Certo dia, duas jovens do setor feminino dos Arautos deixaram a casa onde vivem para prosseguir sua costumeira faina apostólica.

Iam fazer visitas, propagar a Fé Católica, servir de instrumento para a ação da graça, enfim, procurar, de alguma maneira, aproximar de Deus e de sua Igreja as pessoas.

Tais visitas são marcadas com antecedência, trata-se apenas de procurar as famílias, seguir uma rotina habitual. Retifico-me: não há rotina nessa atividade, pois cada alma é um pequeno universo, cheio de panoramas, cujo conjunto reflete de modo particular a Deus, Nosso Senhor.

Nesse miniuniverso estão presentes qualidades, e muitas vezes grandes qualidades. Infelizmente, também defeitos, e muitas vezes grandes defeitos. 

Mas – Deus meu! – quantas boas potencialidades a desenvolver em nossos próximos! Estão eles à espera de uma mão amiga que lhes dê um pequeno impulso para ajudá-los a caminhar ou, quem sabe, a voar nas vias da perfeição, conforme o mandamento do Divino Mestre: “Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito” (Mt 5, 48).

Num dos lares visitados, as duas jovens foram atendidas com gentileza por um homem de meia-idade, iniciando-se uma animada conversa.

Em dado momento, mostraram-lhe uma foto da imagem peregrina do Imaculado Coração de Maria. Tomado de visível emoção, ele a contemplou durante certo tempo e pôs-se a chorar, dizendo: “Eu já conheço esta imagem!”

Onde o senhor a conheceu? – perguntou uma delas.

— Trata-se de uma história um pouco longa – respondeu ele, entre lágrimas.

E narrou o seguinte fato: 

Eu estava num presídio, cumprindo a pena a que fui condenado. O ambiente, terrivelmente pesado, fazia-me, às vezes, imaginar que estava no inferno.

As brigas eram uma constante no dia a dia do presídio. Contendas violentíssimas que tornavam mais carregada a atmosfera do lugar.

Um dia fui chamado pelo diretor. “Que quererá ele?”, perguntei-me. Foi uma surpresa tão inesperada quão intrigante. Mal sabia eu que a graça ia bater, ou melhor, ia arrombar as portas da minha alma. 

Disse-me ele: “Por causa do seu bom comportamento, você foi escolhido para uma missão singular: acompanhar um grupo dos Arautos do Evangelho que desejam visitar os presos”.

Lá fui eu, ao encontro deles. Ao me aproximar, dei-me conta de que portavam uma belíssima imagem de Nossa Senhora e queriam passar diante de cada cela, para os presidiários poderem venerá-la.

A imagem causou-me enorme impressão. Sua presença evocava a Santíssima Virgem de modo tocante. Com muita alegria e emoção, ajudei a transportar essa bendita imagem.

Cela por cela, nos vários andares do edifício, ela visitou cada preso, sendo ocasião de graças para aquelas almas muitas vezes revoltadas, inconformadas com a vida e atormentadas pelo remorso.

Todos ali eram também filhos da Mãe Celeste, e, à medida que a imagem passava, Nossa Senhora bondosamente ungia com bálsamo divino aqueles corações, trazendo-lhes um pouco de paz, infundindo-lhes o desejo de mudar, de serem bons.

Para tristeza minha, a visita chegou ao fim. Os Arautos deixaram a prisão, levando a imagem, mas o perfume da presença da Santíssima Virgem ali ficou, marcando de um modo indelével as almas que se abriram para tão misericordiosa graça!

Fato notável: naquele dia ninguém brigou no presídio!