Tempo houve em que, conforme narram as Sagradas Escrituras, o povo judeu recebeu a ameaça de ser exterminado pelo Rei Assuero.
Nesse momento crucial da sua história, entrou em cena a rainha Ester intercedendo junto ao monarca pelos seus e obtendo-lhes a salvação (cf. Est 3 - 7). Recordemos como isso se deu.
Segundo as leis em vigor naquela época, era proibido o acesso de qualquer pessoa ao átrio interno do palácio real sem ter sido convocada.
Quem ali ousasse entrar por própria iniciativa seria imediatamente condenado à pena capital, a não ser que o soberano levantasse seu cetro de ouro em direção ao intruso, como sinal de assentimento.
Havia um mês que Ester não era chamada à presença de Assuero, quando Mardoqueu alertou-a sobre a trama do infame Amã. Confiando, porém, no Deus verdadeiro e nas orações feitas pelos seus, a rainha dirigiu-se aos aposentos reais.
O anseio por obter a salvação do seu povo vencia em seu espírito o medo da morte. Ao vê-la, o monarca se alegrou e lhe estendeu o temido bastão de comando, cuja ponta ela se apressou a tocar em sinal de submissão.
“Que queres rainha Ester?”, perguntou-lhe o soberano. “Ainda que pedisses a metade do meu reino ela te seria concedida” (Est 5, 3). A ameaça fora vencida.
Esta admirável cena da História Sagrada prefigura uma realidade mais elevada e comovente para nós, cristãos.
Expulso do Paraíso e tornado inimigo de Deus por causa do pecado, o homem do Antigo Testamento estava subjugado ao domínio do demônio, muito mais cruel e tirânico do que os de Assuero ou Amã.
Como podia fazer para entrar novamente no Palácio Celeste e recuperar as boas graças do Criador? Quem ousaria comparecer diante do Rei da Justiça para interceder pela humanidade revoltada contra seu boníssimo Deus e Senhor?
“Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus” (Lc 1, 30). As singelas palavras do Anjo Gabriel deixam entrever o inefável amor do Altíssimo para com uma criatura, a mais santa e nobre entre todas.
Desde o momento de sua Imaculada Conceição, Deus A inundara de graças e favores. E bastou, por assim dizer, que Ela tocasse a ponta do divino cetro onipotente, advogando pela vinda do Salvador, para ser imediatamente atendida.
A fulgurante virtude da donzela de Nazaré conquistara de tal forma a benevolência do Criador que Ele decidiu tomá-La por Esposa Imaculada e torná-La sua Mãe Virginalíssima.
E depositando em suas alvíssimas mãos o cetro que simboliza o domínio sobre todos os homens, tornou-A Rainha de Misericórdia. Pela onipotência suplicante que Deus lhe concedeu, nada pode ser negado a tão bondosa Soberana.
Como uma nova Ester, a Santíssima Virgem achou graça aos olhos do Senhor em favor de todos os homens e conseguiu a metade do seu império divino.
Ela detém o cetro da misericórdia, enquanto o seu Filho continua a ser o Rei da justiça.
Sim, Maria é o ministro plenipotenciário da misericórdia divina; esse é o seu ministério.
Assim como nos Estados os que têm de tratar de uma questão de finanças, de marinha ou de agricultura se dirigem aos ministros respectivos, do mesmo modo é à Mãe de Deus que devem recorrer os que têm necessidade de misericórdia.1
Nunca nos cansemos, portanto, de recorrer a Ela nos momentos de dificuldade e aflição.
Do cetro que Lhe foi entregue por seu Divino Filho emanará sempre a força necessária para enfrentarmos qualquer adversidade da vida, porque, mais ainda do que Rainha e Senhora, Ela é Mãe extremosa de cada um de nós.
Sobretudo nas horas de sofrimento e de tentação, sempre poderemos contar com esse fator de paz fundamental: Nossa Senhora estará comigo, ainda que eu não esteja com Ela.
Não me abandonará nunca e me ajudará em todas as circunstâncias.
Virá ao meu encontro com a exuberância de sua misericórdia, concedendo-me mais do que Lhe peço e mais do que Lhe retribuo, deixando-me pasmo e desconcertado diante de tudo o que Ela faz por mim.2