Os espíritos celestes reunidos junto ao trono de Deus na origem dos tempos não tinham diante de si outra perspectiva senão a de perseverar sem declínio ou prevaricar sem remédio.
Num instante eles se decidiram e num instante também foi fixado seu destino, pois em tal estado é impossível a penitência.
De outro lado, entretanto, pode Deus conceber um plano menos absoluto e menos severo, pondo a criatura em condições de aspirar legitimamente à reparação de suas faltas.
Então, a penitência se torna uma exigência da ordem transtornada, único meio de restabelecer a paz entre Deus e sua criatura, e, conforme a comparação feita por São Tomás, remédio indispensável que opera na vida espiritual como a medicina corporal no organismo de um doente em perigo de morte.
Nesse estado se encontra a humanidade. O Batismo nos engendra para a vida da graça; a Confirmação a aumenta e aperfeiçoa; a Eucaristia nos alimenta.
Isso seria perfeitamente suficiente se não estivéssemos expostos a funestos acidentes que secam ou diminuem a seiva divina em nossas almas, comprometendo nossa salvação eterna. Sem esses acidentes, a penitência não teria razão de ser, pois sua finalidade é repará-los.
“A isso nos inclina a natureza racional”, diz São Tomás.1 Mas, para suprir suas impotências na ordem eminente dentro da qual foi ela posta, e também para estabelecer uma continuidade no admirável paralelismo que harmoniza nossas duas vidas, Deus elevou a penitência à dignidade de Sacramento.