Já no final do século IV e no início do século V, temos testemunhos de vários autores que afirmam como Maria se encontra totalmente na glória de Deus, de alma e corpo.

Mas foi no século VI que, em Jerusalém, a festividade da Mãe de Deus, a Theotokos, consolidando-se com o Concílio de Éfeso em 431, mudou de fisionomia e se tornou a festividade da dormição, da passagem, do trânsito, da Assunção de Maria, tornando-se assim a celebração do momento em que Maria saiu da cena deste mundo glorificada em alma e corpo no Céu, em Deus.

Maria está intimamente unida ao seu Filho

Para compreender a Assunção, temos que considerar a Páscoa, o grande Mistério da nossa Salvação, que assinala a passagem de Jesus para a glória do Pai, através da Paixão, da Morte e da Ressurreição.

Maria, que gerou o Filho de Deus na carne, é a criatura mais inserida neste mistério, redimida desde o primeiro instante da sua vida e associada de modo totalmente particular à Paixão e à glória do seu Filho. 

Por conseguinte, a Assunção de Maria ao Céu constitui o mistério da Páscoa de Cristo, plenamente realizado em Maria. Ela está intimamente unida ao seu Filho ressuscitado, vencedor do pecado e da morte, plenamente conformada com Ele.

Mas a Assunção é uma realidade que também nos diz respeito, porque nos indica de modo luminoso o nosso destino, o da humanidade e da História.

Com efeito, em Maria contemplamos aquela realidade de glória à qual é chamado cada um de nós, juntamente com toda a Igreja.

A Assunção nos convida vigorosamente a confiarmos em Deus 

O trecho do Evangelho de São Lucas que lemos na liturgia desta Solenidade leva-nos a ver o caminho que a Virgem de Nazaré percorreu para estar na glória de Deus.

É a narração da visita de Maria a Isabel (cf. Lc 1, 39-56), em que Nossa Senhora é proclamada bendita entre todas as mulheres e bem-aventurada porque acreditou no cumprimento das palavras que lhe foram dirigidas pelo Senhor.

E no cântico do Magnificat, que eleva a Deus com alegria, transparece a sua fé profunda.

Ela insere-Se no meio dos “pobres” e dos “humildes”, que não confiam nas suas próprias forças, mas confiam em Deus, que reservam espaço à sua obra, capaz de realizar maravilhas precisamente na debilidade. 

Se a Assunção nos abre ao futuro luminoso que nos espera, convida-nos também vigorosamente a confiar-nos mais a Deus, a seguir a sua Palavra.

Convida-nos a procurar e cumprir a sua vontade todos os dias: este é o caminho que nos torna “bem-aventurados” na nossa peregrinação terrena e nos abre as portas do Céu.

Caros irmãos e irmãs, o Concílio Ecumênico Vaticano II afirma:

Maria, depois de ter sido elevada ao Céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna.

Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na Terra, até chegarem à pátria bem-aventurada.[1] 

Invoquemos a Virgem Santa, a fim de que seja a estrela que orienta os nossos passos rumo ao encontro com o seu Filho no nosso caminho para alcançar a glória do Céu, a glória eterna.

 

Excerto do Angelus na Solenidade da Assunção, 15/8/2012.

Notas
[1] Lumen gentium, n.62.