Antes de entrar no Santuário para recitar convosco o santo Rosário, detive-me brevemente diante do túmulo do Beato Bartolo Longo e, enquanto rezava, perguntei-me:
“De onde tirou este grande apóstolo de Maria a energia e a constância necessárias para realizar uma obra tão imponente, conhecida em todo o mundo? Não é precisamente do Rosário, por ele acolhido como um verdadeiro dom do coração de Nossa Senhora?”. Sim, foi verdadeiramente assim!
Disto dá testemunho a experiência dos Santos: esta popular oração mariana é um meio espiritual precioso para crescer na intimidade com Jesus, e para aprender, na escola da Virgem Santa, a realizar sempre a vontade divina.
É contemplação dos mistérios de Cristo em união espiritual com Maria, como ressaltava o Servo de Deus Paulo VI na exortação apostólica Marialis cultus (nº 46), e como depois o meu venerado predecessor João Paulo II ilustrou amplamente na carta apostólica Rosarium Virginis Mariæ, que hoje idealmente entrego à Comunidade de Pompeia e a cada um de vós.
Vós que viveis e trabalhais aqui em Pompeia – especialmente vós, queridos sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos comprometidos nesta singular porção de Igreja – sois todos chamados a fazer vosso o carisma do Beato Bartolo Longo e a tornar-vos, na medida e nos modos que Deus concede a cada um, autênticos apóstolos do Rosário.
Beleza e profundidade desta oração
Mas para ser apóstolos do Rosário, é preciso fazer experiência em primeira pessoa da beleza e da profundidade desta oração, simples e acessível a todos.
É necessário antes de tudo deixar-se guiar pela mão da Virgem Maria e contemplar o rosto de Cristo: rosto jubiloso, luminoso, doloroso e glorioso.
Quem, como Maria e junto com Ela, guarda e medita assiduamente os mistérios de Jesus, assimila cada vez mais os seus sentimentos e conforma-se com Ele.
Apraz-me, a este propósito, citar uma bonita consideração do Beato Bartolo Longo:
“Como dois amigos – escreve ele –
praticando frequentemente juntos, costumam conformar-se também nos costumes, assim nós, conversando familiarmente com Jesus e com a Virgem, ao meditar os Mistérios do Rosário, e formando juntos uma mesma vida em comunhão, podemos tornar-nos, na medida em que for capaz a nossa pequenez, semelhantes a eles, e aprender destes excelsos exemplos o viver humilde, pobre, escondido, paciente e perfeito.[1]
Deus fala sempre através do silêncio
O Rosário é escola de contemplação e de silêncio. À primeira vista, poderia parecer uma oração que acumula palavras, portanto, dificilmente conciliável com o silêncio que é justamente recomendado para a meditação e a contemplação.
Na realidade, esta repetição ritmada da Ave-Maria não perturba o silêncio interior, aliás, exige-o e alimenta-o.
Analogamente ao que acontece com os Salmos quando se reza a Liturgia das Horas, o silêncio sobressai através das palavras e das frases, não como um vazio, mas como uma presença de sentido último que transcende as próprias palavras e juntamente com elas fala ao coração.
Assim, recitando as Ave-Marias é preciso prestar atenção para que as nossas vozes não “se sobreponham” à de Deus, o qual fala sempre através do silêncio, como “o sussurrar de uma brisa leve” (I Rs 19, 12).
Como é importante então cuidar este silêncio cheio de Deus, quer na recitação pessoal, quer na comunitária!
Mesmo quando é rezado, como hoje, por grandes assembleias e como fazeis todos os dias neste Santuário, é necessário que se sinta o Rosário como oração contemplativa e isto não pode acontecer se falta um clima de silêncio interior.
Rosário e Palavra de Deus
Gostaria de acrescentar outra reflexão, relativa à Palavra de Deus no Rosário, particularmente oportuna neste período no qual está decorrendo no Vaticano o Sínodo dos Bispos sobre o tema: A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.
Se a contemplação cristã não pode prescindir da Palavra de Deus, também o Rosário, para que seja oração contemplativa, deve emergir sempre do silêncio do coração como resposta à Palavra, a exemplo de Maria.
Considerando bem, o Rosário está totalmente imbuído de elementos tirados da Escritura.
Está, antes de mais nada, a enunciação do mistério, feita preferivelmente, como hoje, com palavras tiradas da Bíblia.
Segue-se o Pai-Nosso: dando à oração a orientação “vertical”, abre a alma de quem recita o Rosário para uma justa atitude filial, segundo o convite do Senhor: “Quando rezardes, dizei: Pai…” (Lc 11, 2).
A primeira parte da Ave-Maria, também ela tirada do Evangelho, faz-nos ouvir, todas as vezes, as palavras com que Deus Se dirigiu à Virgem Maria, através do Anjo, e as palavras de bênção da prima Isabel.
A segunda parte da Ave-Maria ressoa como a resposta dos filhos que, dirigindo-se suplicantes à Mãe, não fazem mais do que expressar a própria adesão ao desígnio salvífico, revelado por Deus.
Assim, o pensamento de quem reza permanece sempre ancorado na Escritura e nos mistérios que nela são apresentados.