Pe. Agius, qual foi seu itinerário na Ordem dos Pregadores?

A casa de minha família era vizinha à igreja e ao convento de formação dos dominicanos malteses, e tornei-me coroinha quando tinha sete ou oito anos. Agradavam-me o estilo de vida dos frades e seu modo de celebrar a Liturgia.

Estudei depois numa escola da Ordem de São Domingos. Naquela época, quase todos os docentes eram dominicanos, e havia ótimos professores entre eles.

Dedicavam-se de todo coração a dar a seus alunos uma formação cultural de alto nível e, desse modo, me impressionaram profundamente, a tal ponto que, por causa de seu exemplo, decidi que um dia seria professor.

Além disso, havia um frade dominicano muito amigo da minha família, o Pe. Marco Said. Seu pai era grande amigo de meu avô, e seu irmão tinha sido colega de colégio de meu pai. O Pe. Said lecionava no Angelicum e vinha visitar-nos, quando voltava de férias a Malta.

Tomando em consideração tudo isso, minha decisão de fazer-me frade amadureceu progressivamente: por meio dos acontecimentos e das pessoas, senti o chamado do Senhor para segui-Lo segundo o carisma de São Domingos.

Onde estudou, e quais foram os seus mestres?

Fiz o curso primário na escola estatal. O curso médio-superior, no Ateneu Albert’s College, dos Padres Dominicanos, ambos em Malta. Após o noviciado, ingressei no Angelicum, onde cursei inicialmente Filosofia (1961-1964), obtendo a Licenciatura, e depois Teologia (1964-1969 e 1971-1972), obtendo o Doutorado.

Passei também dois anos (1969-1971) na École Biblique et Archéologique Française, em Jerusalém, onde fiz um curso de especialização bíblica. Contudo, a Licenciatura em Sagradas Escrituras, eu a consegui na Pontifícia Comissão Bíblica, em 1971.

Cheguei ao Angelicum pouco depois de o Pe. Reginald Garrigou-Lagrange ter parado de lecionar.

Devo minha formação bíblica aos ótimos professores de exegese que tive no Angelicum (Pietro Paolo Zerafa, Pietro Duncker, Conleth Kearns, José Salguero) e aos professores de grande fama que tive na École Biblique (Pierre Benoît, Roland de Vaux, Marie-Émile Boismard, Raymond-Jacques Tournay).

No universo dos estudos superiores, qual seria a diferença entre a educação católica e a laica?

Estamos diante do fato de que, ao lado das universidades católicas, existem também as universidades civis que se definem como leigas. No meu entender, este estado de coisas tem sua origem no princípio de separação entre a Igreja e o Estado, inaugurado pela Revolução Francesa.

O Estado não se considera obrigado a ensinar a Verdade ou os valores conhecidos através da Revelação, mas somente verdades e valores conhecidos mediante a luz da razão.

Por este motivo, nas universidades de muitos países europeus – por exemplo, França, Itália e Bélgica – não há mais faculdades de Teologia. Nas universidades católicas, ao contrário, procura-se dar uma formação integral, ensinando verdades e valores conhecidos à luz da Revelação.

Todo homem tem consciência do fato de que não é dono absoluto do próprio ser, e se pergunta a quem deve sua existência e qual é o sentido de sua vida.

O ser humano sabe que depende de um Ser Superior do qual depende todo ser, toda criatura. Descobrindo a existência de Deus, o homem sente o desejo de conhecê-Lo e de entrar em relação com Ele.

São Tomás fala de um desejo natural do homem de ver a Deus. Desse modo, o homem, por natureza, está preparado para receber a graça de conhecer a Revelação de Deus.

Cremos que Deus Se revelou a nós por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo, e durante dois mil anos os crentes em Cristo refletiram e procuraram explicar as verdades reveladas.

Em tese, não deveria haver oposição entre as verdades e os valores conhecidos à luz da razão, ensinados nas universidades “laicas”, e as verdades e valores conhecidos à luz da Revelação, que são ensinados nas universidades católicas.

Deus é o autor tanto da ordem natural, conhecida à luz da razão, quanto da ordem sobrenatural, conhecida à luz da Revelação.

Persuadido de tudo isso, São Tomás não tinha dificuldade alguma de entrar em diálogo com todos os grandes pensadores de seu tempo. Entrou em diálogo com a cultura hebraica (Maimônides), com a cultura muçulmana (Al-Farabi, Avicena) e com a cultura grega (Platão, Aristóteles).

Procurando a harmonia entre a Fé e a razão, São Tomás usa esta última para explicar o dado revelado e demonstra que este não é contrário à razão.

Parece que hoje, sob a influência de Bento XVI, a Igreja vive uma nova primavera da Educação Católica. Qual é a conveniência dessa iniciativa?

A educação laica, embora utilíssima, não consegue dar resposta a certas interrogações que o homem se faz a respeito da própria existência e do próprio destino, às assim chamadas “perguntas de sentido”, como eu disse acima. Nessa situação há o perigo do relativismo.

O relativismo põe no centro o indivíduo entendido de modo “absoluto”, nega os valores absolutos e promove a ideia de que o bem é um bem individual; esse bem deve ser procurado a todo custo, desde que não prejudique diretamente os outros.

Há também o perigo do fundamentalismo religioso. Este promove valores absolutos, mas são os valores absolutos da própria religião; é “não-respeitoso” em relação às outras confissões religiosas de qualquer tipo, e fechado ao diálogo.

A educação católica rejeita o relativismo e promove os valores absolutos, recusando também o fundamentalismo, esforçando-se por promover os verdadeiros valores, fomentando o diálogo e procurando a harmonia entre a Fé e a razão.

O que diria o Reitor a quem luta para ter uma sólida formação intelectual e cultural?

Nós somos missionários, não gente que procura uma profissão para conquistar um nome.

Por este motivo, não devemos desanimar se, cumprindo nossa missão de promover a verdade e os valores cristãos, não obtivermos aquele tipo de consenso esperado pelas pessoas que fazem carreira.

Devemos ter em conta apenas o fato de que os grandes protagonistas da História da Salvação precisaram sofrer muito para cumprir sua missão, muitas vezes sem ter um sucesso imediato.

Tiveram essa experiência em suas missões os grandes profetas do Antigo Testamento, como Moisés, Isaías, Jeremias e outros; igualmente a tiveram Jesus Cristo e os Apóstolos.

Com sua morte na Cruz, Nosso Senhor estabeleceu o Reino de Deus. Sofrendo e lutando, nós o fazemos crescer.