Desde suas primeiras expressões, a Constituição Apostólica Sapientia christiana ressalta a urgência, ainda atual, de superar a divergência existente entre Fé e cultura.
Convidando a um maior compromisso evangelizador, na firme convicção de que a Revelação cristã é uma força transformante, destinada a impregnar os modos de pensar, os critérios de juízo, as normas de ação.
Ela está em condições de iluminar, purificar e renovar os costumes e as culturas dos homens[1] e deve constituir o ponto central do ensino e da investigação, bem como o horizonte que ilumina a natureza e a finalidade de toda Faculdade eclesiástica. […]
Sem Jesus Cristo, o homem é incapaz de se compreender a si mesmo
Trinta anos depois, as linhas fundamentais da Constituição apostólica Sapientia christiana conservam ainda toda a sua atualidade.
Além disso, na sociedade hodierna, onde o conhecimento é cada vez mais especializado e setorial, mas está profundamente marcado pelo relativismo, torna-se ainda mais necessário abrir-se à “sabedoria” que vem do Evangelho.
Com efeito, sem Jesus Cristo, o homem é incapaz de compreender plenamente a si mesmo e o mundo: somente Ele ilumina sua verdadeira dignidade, sua vocação, seu fim último, e abre o coração a uma esperança sólida e duradoura.
Caros amigos, vosso empenho em servir a verdade revelada por Deus participa da missão evangelizadora que Cristo confiou à Igreja; é, portanto, um serviço eclesial.
Sapientia christiana cita, a este respeito, a conclusão do Evangelho segundo Mateus: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo quanto vos prescrevi” (Mt 28, 19-20).
O fim a atingir: ser instrumento do anúncio evangélico
É importante para todos, professores e estudantes, nunca perder de vista o fim a atingir, isto é, o de ser instrumento do anúncio evangélico.
Os anos dos estudos eclesiásticos superiores podem comparar-se à experiência que tiveram os Apóstolos: convivendo com Jesus, aprenderam a verdade, para depois anunciá-la por toda parte.
Ao mesmo tempo, é importante lembrar que o estudo das ciências sagradas nunca deve separar-se da oração, da união com Deus, da contemplação – como recordei nas recentes Catequeses sobre a teologia monástica medieval – pois do contrário as reflexões sobre os mistérios divinos correm o risco de tornar-se um vazio exercício intelectual.
Toda ciência sagrada conduz, por fim, à “ciência dos Santos”, à sua intuição dos mistérios do Deus vivo, à sabedoria, que é dom do Espírito Santo, e que é alma da “fides quærens intellectum”.[2] […]
Orientar o homem à luz dos seus princípios primeiros e fins últimos
Celebrar um aniversário é agradecer a Deus que guiou nossos passos, mas é também tirar da própria história estímulo para renovar a vontade de servir a Igreja.
Neste sentido, vosso lema é também um programa para o futuro da Federação: Sciat ut serviat – Saber para servir.
Numa cultura que manifesta uma “carência de sabedoria, de reflexão, de pensamento capaz de realizar uma síntese orientadora”,[3] as Universidades católicas, fiéis à própria identidade que faz da inspiração cristã um ponto qualificante, são chamadas a promover uma “nova síntese humanística”.[4]
São chamadas a um saber que seja “sapiência capaz de orientar o homem à luz dos princípios primeiros e dos seus fins últimos”,[5] um saber iluminado pela Fé. […]