspirações mais profundas, que poderiam encontrar-se na vida de fé partilhada, produzem-se também situações de vazio espiritual.
Na tarefa evangelizadora é fundamental recordar sempre que o Pai e o Filho enviaram o Espírito Santo no Pentecostes, e que esse mesmo Espírito continua a estimular a vida da Igreja.
Por isso, é importante o senso de pertença eclesial, no qual o cristão cresce e amadurece na comunhão com os seus irmãos, filhos de um mesmo Deus e Pai.
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai senão por Mim” (Jo 14, 6).
Como ressaltou o meu venerado predecessor João Paulo II, “Jesus Cristo é, portanto, a resposta definitiva à pergunta acerca do sentido da vida, às questões fundamentais que inquietam hoje tantos homens e mulheres do Continente americano”.[2]
Só vivendo intensamente o seu amor a Jesus Cristo e entregando-se de maneira generosa ao serviço da caridade, os seus discípulos serão testemunhas eloquentes e credíveis do amor imenso de Deus por todos os seres humanos.
Desta forma, amando com o mesmo amor de Deus, chegarão a ser agentes de transformação do mundo, instaurando nele uma nova civilização, que o amado Papa Paulo VI chamava justamente “a civilização do amor”.
Viver em coerência com a fé
Para o futuro da Igreja na América Latina e no Caribe é importante que os cristãos aprofundem e assumam o estilo de vida próprio dos discípulos de Jesus: simples e alegre, com uma fé sólida arraigada no mais íntimo do coração e alimentada pela oração e pelos sacramentos.
De fato, a fé cristã alimenta-se, sobretudo, da celebração dominical da Eucaristia, na qual se realiza um encontro comunitário, único e especial com Cristo, com sua vida e sua palavra.
O verdadeiro discípulo cresce e amadurece na família, na comunidade paroquial e diocesana; converte-se em missionário quando anuncia a pessoa de Cristo e seu Evangelho em todos os ambientes: a escola, a economia, a cultura, a política e os meios de comunicação social.
De modo especial, os frequentes fenômenos de exploração e injustiça, de corrupção e violência, são um apelo urgente a que os cristãos vivam sua fé com coerência e se esforcem por receber uma sólida formação doutrinal e espiritual, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais justa, mais humana e cristã.
É um dever fundamental estimular os cristãos que, animados pelo seu espírito de fé e caridade, trabalham incansavelmente para oferecer novas oportunidades a quantos se encontram na pobreza ou nas zonas periféricas mais abandonadas.
Para que possam ser protagonistas ativos do seu próprio desenvolvimento, levando-lhes uma mensagem de fé, de esperança e de solidariedade. […]
Peçamos a Maria, modelo de mãe na Sagrada Família e Mãe da Igreja, Estrela da Evangelização, que guie com sua materna intercessão as comunidades eclesiais da América Latina e do Caribe.
Que Ela assista os participantes da V Conferência para que encontrem os caminhos mais apropriados a fim de que aqueles povos tenham a vida em Cristo e construam no chamado “Continente da esperança” um futuro digno para todos os homens e mulheres.
Estimulo-vos a todos nos vossos trabalhos e vos concedo de coração minha Bênção Apostólica.