Destacando-se resolutamente da “ponta da bota” italiana, a ilha da Sicília é um dos enclaves mais estratégicos do Mediterrâneo.

Equidistante da Turquia e da Península Ibérica, e com certa proximidade da África, sua situação geográfica tornou-a um crisol dos diversos povos que habitaram a ilha ao longo da História.

A capital, Palermo, atrai justamente pela diversidade. Foi erigida por mercadores fenícios no século VIII antes de Cristo como apoio para suas expedições.

Mais tarde, os gregos a colonizaram com o nome de Panormos – Πανόρμος –, que significa todo porto ou porto excelente. Habitaram-na também cartagineses, romanos, vândalos, ostrogodos, árabes, bizantinos e normandos, entre outros.

Tal sucessão de povos deixou ali os sinais de uma admirável multiplicidade de culturas, que caracteriza suas ruas e prédios.

A poucos quilômetros ao sul de Palermo, quase se fundindo com ela, situa-se a aprazível cidade de Monreale.

Sua origem remonta ao século XI, época em que os reis normandos da Sicília se retiravam aos pés do Monte Caputo, para descansar das fadigas da guerra e do governo.

E foi um deles, Guilherme II, o Bom, que em 1174 iniciou a construção do belíssimo edifício que ilustra estas páginas: o Duomo di Monreale.

Conta uma tradição que ele, estando a caçar nos arredores de Monreale, teve um sonho, no qual Maria Santíssima lhe revelava o lugar onde seu pai, Guilherme I, o Mau, havia escondido um imenso tesouro.

O jovem rei mandou escavar no local indicado pela Virgem, e encontrou ali grande número de moedas de ouro, suficientes para levantar e adornar o magnífico edifício.

Além do templo, a construção incluía um mosteiro com capacidade para 100 monges, que foi ocupado pelos beneditinos tão logo concluído.

Pouco depois de iniciada a obra, o Papa Alexandre III declarou a Abadia de Santa Maria Nuova di Monreale isenta da jurisdição do Arcebispo de Palermo, e alguns anos depois, Lúcio III elevou-a à categoria de Arquidiocese Metropolitana.

Originalmente as construções eram rodeadas por uma grande muralha com torres. Na atualidade pouco resta da arquitetura normanda primitiva, com exceção de alguns torreões. O claustro, porém, é reminiscência daquela época.

Destacam-se suas dimensões e a decoração em mosaicos e arabescos, além das colunas duplas, que não possuem um só capitel igual.

Já a catedral, com seus 130 quadros e quase dez mil metros quadrados de mosaicos encimando arcos, paredes e cúpula, é insuperável!

Iluminados pela luz do intenso Sol mediterrâneo que penetra pelas janelas sem vitrais, eles douram o ambiente com esplendor bizantino.

A bela colunata da nave central culmina em seu ponto auge: a imponente abside. Ali refulge o Cristo Pantocrator, o Senhor de todas as coisas, tendo simbolizadas suas naturezas divina e humana pelos dedos indicador e médio da mão direita ligeiramente dobrados.

Os outros três, unidos, indicam sua pertença à Santíssima Trindade. Na mão esquerda segura as Sagradas Escrituras e sua realeza parece proclamar: “Tu es digno Senhor, nosso Deus, de receber a honra, a glória e a majestade, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade é que existem e foram criadas” (Ap 4, 11).

A Catedral de Monreale é um marco emblemático da força do mandato do Divino Mestre a seus discípulos: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).

Marcada por uma singular diversidade cultural e impregnada do perfume do Divino Salvador, ela inflama nos corações o impetuoso desejo de que Ele seja, também em nossos dias, Rei e Senhor de todos os povos e nações.