Nunca uma época dispôs de tanta informação como a nossa.
Os meios eletrônicos, a todo momento, nos fornecem dados tão díspares como, por exemplo, a descoberta de uma nova galáxia com cerca de 70 bilhões de estrelas, e a causa da morte de um egípcio mumificado há milhares de anos.
Dados informativos não faltam ao homem de hoje. Saberá ele, entretanto, aproveitá-los convenientemente? Estará apto a utilizar os recursos postos à sua disposição pelas novas descobertas?
A este propósito, convido o leitor a analisar o texto abaixo.
O regime escolar atual é mal apropriado à formação do homem, pois – longe de tornar os alunos suficientemente preparados para fazer face, pelos seus valores e aptidões pessoais, às dificuldades movediças e inovadoras da existência – comprime, desde sua primeira idade, a iniciativa livre e espontânea, assim como a originalidade, fundindo desta maneira todas as inteligências num só molde uniforme, e formando instrumentos prontos a obedecer ao impulso que, em sua vida de adulto, lhe será transmitido.
Tal sistema parece, assim, inapto a preparar homens capazes de criar soluções independentes, ou seja, de poder resolver situações por si mesmos, o que exige iniciativa, força de vontade e o costume de apelar às próprias capacidades.
Para poder enfrentar os inúmeros candidatos a um determinado cargo, as instituições costumam efetuar concursos.
Ora, para se poder estar apto a passar num exame, a solução adotada é, em geral, a do estudo intensivo de certos temas, mais provavelmente necessários.
Procedimento “bárbaro” este, que consiste tão-só em fornecer, no menor tempo possível, um conhecimento superficial das matérias de um exame, em que os estudos são necessariamente sem profundidade.
Por outro lado, quanto maior o número de candidatos a uma certa vaga, mais se procurará aumentar a dificuldade das questões, chegando-se a estabelecer verdadeiros programas enciclopédicos que nenhuma inteligência humana consegue abarcar.
Se este sistema de ensino tivesse como objetivo inculcar conhecimentos reais e aprofundados, além de desenvolver o exercício das faculdades superiores do espírito, o resultado seria duradouro. Mas, consistindo principalmente num esforço de memória, seu efeito é apenas de superfície e passa como o frescor das lembranças.
O regime dos exames não desenvolveu o hábito da reflexão e do julgamento.
Caro leitor, qual sua impressão a respeito deste trecho? Segundo seu autor, uma das principais falhas do regime escolar consiste em não incentivar o costume de refletir. O artigo pareceu-lhe apontar com objetividade essa deficiência?
Pois bem, deixe-me revelar-lhe algo. Os problemas educacionais não são de agora. O artigo acima transcrito foi publicado originariamente em… 1897![1]
Seu autor visava alertar os responsáveis pelo ensino na França sobre o engano primário de julgar que uma educação baseada no simples acúmulo de informações resolveria o problema do aprendizado.
Claro está que, nesta matéria, a informação também tem seu papel. Mas o elemento principal consiste em desenvolver nos jovens alunos “o hábito da reflexão e do julgamento”.
Quem sabe estas observações, feitas por um articulista francês há mais de cem anos, possam nos ajudar a refletir de maneira proveitosa a respeito da questão.