Com aqueles brados, a multidão reconhecia a realeza de Jesus como autêntico descendente de Davi.

Entretanto, eram aclamações baseadas numa perspectiva deformada, segundo a concepção – generalizada entre os judeus – de um Messias político que os libertaria do jugo romano e restauraria o reino de Israel, obtendo-lhe a supremacia sobre todas as outras nações.

Eles associavam a vinda desse Messias, portanto, mais a uma salvação temporal do que à salvação eterna. Assim, receberam Jesus com honras, na expectativa de que Ele, afinal, tomasse conta do poder e se iniciasse para os judeus uma época diferente.

De fato, o Redentor abria uma era diferente, mas do ponto de vista sobrenatural. E eles, muito naturalistas, não percebiam isto. Em consequência, aquele contentamento que manifestavam não estava timbrado pela admiração à divindade de Cristo.

Arrebatados por graças místicas e consolações extraordinárias, acolheram-No entre gritos e cânticos de entusiasmo, transbordando de alegria; porém, devido a esta mentalidade errada, aplicaram tais graças num rumo destoante dos desígnios de Deus.

Desejosos de um reino humano, imaginavam como sendo o máximo sucesso ter um monarca dotado da capacidade de operar qualquer espécie de milagres, pois, deste modo, todos os seus problemas seriam resolvidos.

No fundo, almejavam uma felicidade meramente terrena e, com tal ardor a procuravam, que se fosse possível, quereriam passar a eternidade neste mundo.

Numa palavra, eram “limbolatras”, ou seja, adoradores de uma situação que fizesse desta vida uma espécie de limbo, sem sofrimento nem gozo sobrenatural.

 

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP – O inédito sobre os Evangelhos, vol. III.