Não é à toa que os aeroportos da velha Europa estão abarrotados durante o ano todo. Turistas chegam aos milhares, e dos lugares mais distantes do mundo: Austrália, Japão, Estados Unidos, América Latina.

Espanha, Itália e França recebem, cada uma, mais de 50 milhões de visitantes anualmente. Só a legendária Abadia do Mont Saint Michel, na França, nos confins da Normandia com a Bretanha, todos os anos é visitada por mais de 5 milhões de pessoas.

O mesmo se dá com Veneza, Orvieto, Sevilha e tantos outros lugares do Velho Continente, repletos de milhares e milhares de visitantes todos os dias.

O que vêm eles procurar aqui? Sem dúvida, o maravilhoso, o belo, algo que os eleve e atenda às apetências mais profundas de suas almas.

Acredite! É precisamente isso!

A fim de que também nossos leitores possam compartilhar as maravilhas da civilização cristã, proponho-lhes hoje uma rápida visita à Europa, não para olhar uma catedral, palácio ou museu, mas para participar de um outro tipo de viagem.

Sim, uma viagem a um passado que encanta e atrai homens e mulheres do presente.

Vamos conhecer uma aldeia medieval que todo verão se esquece do século XXI e volta aos costumes, hábitos, diversões e piedade que tinham seus antepassados nos séculos XI, XII, XIII.

Que tipo de pessoas costuma visitar essa aldeia, situada a 80 quilômetros de Paris?

Serão estudiosos, arqueólogos, sisudos investigadores ou velhos professores munidos de lupas e pergaminhos empoeirados debaixo do braço? Não!

São jovens cheios de vida, famílias com filhos, crianças, executivos cansados dos telefones celulares, da vida trepidante de seus escritórios e dos congestionamentos do tráfico das cidades modernas; são banqueiros, empresários, engenheiros, estudantes universitários.

É gente que busca mais o descanso da alma que o do corpo, procurando algo de belo, de sublime.

Provins, situada na região da Champagne (que deu o nome ao célebre e inigualável vinho espumante), cujas origens remontam a um passado que se perde na noite dos tempos, era uma cidade importante já na época de Carlos Magno.

Hoje conta com doze mil habitantes. Está rodeada de muralhas, possui castelos e igrejas góticas, com elegantes e altaneiras torres que apontam para o céu.

Entre essas igrejas, destacamos a de Santo Ayoul, construída no século XI, que evoca as mais belas páginas da arte medieval; ou ainda a Colegialle de São Quiriace, construída em meados do século XII, que recebeu os cruzados em 1209.

São verdadeiras obras-primas da arquitetura ogival, em cujo interior sempre encontramos, acolhedora, amável e bondosa, uma imagem de Maria Santíssima.

Mas não há apenas castelos e igrejas.

Ali podemos ver também casas burguesas e camponesas, cômodas, acolhedoras, confortáveis, resistentes e encantadoras, de cujas janelas, no verão, pendem todo tipo de flores, das mais variadas cores, que parecem dar as boas-vindas aos visitantes cansados da frieza e do estresse das cidades de hoje.

O homem do século XXI aprecia passear pelas maravilhosas alamedas de cedros centenários, ou pelos legendários caminhos de ronda, com suas muralhas e ameias que evocam um passado de fé e de esforço.

A cada verão, Provins recebe mais de 500 mil visitantes, encantados com suas festas nas ruas e praças públicas, que ocorrem durante toda a estação.

Eles emocionam-se com as competições e torneios: “Aplauda a coragem cavalheiresca. Thibaud, Conde de Champanhe, está sendo assediado por Filipe de Hurepel, Conde da Picardia. ... O que está em jogo é nada menos do que o destino de Provins.”

Entusiasmam-se com o voo das águias que os adestradores soltam por cima das muralhas, juntamente com falcões e outras aves de rapina.

É assim que os folhetos turísticos de Provins anunciam seus atrativos:

Venha reviver a arte da falcoaria medieval.

Tendo como fundo de quadro histórico as muralhas de Provins, um balé mágico se desenrolará acima de sua cabeça: águias, falcões, gaviões o entreterão num espetáculo maravilhoso. Trajes, músicas, narrações, assim como a beleza do voo das aves, lhe causarão emoções inesquecíveis…

Mas não é tudo. Os visitantes se encantam com as feiras, onde os vendedores vestem lindíssimas roupas do século XII ou XIII; também os representantes de cada ofício de arte usam a roupa que distingue sua profissão.

Também deliciosos vinhos ou queijos regionais podem ser degustados, juntamente com a admirável culinária da Champanhe.

Ao cair do sol, os conventos, praças, igrejas e castelos se revestem de suas melhores galas.

Vejamos, por exemplo, um espetáculo de Son et Lumière — som e luzes — no convento dos franciscanos, que evoca as festas realizadas outrora pelo Conde de Champanhe, com músicas e diálogos magistralmente representados.

Quem serão os artistas? “Certamente famosos atores da Comédie Française”, dirá algum entendido. Não! São aprazíveis habitantes de Provins.

Na vida real, um é padeiro, outro é veterinário, mais adiante encontramos um açougueiro, uma modista, um vendedor de frutas, um advogado, um contador…

Chegada a noite, todos revivem, com arte e maestria, a vida de seus antepassados.

Também para as crianças existem programas especiais. Há aulas de aprendizagem para fazer vitrais, iluminuras em livros, brasões e outras artes, que se realizam numa suntuosa casa de comerciantes do século XIII.

Ogivas, muros de pedra, vitrais nas janelas favorecem a inspiração dos jovens aprendizes.

Para os adolescentes e adultos, existem as “festas medievais”, que se realizam ininterruptamente há 18 anos, nas quais todos os personagens se vestem com roupas medievais multicoloridas.

Aparecem cavaleiros, templários, cruzados, peregrinos, mendigos, trovadores, que se reúnem, rezam, cantam, bailam, narram histórias e animam as grandes feiras da Champanhe, desde o século XI.

Provins também sabe rezar e cantar para Nosso Senhor. Durante o inverno – estação muito fria e com nevadas frequentes – recorda a Natividade do Senhor:

Venha reencontrar Maria e José reunidos junto ao Menino Jesus, compartindo assim deste maravilhoso momento de fim de ano.

No próprio coro da igreja Colegial cinquenta personagens e mais alguns animais presentes na gruta darão mostra de uma apresentação realista do nascimento de Cristo e da visita dos Reis Magos, montados em camelos, ao som de trompetes e de cânticos natalinos.

De onde vem o encanto de Provins? Será o mero atrativo estético ou o desejo de “relaxar”, abstraindo-se por alguns dias das tensões contemporâneas?

Ou será algo mais profundo, a ideia de encontrar uma civilização que começava a ser construída pela ação evangelizadora da Santa Igreja e que, a partir de certo momento, o egoísmo e os pecados dos homens começaram a desviar, até nos conduzir às loucuras do mundo de hoje?

Quiçá, em algumas almas tocadas pela graça, nasça a seguinte interrogação: Esse encanto, esse atrativo, será apenas uma recordação saudosista de um passado que se foi, ou vago pressentimento de um mais belo futuro que virá, com o triunfo do Imaculado Coração de Maria prometido em Fátima?