O homem, ao qual Deus confiou a boa gestão da natureza, não pode ser dominado pela técnica e tornar-se sujeito da mesma.
Esta tomada de consciência deve levar os Estados a refletir juntos sobre o futuro do planeta, a curto prazo, considerando a sua responsabilidade pela nossa vida e pelas tecnologias. A ecologia humana é uma necessidade imperativa.
Necessidade de rever nossa abordagem da natureza
A adoção, em tudo, de um modo de viver respeitoso do meio ambiente e o apoio à pesquisa e à exploração de energias adequadas que salvaguardem o patrimônio da criação e não comportem riscos para o homem, devem ser prioridades políticas e econômicas.
Neste sentido, parece necessário rever totalmente a nossa abordagem da natureza. Ela não é apenas um espaço explorável ou lúdico. É o lugar onde nasce o homem, de certa forma, a sua “casa”. Ela é fundamental para nós.
A mudança de mentalidade neste âmbito, aliás, as obrigações que isto comporta, deve permitir que se chegue rapidamente a uma arte de viver juntos que respeite a aliança entre o homem e a natureza, sem a qual a família humana corre o risco de desaparecer. [...]
Conjugar a técnica com uma forte dimensão ética
O fundamento do dinamismo do progresso corresponde ao homem que trabalha, e não à técnica, que é apenas uma criação humana.
Apostar tudo nela, ou pensar que ela é o agente exclusivo do progresso ou da felicidade, leva a uma coisificação do homem, que termina na cegueira e na infelicidade, quando este lhe atribui e delega poderes que ela não tem.
É suficiente constatar os “danos” do progresso e os perigos que a humanidade corre devido a uma técnica onipotente e em última análise incontrolada.
A técnica que domina o homem priva-o da sua humanidade. O orgulho que ela gera fez surgir nas nossas sociedades um economismo intratável e um certo hedonismo, que determina os comportamentos de modo subjetivo e egoísta.
O debilitar-se da primazia do humano comporta um extravio existencial e uma perda do sentido da vida. Com efeito, a visão do homem e das coisas sem uma referência à transcendência erradica o homem da terra e, fundamentalmente, debilita a sua própria identidade.
Portanto, é urgente conseguir conjugar a técnica com uma forte dimensão ética, porque a capacidade que o homem tem de transformar, num certo sentido, o mundo por meio do seu trabalho, realiza-se sempre a partir do primeiro dom original das coisas, feito por Deus.[1]
A técnica deve ajudar a natureza a expandir-se segundo a vontade do Criador. Trabalhando deste modo, o investigador e o cientista aderem ao desígnio de Deus, que desejou que o homem fosse o ápice e o administrador da criação.
As soluções alicerçadas neste fundamento protegerão a vida do homem e a sua vulnerabilidade, assim como os direitos das gerações presentes e futuras.
E a humanidade poderá continuar a se beneficiar dos progressos que o homem, por meio da sua inteligência, consegue realizar.