Certo dia, Plinio participava de uma aula de ginástica no Colégio São Luís, onde estudava.[1] Segundo ele mesmo descreve, havia ali bonitos bambus, alinhados e elegantes, plantados com regra e simetria, sob os quais o chão era coberto de areias alvíssimas e muito puras.
Ao contemplar aquela magnífica ordenação da natureza, ele ficou encantado e teve uma extraordinária sensação de disciplina, elevação e limpeza. Até o fim de sua vida ele conservaria na memória o que sentiu nessa ocasião.
A analogia que me veio ao espírito, contemplando o bambuzal, era a de uma ordem humana perfeita, como o alinhamento retilíneo daquela parede vegetal. As suas pontas, movendo-se numa grande altura, pareciam-me simbolizar a ordem e a intransigência. […]
O bambuzal ereto e firme dava-me a impressão de um esquadrão de guerreiros em ordem de batalha, levantando seus imensos sabres e parecendo atingir o azul do céu. E o sol admirativo e cerimonioso se punha sobre eles, baixando lentamente e projetando uma sombra no areal do recreio […].
Por outro lado, as luzes vespertinas da São Paulinho daquele tempo tinham belezas extraordinárias e luminosidades triunfais, que me tocavam a fundo.
Outro elemento vinha aumentar a beleza da cena:
De vez em quando, um padre andava pelo colégio silencioso, de rosário na mão, meditativo, com batina e faixa pretas, tendo o clássico barrete na cabeça. Um outro passava junto aos bambus, rezando o seu breviário de encadernação preta, sossegado e tranquilo. Ambos se encontravam no pátio, cumprimentavam-se e continuavam a andar.
Tudo aquilo era digno e composto, contrário à desordem que reinava quando ali se encontravam os meninos, em meio à correria e ao caos, ao mau trato, ao igualitarismo e à brutalidade.
Cruzado da ordem do universo
Plinio viu, então, o contraste entre a ordem da natureza e da Igreja, tão de acordo com o que ele amava, e de outro lado o mundo inteiro mergulhado no pecado.
E pensou:
Esta é a ordem que Deus pôs no mundo! Ordem na Igreja: os jesuítas rezando, lentos e sérios. Ordem que Deus quis manifestar ao homem por meio da natureza: o bambuzal, que também representa o passado, pois as pessoas que aprenderam a plantar os bambus em linha reta não eram como essa meninada… Como eu gosto dessa ordem!
Chamado já na infância a representar a ordem do universo, ele entrava em consonância plena e fazia-se um com os reflexos dela que encontrava.
Ali no pátio do colégio, gemendo por essa ordem e desejando que todas as coisas fossem dispostas de acordo com a sua finalidade, sentiu a voz da graça em seu interior e disse para si mesmo, cheio de convicção:
“A humanidade está perdida e caminha para uma hecatombe. Dia virá em que a ordenação existente na criação não suportará mais os pecados dos homens e se levantará para castigá-los”.
Ora, ele não concebeu tal ideia por ouvir alguma profecia, mas levado pelo senso do ser e pelo discernimento dos espíritos. Essa foi a sua primeira noção a respeito de um futuro castigo universal e uma intervenção da Providência, abalando a natureza, transformando a humanidade e implantando a ordem.
E ele vislumbrou inclusive qual seria a conclusão desses acontecimentos que previa:
Entendi que esse desenlace não seria propriamente o fim dos tempos, mas iniciaria uma era em que os homens receberiam os últimos ensinamentos antes de a História terminar, e me fiz a seguinte pergunta: “Como será a terra, no dia em que o pecado for vencido e as pessoas tomarem juízo?”
E refleti: “O que agora existe de bom vai permanecer, mas essa época será muito melhor do que tudo isso, pois ela constituirá a réplica de Deus contra o mal. E a Igreja será a rainha!”
E de imediato reforçou a sua decisão de lutar pelo bem, como cruzado da ordem do universo:
Vou dedicar minha existência a trabalhar contra o caos, pela ordem de Deus que será restabelecida!
Serei o soldado dessa esperança! Mas dizer “esperança” é muito pouco. Para mim, trata-se de uma certeza: a ordem do universo não se deixará esmagar pelo mal!
O clamor das criaturas pela ordem da criação
Tratava-se de um princípio inteiramente teológico formulado por um menino, sem o conhecimento próprio a um doutor, mas tendo em sua alma a inocência, o senso da santidade e uma profunda intuição sobrenatural a respeito da harmonia da criação.
Com efeito, nas criaturas essa ordem é constituída por Deus de tal maneira que bastaria um só pecado para repercutir em toda a natureza como algo semelhante a um tremor de indignação, com a tendência de vingar a falta.
Se os Anjos não retivessem os astros, as águas dos oceanos, as areias dos desertos, os animais e os vegetais, e não mantivessem a Terra em sua órbita, tudo entraria em convulsão e seria levado a levantar-se contra aquele pecador para aniquilá-lo, por ter rompido a ordem que não devia ser alterada.[2]
Quando o homem abandona a Fé, revoltando-se contra Deus ou dando-Lhe as costas, e estabelecendo na terra uma verdadeira imagem do inferno, tem de chegar o momento em que o Criador, por assim dizer, retira sua mão, provocando o revide da natureza.
Em consequência as catástrofes começam a se multiplicar. Dr. Plinio o afirmaria mais tarde:
A doutrina católica apresenta o universo em ordem. Donde vem a certeza de que as coisas devem caminhar para essa ordem ou acaba o mundo. Pois há como que um clamor de toda a natureza que ruge e pede a Deus por vingança quando Ele é contrariado.
A mensagem recebida e entendida
Ao narrar tais episódios Dr. Plinio não hesitava em reconhecer o aspecto sobrenatural do acontecido naquele dia enquanto contemplava o bambuzal, e da penetração de suas previsões sobre o futuro do mundo.
Percebo com clareza que aquilo foi, sobretudo, um fruto da graça, pois, para um menino daquela idade chegar a conclusões tão profundas, não bastavam os meros recursos da natureza. Inclusive sou propenso a aceitar que tenha havido uma ação de caráter místico.
De fato, tão elevadas reflexões não se explicam sem uma intensa ação de graças místicas.
Em 1920 ou 1921, pouco depois das aparições de Nossa Senhora em Fátima, no jardim do Colégio São Luís era desvendado a um menino o segredo que ninguém conheceu, sobre o castigo que viria e as condições para a implantação de uma era histórica em que Ela reinaria sobre a terra.
É verdade que os três pastorzinhos falaram ao mundo em declarações explícitas e fizeram um convite à humanidade, mas também é real que esse menino não era chamado apenas a falar ao mundo, mas a batalhar pela construção de um novo mundo.
E a mensagem cujo significado as crianças da Cova da Iria talvez não entendessem por completo, o menino de São Paulo compreendeu perfeitamente, ajudado pelos dons com os quais o cumulara a Providência.
Ele amou essa palavra interior, aderiu com toda sua alma à Santa Igreja, bem como à ordem do universo, atacada e ferida pelo pecado, e disse mais uma vez: “Serei contra esse mundo!”
Em outros termos, pode-se afirmar que, enquanto anunciava em Portugal o triunfo do seu Imaculado Coração, Nossa Senhora já preparava no Brasil a execução desse grandioso e profético desígnio.
Extraído, com pequenas adaptações, de: O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Città del Vaticano-São Paulo: LEV; Lumen Sapientiæ, 2016, v.I, p.328-334