O Autor teve a ventura de conhecer Dr. Plinio no primeiro dia da novena de Nossa Senhora do Carmo, no ano de 1956. Tal acontecimento, porém, foi preparado por alguns antecedentes. 

Por esses anos o Autor, ainda adolescente, vivia uma autêntica tragédia interior por perceber a degradação da sociedade.

Por diversas circunstâncias, desde criança ele se sentia abandonado numa terra de bandidos, onde precisava estar em contínuo alerta, pois qualquer desgraça lhe podia sobrevir.

Achava que o mundo estava completamente desprovido de justiça, não havia lei nem castigo suficientes para pôr fim a tantos horrores que se cometiam. 

Ademais, ele desejava muito encontrar uma pessoa boa e desinteressada. Não era possível que o universo se sustentasse sem alguém assim.

Por uma ação da graça, tinha ele certeza absoluta de existir um homem que fosse perfeito, justo, grandioso, capaz de mudar a face da Terra, junto ao qual houvesse um grupo de pessoas. 

Uma figura cheia de majestade e força

Essas impressões eram reforçadas por certos fenômenos sobrenaturais. O Autor se recolhia à noite, mas não conseguia conciliar o sono, por causa daquela perplexidade.

Tirava então as cobertas e se ajoelhava aos pés da cama, pois não tinha o costume de se ajoelhar no chão. Segurava as mãos e por longos períodos rezava Ave-Marias, contando-as nos dedos, pedindo para encontrar esse homem bom, que era sua “terra prometida”.

Em várias ocasiões, enquanto assim fazia, o Autor viu a silhueta de uma pessoa corpulenta, revestida de um hábito e uma capa creme, com muita majestade e força, mas na qual não distinguia os traços fisionômicos.

Esse varão se lhe afigurava como o homem por ele esperado. Tão emocionado ficava que as lágrimas lhe corriam pela face. Passaram-se dois anos, nos quais esta visão se repetia quase todas as noites... 

Mudança de todos os hábitos

Devido a uma mudança de colégio e a outras razões familiares, o Autor havia perdido de vista todos seus amigos. Vendo-se isolado, resolveu fundar uma sociedade para tirar os jovens da corrupção e do vício, pondo-os no caminho reto.

Inscrito no Colégio Estadual Presidente Roosevelt, o Autor tornou-se aluno de um discípulo de Dr. Plinio que lecionava História no estabelecimento.

Um dia, na sala de aula, este perguntou se alguém duvidava da existência do inferno.

Seis alunos levantaram a mão, e ele lhes mandou procurá-lo depois da classe para ouvir a demonstração. O Autor os acompanhou, ansioso por conhecê-la.

O professor deu a prova clássica de que o castigo é proporcionado à ofensa, e esta é proporcionada ao ofendido.

Sendo o ofendido infinito, o castigo deveria ser também infinito. O Autor exultou com a resposta, e logo pensou em chamar o professor para fazer parte de sua futura associação… Mas foi ele quem o convidou para uma conversa em sua casa.

No dia marcado, em vez de tratar a respeito da sociedade, o professor fez uma palestra sobre o protestantismo e as monstruosidades de Lutero, com base no livro A Igreja, a Reforma e a Civilização, do Pe. Leonel Franca, SJ.

O Autor saiu impressionado com a exposição e concluiu ser a Igreja Católica a solução de todos os problemas, desejando assim pô-la no centro de sua vida.

Recebeu ele uma graça fulgurante em relação à Esposa Mística de Cristo, e nela pensou durante toda a noite.

No dia seguinte procurou um sacerdote, confessou-se, assistiu Missa e comungou, costume que manteve diariamente desde aquela data até hoje.

Por sua vez, aprendeu a rezar o Rosário e passou a recitá-lo naquele mesmo dia. Enfim, mudou todos os seus hábitos!

Passados dois meses o professor convidou-o para assistir a novena a Nossa Senhora do Carmo, da qual ele e alguns amigos participariam. Aí se daria o primeiro encontro com Dr. Plinio.

“Esse é o homem!”

No dia 7 de julho de 1956, o Autor acompanhou o professor à Basílica do Carmo e, como este ­atuaria na cerimônia, permaneceu só, acomodado em um dos bancos de trás. De repente, soam o sininho da sacristia e o sino da igreja: eram oito horas da noite.

O coro dos religiosos entoa o hino Flos Carmeli, numa composição acompanhada de instrumentos que enche a basílica de harmonias. Todos se levantam, e o Autor, tomado pela graça, exclama para consigo: “Eu estou no Céu!”. 

Então aproximou-se um cortejo composto por duas colunas, entrando pelo fundo da igreja: eram doze pessoas revestidas do hábito do Carmo e da capa. Aqueles poucos homens extasiaram o Autor, que pensou: “Aqui está o conjunto que eu procurava!”. 

Mas seu arrebatamento chegou ao auge quando viu, depois da sexta dupla, um que vinha só, no centro, preenchendo o espaço das duas fileiras.

Um pormenor chamou-lhe a atenção logo à primeira vista: enquanto os demais tinham a capa fechada e quase não se via o escapulário, naquele varão corpulento a capa estava toda aberta, mostrando o peito forte de um homem com autoridade. Era Dr. Plinio!

Ao ver sua figura trajando hábito e contemplar-lhe a fisionomia, o Autor lembrou-se das visões preparatórias: era a realização daquilo que Nossa Senhora havia prometido!

Recebeu, enfim, uma graça mística extraordinária, que na linguagem interna do Grupo dos discípulos de Dr. Plinio seria chamada de “flash”, e em sua alma só houve uma exclamação: “Esse é o homem bom que eu procurava! A ele eu queria conhecer, a ele sou chamado a seguir e a me enfeudar!”.

O Autor pode pôr a mão sobre os Evangelhos e afirmar que toda a entrega que faria depois em relação a Dr. Plinio já estava em germe naquele primeiro olhar. 

Terminado o ato, o Autor saiu da igreja junto com fiéis que se retiravam, a fim de esperar o professor.

Dr. Plinio se aprontou depressa e desceu a escadaria externa do convento anexo à Basílica, enquanto o Autor o acompanhava com o olhar, dizendo para si mesmo: “Ah, lá está ele”.

Ao contrário do que imaginava, Dr. Plinio veio em sua direção. Julgava que ele passaria sem dizer nada, pois estava certo de que não o conhecia, quando, para sua surpresa, o cumprimentou: 

Você é o João?

Sim, sou eu mesmo. 

E eu sou Plinio Corrêa de Oliveira.

A conversa transcorreu sobre diversos temas e, uma vez terminada, Dr. Plinio despediu-se com um sonoro “Salve Maria!”. Enquanto ele se distanciava, o Autor o contemplava, encantado.

Depois desse inesquecível encontro, o Autor entrou para o Grupo de Dr. Plinio e realizou-se, de fato, aquilo por que aspirava.

Foi, portanto, um dia felicíssimo, a partir do qual se estabeleceu um relacionamento místico, superior ao próprio convívio, pelo qual o Autor entregou-se por completo, convicto de ter achado o homem que procurara.

Foi o maior “flash” da vida, “flash” permanente e vivo até o momento em que escreve estas linhas.

Todas as graças posteriores no sentido de compreendê-lo enquanto profeta, varão da destra de Maria Santíssima e homem providencial foram apenas o desdobrar dessa riquíssima semente inicial, posta pela Providência em sua alma.