O homem tem necessidade de Deus ou, por acaso, as coisas vão bem sem Ele?

Quando, numa primeira fase da ausência de Deus, sua luz continua enviando seus reflexos e mantém unida a ordem da existência humana, tem-se a impressão de que as coisas funcionam bastante bem mesmo sem Ele.

Contudo, quanto mais o mundo se afasta de Deus, tanto mais se torna claro que o homem, na petulância do poder, na vacuidade do coração e na ânsia de satisfação e de felicidade, “perde” cada vez mais a vida.

Empenho pela criatura que Ele quis à sua imagem

A sede de infinito está presente no homem de modo inextirpável. O ser humano foi criado para relacionar-se com Deus e precisa d’Ele. Nosso primeiro serviço ecumênico nos dias atuais deve ser o de, juntos, testemunharmos a presença do Deus vivo e, assim, dar ao mundo a resposta da qual ele tem necessidade. 

Naturalmente, faz parte desse testemunho fundamental de Deus, e de maneira absolutamente central, o testemunho de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que viveu entre nós, sofreu por nós, morreu por nós e, em sua ressurreição, abriu de par em par as portas da morte.

Caros amigos, fortaleçamo-nos nesta fé! Ajudemo-nos mutuamente a vivê-la! Esta é uma grande tarefa ecumênica, que nos introduz no coração da oração de Jesus.

A seriedade da fé em Deus se manifesta no fato de viver sua palavra. Em nosso tempo, se patenteia de modo muito concreto no compromisso por essa criatura que Ele quis à sua imagem, pelo homem.  

“Só quem conhece Deus conhece o homem” 

Vivemos numa época na qual se tornaram incertos os critérios de como ser homem. A ética foi substi­tuída pelo cálculo das consequências.

Face a isso, devemos nós, como cristãos, defender a inviolável dignidade do ser humano, desde a concepção até a morte, desde as questões do diagnóstico prévio à sua implantação até a eutanásia. “Só quem conhece Deus conhece o homem”, disse certa vez Romano Guardini.

Sem o conhecimento de Deus, o homem torna-se manipulável. A fé em Deus deve concretizar-se em nosso comum empenho pelo homem.

Fazem parte desse compromisso em favor do homem, não só esses critérios fundamentais de humanidade, mas sobretudo, e de forma concreta, o amor que Jesus Cristo nos ensina na descrição do Juízo Final (cf. Mt 25): o Divino Juiz nos julgará segundo o modo como nos comportamos com nosso próximo, com os menores de seus irmãos.

A disponibilidade para ajudar nas necessidades atuais, para além do próprio ambiente de vida, é um dever essencial do cristão.

Como disse, isso vale principalmente no âmbito da vida pessoal de cada um. Mas vale também na comunidade de um povo e de um Estado, onde todos nós devemos cuidar uns dos outros.

Vale para nosso Continente, no qual somos chamados à solidariedade europeia. Isso vale, enfim, para além de todas as fronteiras: a caridade cristã exige também hoje nosso compromisso pela justiça no mundo inteiro. 

 

Excerto do Discurso na celebração ecumênica em Erfurt, 23/9/2011 – Tradução: Arautos do Evangelho