Os complexos desafios que se apresentam para a educação nos dias de hoje estão frequentemente vinculados à ampla influência dos meios de comunicação social no nosso mundo.
Como um dos aspectos do fenômeno da globalização, e facilitados pelo rápido desenvolvimento da tecnologia, os meios de comunicação social modelam profundamente o ambiente cultural.[1]
Com efeito, algumas pessoas afirmam que a influência formativa dos meios de comunicação social concorre com a da escola, da Igreja e talvez mesmo do lar. “Para muitas pessoas, a realidade corresponde ao que os mass media definem como tal”.[2]
Responsabilidade dos pais, da Igreja e da escola
A relação entre crianças, meios de comunicação social e educação pode ser considerada a partir de duas perspectivas: a formação das crianças por parte dos mass media; e a formação das crianças para responderem de modo apropriado aos mass media.
Sobressai um tipo de reciprocidade que indica as responsabilidades dos meios de comunicação social como indústria e a necessidade de uma participação ativa e crítica dos leitores, dos espectadores e dos ouvintes.
Nessa perspectiva, formar-se no uso apropriado dos meios de comunicação social é essencial para o desenvolvimento cultural, moral e espiritual das crianças.
Como se há de salvaguardar e promover esse bem comum? Educar as crianças para serem judiciosas no uso dos mass media é uma responsabilidade que cabe aos pais, à Igreja e à escola. O papel dos pais é de importância primordial.
Eles têm o direito e o dever de assegurar o uso prudente dos meios de comunicação social, formando a consciência dos seus filhos para que estes estejam em condições de exprimir juízos sadios e objetivos que os orientarão na escolha ou rejeição dos programas disponíveis.[3]
Ao agir desse modo, os pais deveriam contar com o encorajamento e a assistência das escolas e das paróquias, para garantir que esse aspecto difícil, mas estimulante, da educação seja apoiado pela comunidade mais vasta.
Pelos caminhos da beleza, da verdade e da bondade
A educação aos mass media deveria ser positiva. As crianças expostas ao que é estética e moralmente excelente são ajudadas a desenvolver o apreço, a prudência e a capacidade de discernimento.
Aqui é importante reconhecer o valor fundamental do exemplo dos pais e os benefícios da apresentação, aos jovens, dos clássicos infantis da literatura, das belas-artes e da música edificante.
Enquanto a literatura popular terá sempre o seu espaço na cultura, a tentação do sensacionalismo não deveria ser aceita de forma passiva nos lugares de ensino.
A beleza, uma espécie de espelho do divino, inspira e vivifica os corações e as mentes mais jovens, ao passo que a torpeza e a vulgaridade têm um impacto depressivo sobre as atitudes e os comportamentos.
Como a educação em geral, a educação aos mass media exige a formação no exercício da liberdade. Trata-se de uma tarefa exigente. Muitas vezes a liberdade é apresentada como uma busca implacável do prazer e de novas experiências.
Contudo, isto é uma condenação, não uma libertação! A verdadeira liberdade jamais poderia condenar o indivíduo – sobretudo a criança – a uma busca insaciável de novidades.
À luz da verdade, a liberdade autêntica é experimentada como uma resposta definitiva ao “sim” de Deus à humanidade, enquanto nos chama a escolher, não indiscriminada, mas deliberadamente, tudo o que é bom, verdadeiro e belo.
Assim os pais, como guardiães de tal liberdade, concederão gradualmente uma maior liberdade aos seus filhos, introduzindo-os ao mesmo tempo na profunda alegria da vida.[4]
Essa aspiração sincera dos pais e professores de educar as crianças pelos caminhos da beleza, da verdade e da bondade só pode ser sustentada pela indústria dos meios de comunicação social na medida em que ela promover a dignidade humana fundamental, o valor genuíno do matrimônio e da vida familiar, e as conquistas e as finalidades positivas da humanidade.
Desse modo, a necessidade que os mass media têm de se comprometerem na formação efetiva e nos padrões éticos é considerada com particular interesse, e mesmo urgência, não só pelos pais e professores, mas também por todos quantos têm um senso de responsabilidade cívica.
Exortação aos responsáveis pelos meios de comunicação social
Mesmo estando convencidos de que muitas pessoas comprometidas nos meios de comunicação social desejam realizar o que é justo,[5] devemos reconhecer também que as que trabalham nesse campo enfrentam “pressões psicológicas e dilemas éticos particulares”,[6] que por vezes vêem a concorrência comercial impelir os comunicadores para níveis mais baixos.
Qualquer tendência a realizar programas e produtos – inclusive desenhos animados e videojogos – que, em nome do entretenimento, exaltam a violência e apresentam comportamentos anti-sociais ou a banalização da sexualidade humana constitui uma perversão,
E é ainda mais repugnante quando tais programas são destinados às crianças e aos adolescentes.
Como se poderia explicar esse “entretenimento” aos numerosos jovens inocentes que realmente são vítimas da violência, da exploração e do abuso?
A esse propósito, todos deveriam refletir sobre o contraste entre Cristo, que “as tomou [as crianças] nos braços e as abençoou, impondo-lhes as mãos” (Mc 10, 16), e o indivíduo que escandaliza um só desses pequeninos: para ele “seria melhor que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho” (Lc 17, 2).
Uma vez mais, exorto os responsáveis da indústria dos meios de comunicação social a salvaguardarem o bem comum, a promoverem a verdade, a protegerem a dignidade humana de cada indivíduo e a fomentarem o respeito pelas necessidades da família.