A Encarnação não teve unicamente por fim o de reparar a ofensa feita a Deus por nossos pecados, de curar a humanidade de suas feridas, e de libertá-la da escravidão ao tirano dos corpos e das almas.
Ela também nos devolveria a qualidade de filhos adotivos de Deus, perdida pela revolta original; ela iria deificar o homem, fazer dele o herdeiro do Pai e o co-herdeiro de Jesus Cristo.
O Filho do Deus vivo se tornou filho do homem
Não há nada que nossos santos Doutores tenham amiúde e mais magnificamente ensinado. “Se o Verbo Se fez carne, se o Filho eterno do Deus vivo Se tornou filho do homem, é para que o homem, entrando em sociedade com o Verbo, estreitando a adoção, se tornasse filho de Deus”.
E ainda: “O Filho de Deus, seu Unigênito segundo a natureza, por uma maravilhosa condescendência, tornou-Se filho do homem, a fim de que nós, filhos do homem por nossa natureza, nos tornássemos filhos de Deus por sua graça”.
E esta doutrina, é o próprio Deus que por seus Apóstolos a transmitiu aos Padres: “Quando veio a plenitude dos tempos, enviou Deus a seu Filho, feito de mulher, feito sob a Lei […], para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4, 4-5). […]
Deus nos queria elevar até Ele
Sim, tal é o fim próximo, imediato, da união do Filho eterno com nossa natureza: fazer do homem um filho adotivo de Deus, o irmão do Primogênito. […]
E, com efeito, posto que Deus queria nos elevar até Ele, não importava que Ele descesse primeiramente até nós? Que meio mais natural e mais divino de nos fazer entrar em sua família, do que Se unir Ele próprio à nossa?
Como, enfim, convidar-nos mais eficazmente a partilhar, por adoção, a honra da filiação divina do que nos dando o Filho, eterno objeto da complacência paterna, por irmão mais velho, um irmão de nossa carne e de nosso sangue?