Qual a finalidade de uma igreja? Ora, dirá alguém, pergunta banal, fácil de responder: a igreja é por excelência o lugar onde se presta culto a Deus. Desde tempos imemoriais, sempre foi essa sua finalidade.

Os pagãos, na antiguidade, multiplicaram os templos para abrigar seus incontáveis deuses. Romanos, gregos, fenícios, babilônios, assírios, egípcios, enfim pode-se dizer que quase todos os povos construí­ram templos para suas divindades, tão variadas quanto falsas.

Salomão, rei dos judeus, construiu uma das maravilhas do mundo antigo, o templo de Jerusalém, dedicado ao único e verdadeiro Deus.

Após a vinda de Nosso Senhor, quando os cristãos obtiveram liberdade de ação, começaram a construir edifícios próprios para o culto. De início, muito modestos, chegaram depois à magnificência das catedrais góticas medievais. 

Mas, embora o templo seja principalmente o local onde se presta de forma adequada culto a Deus, não é esta, entretanto, sua única finalidade.

A Santa Igreja é mãe dadivosa. Ao inspirar os construtores das igrejas, não tem ela em vista apenas atender às necessidades do culto divino. Ela toma em consideração também as necessidades de alma dos seus filhos.

Por este motivo, os bons templos católicos – sejam eles suntuosos ou modestos – são sempre acolhedores, propiciando a todos quantos neles entram aquela atmosfera de refrigério, de luz e de paz, que lhes facilita “conversar” com Deus, Maria, os Anjos e os Santos, formulando preces ou simplesmente ouvindo a voz maravilhosa da graça no fundo dos seus corações.

A igreja – disse alguém –  é o palácio dos pobres. A  afirmação é verdadeira, porém incompleta, pois ela é o palácio de todos: ricos e pobres, poderosos e humildes, sãos e doentes, santos e pecadores. Não há quem não encontre em seu ambiente acolhedor o alívio que procura.

A este propósito, guardo ainda na memória recordações muito vivas da minha infância. Morava eu numa pequena cidade nordestina, onde a vida corria pacata e muito simples.

De repente, um acontecimento colossal, para um menino de nove anos, pôs fim a essa tranquilidade: a família decidiu mudar-se para São Paulo!

Transportado para um mundo tão diferente do que havia sido até então o meu, vi-me perplexo diante das fosforescências da cidade grande. Porém, havia algo que me enlevava, me pacificava, me estabilizava: era o ambiente da pequena igreja do meu bairro.

Quando comecei a frequentá-la, fiquei encantado com o som do órgão, a beleza dos paramentos, o dourado reluzente dos cálices e cibórios, o esplendor da custódia onde era exposto o Santíssimo Sacramento.

Tudo isso concorria para pôr-me numa clave elevada de cogitações, e me fazia experimentar a alegria de ser católico. Nunca me passou pela cabeça a mesquinha objeção de Judas Iscariotes: Para que tanto “desperdício”?

Pois para mim era inteiramente óbvio que, para prestar homenagem a Deus, a Nossa Senhora, não há o que baste.

Sentia sempre uma alegria incomensurável em observar na singela igreja paroquial, aonde ia aos domingos, a limpeza exímia, a distinção, as cores vivas (especialmente o vermelho) contrastando com o cinza da cidade.

Era um descanso para os olhos e para a alma. Depois, comecei a participar também, durante a semana, da recitação do terço, da bênção do Santíssimo Sacramento, do mês de Maria, com os anjinhos que entravam para homenagear a Santíssima Virgem…

Nas grandes festas religiosas, a igreja como que extravasava para o bairro inteiro sua benéfica atmosfera.

Eram as grandes procissões, especialmente a de Corpus Christi, quando Jesus Sacramentado percorria o bairro, abençoando os lugares por onde passava. Era uma procissão apoteótica.

As ruas eram todas atapetadas de flores e de serragem, formando desenhos multicoloridos — artísticos alguns, ingênuos outros.

Os moradores empenhavam-se em decorar externamente suas casas com o que tinham de melhor: vasos de flores, tapetes ou tecidos preciosos nas janelas, enfim, tudo quanto servisse para demonstrar seu amor a Jesus Sacramentado.

Que feeria diante dos meus olhos maravilhados!

Quando a procissão retornava à igreja, deixava por onde havia passado um convite de Nosso Senhor: “Venham todos visitar-me em minha casa! A todos espero, durante o ano inteiro, dentro do Sacrário.

“Lá estarei para ouvir, atender, ajudar, consolar qualquer um que queira me procurar. Não deixem de visitar também Maria, Mãe minha e de todos vocês, e encontrarão a paz de alma que tanto desejam.”

E eu então, prezado leitor, prezada leitora, fazia com grande alegria o que agora lhe sugiro fazer: sempre que tiver oportunidade, entre numa igreja!

Mesmo que seja para uma rápida visita de apenas um ou dois minutos.

Se dispuser de um pouco mais de tempo, deixe que a atmosfera do recinto sagrado impregne sua alma. Reze. Fale com Jesus, com Maria. Ou simplesmente fique quieto, ouvindo o que Eles têm a lhe dizer no fundo do coração.