O que mais ressaltava em Dona Lucilia era esse extraordinário mistério de maternalidade que a fazia querer bem a todos e a qualquer um.

Bastava alguém se aproximar dela com confiança e abertura de alma, para já se sentir tomado por sua bondade envolvente e por aquele magnífico modo de ser, qualificado por Dr. Plinio como “aveludado”. Ela tratava aos outros com uma doçura e um desejo de agradar verdadeiramente cativantes.

No entanto, dir-se-ia que essa afabilidade e afeto levariam Dona Lucilia a condescender inclusive em relação ao mal. Quem assim julgasse se equivocaria, pois essa benquerença não significava liberalismo, mas, pelo contrário, era muito radical, tendo como corolário o amor aos bons levado até as últimas consequências, porque ela amava a Deus. E, portanto, também um verdadeiro ódio ao mal. No que consistia esse ódio ao mal?

A essência da combatividade de Dona Lucilia partia de um princípio profundíssimo de amor a Deus: Ele é o Ser supremo, o Criador e Redentor, e deve ser amado sobre todas as coisas.

Ora, em toda a ordem da criação nada há de tão oposto a Deus quanto o pecado, pois é o ato da criatura inteligente, Anjo ou homem, que se revolta contra Deus, proclama outra lei, adversa à divina, e, no fundo, põe-se em pé de igualdade em relação a Ele.

Isso causava na alma de Dona Lucilia um verdadeiro choque e, de imediato, uma dor ao ver que Deus, tão bom e superexcelente, não recebera todo o amor e a devoção merecidos.

Ela queria, por esse motivo, encontrar meios de aquela alma se converter e entrar de novo em harmonia com Deus, arrependendo-se da ofensa feita a Ele.

É bem exatamente como Deus age conosco: Ele nos ama com um amor extraordinário, e nada deseja mais do que, depois de termos cometido uma falta, nos perdoar e nos restituir tudo aquilo que perdemos; Ele pode, ainda na hora da morte, conceder uma graça de arrependimento perfeito e salvar essa alma. Mas Ele não transige com o mal nem aceita falhas, porque é a Causa íntegra, sem nenhuma mancha. […]

[Dona Lucilia] tinha encanto pela inocência, e experimentava uma repulsa interior e verdadeira indignação contra aquilo que ia num sentido oposto. Isto se explica pelo fato de estar tão profundamente unida ao Sagrado Coração de Jesus, que para ela a lei da bondade e a lei da verdade constituíam uma só.

Ou seja, o ponto de partida de seu amor maternal era o mesmo dos Mandamentos, e, portanto, quando se tratava de princípios, ela revelava uma radicalidade total: permanecia firme em sua moralidade, não cedendo nada, nem sequer um milímetro, conforme comentou certa vez Dr. Plinio: “Essa energia tinha algo de afim com a bondade dela; e era a energia inquebrantável de que ela dava provas em certas ocasiões: ‘On ne passe pas! – Daqui não se passa!’”

 

 

Extraído de: CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Città del Vaticano-São Paulo: LEV; Lumen Sapientiæ, 2016, p.132-133