Deus não esperou que caminhássemos rumo a Ele, mas veio em direção a nós, sem cálculos, sem medidas. Deus é assim: Ele sempre dá o primeiro passo, move-Se rumo a nós.
Jesus viveu as realidades cotidianas do povo mais simples: comoveu-Se ante a multidão que parecia um rebanho sem pastor; chorou ao ver o sofrimento de Marta e Maria pela morte do irmão Lázaro; chamou um publicano a ser seu discípulo; sofreu até a traição de um amigo.
N’Ele, Deus nos deu a certeza de que está conosco, no meio de nós. “As raposas – disse Ele, Jesus – têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8, 20).
Jesus não tem casa porque sua casa é a gente, somos nós, sua missão é abrir para todos as portas de Deus, ser a presença de amor de Deus.
Jesus Se entrega voluntariamente por nós, até a morte
Na Semana Santa, vivemos o auge desse caminho, desse desígnio de amor que percorre toda a história das relações entre Deus e a humanidade.
Jesus entra em Jerusalém para dar o último passo, no qual resume toda a sua existência: entrega-Se totalmente, nada retém para Si, nem mesmo a vida.
Na Última Ceia, com seus amigos, divide o pão e compartilha o cálice “para nós”. O Filho de Deus Se oferece a nós, entrega em nossas mãos seu Corpo e seu Sangue para estar sempre conosco, para habitar entre nós.
E no Horto das Oliveiras, como no processo perante Pilatos, não opõe resistência, entrega-Se; é o Servo sofredor prenunciado por Isaías, que Se despoja até à morte (cf. Is 53, 12).
Jesus não vive de modo passivo, ou como um fatal destino, esse amor que conduz ao sacrifício; por certo não esconde sua profunda comoção humana face à morte violenta, mas submete-Se com toda confiança ao Pai.
Jesus entregou-Se voluntariamente à morte para corresponder ao amor de Deus Pai, em perfeita união com sua vontade, para demonstrar seu amor por nós. Sobre a Cruz Jesus “me amou e Se entregou por mim” (Gal 2, 20).
Cada um de nós pode dizer: amou-me e entregou-Se a Si mesmo por mim. Cada qual pode dizer este “por mim”.
Sair de si mesmo e entrar na lógica da Cruz
O que significa para nós tudo isso? Significa que esta é também a minha, a tua, a nossa via.
Viver a Semana Santa seguindo Jesus não só com a emoção do coração; viver a Semana Santa seguindo Jesus significa aprender a sair de nós mesmos – como dizia eu no domingo passado – para ir de encontro aos outros.
Significa partir para as periferias da existência, movermo-nos nós em primeiro lugar rumo a nossos irmãos e nossas irmãs, sobretudo os mais distantes, os que são esquecidos, os que mais precisam de compreensão, de consolação, de ajuda.
Há tanta necessidade de levar a presença viva de Jesus misericordioso e rico de amor!
Viver a Semana Santa é entrar cada vez mais na lógica de Deus, na lógica da Cruz, a qual não é primordialmente a do sofrimento e da morte, mas a do amor e do dom de si que vivifica.
É entrar na lógica do Evangelho. Seguir, acompanhar Cristo, permanecer com Ele exige um “sair”. Sair de si mesmo, de um modo afadigado e rotineiro de viver a Fé, da tentação de encerrar-se nos próprios esquemas que acabam por fechar o horizonte da ação criadora de Deus.
Deus saiu de Si mesmo para vir até nós, armou entre nós sua tenda para trazer-nos sua misericórdia que salva e dá esperança.
Também nós, se queremos segui-Lo e permanecer com Ele, não podemos contentar-nos de ficar no recinto das noventa e nove ovelhas; devemos “sair”, procurar com Ele a ovelha desgarrada, a mais distante.
Lembrai-vos bem: sair de nós, como Jesus, como Deus saiu de Si mesmo em Jesus, e Jesus saiu de Si mesmo por todos nós.